Aqueduto da Água da Prata
near Évora, Évora (Portugal)
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Itinerary description
"Eis a nobre Cidade, certo assento
Do rebelde Sertório antigamente,
Onde ora as águas nítidas de argento
Vem sustentar de longo a terra e a gente,
Pelos arcos reais, que cento e cento
Nos ares se alevantam nobremente,
Obedeceu por meio e ousadia
De Giraldo, que medos não temia.
Lusíadas, canto III estrofe 63
A monumentalidade e beleza arquitetónica ofertada a quem, deslocando-se à volta de Évora pela Circular à Muralha, sob aquele colosso passa, é sobejo motivo para pensar de onde virão as "nítidas águas de argento" que ainda hoje sustentam a cidade de Sertório?...
Esta é razão tão boa como qualquer outra. Por isso...Cá vamos!...
Por conveniência, a rotunda dos Rotary Internacional é o ponto de início. A ONG fundada por Paul Harris em 1910, que conta com mais de um milhão e duzentos mil membros promotores de valores éticos e prestadores serviços humanitários, fez questão de se auto promover, ofertando à cidade um belo e expressivo monumento, que jaz bem no centro desta rotunda.
Seguindo pela Av. Arquiteto Rui Couto vamos ao encontro do nosso monumento que não tardamos a vislumbrar no cruzamento com a R114-4 (estrada de Arraiolos).
À nossa direita vêem-se, atravessados pelo Aqueduto, os bélicos muros do Forte de Santo António da Piedade, mandado construir por D. João IV, no contexto da Guerra da Restauração e destinado à proteção do Convento de Santo António da Ordem da Piedade dos Frades Capuchos. A visita ao forte, pelo tardio da hora e o muito que há para caminhar, fica para outra ocasião.
Não conseguindo chegar perto do aqueduto, por este passar onde não devia ou nós poder não devamos porque de propriedade privada se trata, andamos em paralelo uma centena de metros pela R114-4. Eis que à nossa direita aparece agora uma bela alameda ladeada de antigos muros e plátanos. Ao fundo o Aqueduto e, implantado num arco dos seus arcos, encontra-se um portão que, por se encontrar aberto, nos permite aceder à portaria do Mosteiro da Cartuxa. A placa "CLAUSURA" dá-nos conhecimento da solidão piedosa de oração que é a vida de quem este mosteiro habita e tira-nos a vontade de perturbar o silêncio - orai por nós.
Meia volta e voltamos à estrada que é a de Arraiolos mas o tapete não é de lã. O aqueduto segue à nossa direita em terrenos que nos continuam a negar o acesso. Ao longe vê-se uma estrutura que presumimos ser uma mãe d'água já que dali deriva um canal para o mosteiro. Vê-se agora, distante e diante, o aqueduto a atravessar a estrada por onde seguimos. Percorremos mais um cento e meio de metros para aproximar os arcos que ansiando vínhamos para ver de perto. Aqui, contrariando o sentido em que correm, começamos a seguir o percurso das águas de argento. A torrinha que embeleza o pilar central, com motivos manuelinos na cúpula, apresenta dois nichos com imagens de S. Bruno e S. Bento. A preocupação estética do arquiteto foi muito além da simples utilidade do monumento.
Olhando ora os altos arcos ora os campos que nos ladeiam, vamos seguindo por um carreiro entre vedações de arame. O aqueduto ora cresce ora mingua conforme o terreno baixa ou sobe. Vários são os pontos de visita do aqueduto e os respiradouros. Quando o aqueduto se baixa permite-nos apreciar a pedra tosca que cobre o leito e que, segundo informação lida no caminho, era recolhida na zona.
Estamos agora a chegar ao Convento de S. Bento de Cástris e perdemos o aqueduto que segue enterrado. Um cruzeiro na encruzilhada com a base semidestruída chama-nos a atenção por parecer muito antigo. Nada nos diz o que gostaríamos de saber da sua origem e motivação. Seguimos em direção ao convento sem intenção de nele entrar. Sabemos que vale uma visita mas o tempo escasseia. Contornamos pela direita seguindo ao lado dos altos muros com esperança que a informação de caminho sem saída apenas se destine a viaturas. Em breve, dois portões vedam-nos as intençōes e o caminho. Voltamos atrás e vendo um respiradouro num terreno baldio, para lá de um improvisado campo de futebol, a ele nos dirigimos em linha reta. O aqueduto passa aqui. Atravessamos uma vez mais a R114-4 e a busca do aqueduto perdido leva-nos pela estrada da Manizola direito a um casarão que, imaginamos, terá tido tão belos dias quanto belas seriam suas paredes e mobílias. Hoje jaz abandonado com um ar sombrio próprio de filmes de terror. Mas ainda exibe a sua beleza para quem tiver imaginação suficiente para a apreciar. Franqueado a entrada procuramos uma saída a noroeste contornando o edifício. Um grande tanque de água para dar de beber a animais é indicativo da azáfama que outrora teriam esta casa e herdade. Passamos uma cancela improvisada desatando o cordel que a prendia que voltámos a atar depois de franqueada. Não tarda que avistemos o "nosso" aqueduto seguindo à nossa esquerda, em propriedade privada que, uma vez mais, nos veda o acesso.
Explorando caminhos que passam por montados de sobro e azinho, procuramos aproximar-nos do monumento que vimos perseguindo. Passamos ruínas, passamos prados, atravessamos um arroio sêco, apreciamos o portão da Quinta do Corregedor e pensamos que, fora uns anitos antes, o dono da quinta teria sido Meirinho Mor que é um nome muito mais interessante que Corregedor. Antes que nos sujeitemos à correjeição, avancemos...
Ora cá está de novo o Aqueduto. Não mais o deixaremos até onde ele vai beber as águas que por Graça do Divor ali nascem. Quase sempre apertados entre duas vedações de rede, fomos apreciando arcos, respiradouros, pontos de visita e passadiços com postigo por baixo onde só de gatas se pode passar, que dão acesso a terrenos e moradias a quem por cima passa. Claro que não nos querendo baixar demasiado acabamos por fazer, como muitos antes de nós, o contorno por trilho forçado. passamos o acesso à Fonte do Arcediago que não temos tempo para visitar porque o sol baixa cá a uma velocidade no horizonte... a seguir uma capela que não temos tempo para documentar. Olhamos para o GPS e temos a informação de que se trata da Igreja de São Xulybert. Que raio de nome! não acredito. Sigamos. Mais à frente um bucólico recanto apresenta um engenho antigo sobre um poço. Já são raros por isso interessantes estes artefatos que permitiam elevar a água em quantidade com um esforço aceitável dos animais que ficavam tontos de tantas voltas dar. Quem olha para antigamente dirá que a vida era uma tonteira. Eu digo que era uma saudável tonteira.
Demos graças porque chegámos à Graça do Divor. Vêem-se alguns respiradouros e pontos de acesso às minas. Aqui nascem as argentas águas.
Data de 1606 (reinado de Filipe I de Portugal) a primeira descrição do aqueduto que destas nascente diz assim:
"…a primeira água que entra no cano Real, é nas minas onde ele tem seu princípio, que está na herdade de Rui Lopes Lobo, além da igreja de nossa Senhora da Graça do Divor […] estas minas têm dois canos apartados em dois braços muito bem feitos […] tem três palmos de largura, e seis de alto, com suas paredes de pedra e cal, coberto por cima de grandes pedras bem lavradas […] e como a água há-se ir ao nível, vão os canos em terra alta por baixo dela, as vezes em 25 palmos, e em partes em 30 palmos […] estes canos […] a certos passos tem luminarias para dar claridade a quem os visitar por dentro, tirando-lhe as pedras que as cobrem …"
Pronto. Resta-nos agora regressar a Évora. Como perto passa a Ciclovia implantada no leito do ramal ferroviário de Mora, por ele buscamos e seguimos. O percurso de regresso é agradável considerando que já noite o fizemos e em nada tropeçámos e também pouco podemos apreciar à exceção de um belo entardecer.
Chegámos a Évora e reencontrámo-nos com o nosso "romântico" Aqueduto, que mais belo ainda parece à luz das luminárias da cidade.
Belo passeio este! prometo voltar.
Do rebelde Sertório antigamente,
Onde ora as águas nítidas de argento
Vem sustentar de longo a terra e a gente,
Pelos arcos reais, que cento e cento
Nos ares se alevantam nobremente,
Obedeceu por meio e ousadia
De Giraldo, que medos não temia.
Lusíadas, canto III estrofe 63
A monumentalidade e beleza arquitetónica ofertada a quem, deslocando-se à volta de Évora pela Circular à Muralha, sob aquele colosso passa, é sobejo motivo para pensar de onde virão as "nítidas águas de argento" que ainda hoje sustentam a cidade de Sertório?...
Esta é razão tão boa como qualquer outra. Por isso...Cá vamos!...
Por conveniência, a rotunda dos Rotary Internacional é o ponto de início. A ONG fundada por Paul Harris em 1910, que conta com mais de um milhão e duzentos mil membros promotores de valores éticos e prestadores serviços humanitários, fez questão de se auto promover, ofertando à cidade um belo e expressivo monumento, que jaz bem no centro desta rotunda.
Seguindo pela Av. Arquiteto Rui Couto vamos ao encontro do nosso monumento que não tardamos a vislumbrar no cruzamento com a R114-4 (estrada de Arraiolos).
À nossa direita vêem-se, atravessados pelo Aqueduto, os bélicos muros do Forte de Santo António da Piedade, mandado construir por D. João IV, no contexto da Guerra da Restauração e destinado à proteção do Convento de Santo António da Ordem da Piedade dos Frades Capuchos. A visita ao forte, pelo tardio da hora e o muito que há para caminhar, fica para outra ocasião.
Não conseguindo chegar perto do aqueduto, por este passar onde não devia ou nós poder não devamos porque de propriedade privada se trata, andamos em paralelo uma centena de metros pela R114-4. Eis que à nossa direita aparece agora uma bela alameda ladeada de antigos muros e plátanos. Ao fundo o Aqueduto e, implantado num arco dos seus arcos, encontra-se um portão que, por se encontrar aberto, nos permite aceder à portaria do Mosteiro da Cartuxa. A placa "CLAUSURA" dá-nos conhecimento da solidão piedosa de oração que é a vida de quem este mosteiro habita e tira-nos a vontade de perturbar o silêncio - orai por nós.
Meia volta e voltamos à estrada que é a de Arraiolos mas o tapete não é de lã. O aqueduto segue à nossa direita em terrenos que nos continuam a negar o acesso. Ao longe vê-se uma estrutura que presumimos ser uma mãe d'água já que dali deriva um canal para o mosteiro. Vê-se agora, distante e diante, o aqueduto a atravessar a estrada por onde seguimos. Percorremos mais um cento e meio de metros para aproximar os arcos que ansiando vínhamos para ver de perto. Aqui, contrariando o sentido em que correm, começamos a seguir o percurso das águas de argento. A torrinha que embeleza o pilar central, com motivos manuelinos na cúpula, apresenta dois nichos com imagens de S. Bruno e S. Bento. A preocupação estética do arquiteto foi muito além da simples utilidade do monumento.
Olhando ora os altos arcos ora os campos que nos ladeiam, vamos seguindo por um carreiro entre vedações de arame. O aqueduto ora cresce ora mingua conforme o terreno baixa ou sobe. Vários são os pontos de visita do aqueduto e os respiradouros. Quando o aqueduto se baixa permite-nos apreciar a pedra tosca que cobre o leito e que, segundo informação lida no caminho, era recolhida na zona.
Estamos agora a chegar ao Convento de S. Bento de Cástris e perdemos o aqueduto que segue enterrado. Um cruzeiro na encruzilhada com a base semidestruída chama-nos a atenção por parecer muito antigo. Nada nos diz o que gostaríamos de saber da sua origem e motivação. Seguimos em direção ao convento sem intenção de nele entrar. Sabemos que vale uma visita mas o tempo escasseia. Contornamos pela direita seguindo ao lado dos altos muros com esperança que a informação de caminho sem saída apenas se destine a viaturas. Em breve, dois portões vedam-nos as intençōes e o caminho. Voltamos atrás e vendo um respiradouro num terreno baldio, para lá de um improvisado campo de futebol, a ele nos dirigimos em linha reta. O aqueduto passa aqui. Atravessamos uma vez mais a R114-4 e a busca do aqueduto perdido leva-nos pela estrada da Manizola direito a um casarão que, imaginamos, terá tido tão belos dias quanto belas seriam suas paredes e mobílias. Hoje jaz abandonado com um ar sombrio próprio de filmes de terror. Mas ainda exibe a sua beleza para quem tiver imaginação suficiente para a apreciar. Franqueado a entrada procuramos uma saída a noroeste contornando o edifício. Um grande tanque de água para dar de beber a animais é indicativo da azáfama que outrora teriam esta casa e herdade. Passamos uma cancela improvisada desatando o cordel que a prendia que voltámos a atar depois de franqueada. Não tarda que avistemos o "nosso" aqueduto seguindo à nossa esquerda, em propriedade privada que, uma vez mais, nos veda o acesso.
Explorando caminhos que passam por montados de sobro e azinho, procuramos aproximar-nos do monumento que vimos perseguindo. Passamos ruínas, passamos prados, atravessamos um arroio sêco, apreciamos o portão da Quinta do Corregedor e pensamos que, fora uns anitos antes, o dono da quinta teria sido Meirinho Mor que é um nome muito mais interessante que Corregedor. Antes que nos sujeitemos à correjeição, avancemos...
Ora cá está de novo o Aqueduto. Não mais o deixaremos até onde ele vai beber as águas que por Graça do Divor ali nascem. Quase sempre apertados entre duas vedações de rede, fomos apreciando arcos, respiradouros, pontos de visita e passadiços com postigo por baixo onde só de gatas se pode passar, que dão acesso a terrenos e moradias a quem por cima passa. Claro que não nos querendo baixar demasiado acabamos por fazer, como muitos antes de nós, o contorno por trilho forçado. passamos o acesso à Fonte do Arcediago que não temos tempo para visitar porque o sol baixa cá a uma velocidade no horizonte... a seguir uma capela que não temos tempo para documentar. Olhamos para o GPS e temos a informação de que se trata da Igreja de São Xulybert. Que raio de nome! não acredito. Sigamos. Mais à frente um bucólico recanto apresenta um engenho antigo sobre um poço. Já são raros por isso interessantes estes artefatos que permitiam elevar a água em quantidade com um esforço aceitável dos animais que ficavam tontos de tantas voltas dar. Quem olha para antigamente dirá que a vida era uma tonteira. Eu digo que era uma saudável tonteira.
Demos graças porque chegámos à Graça do Divor. Vêem-se alguns respiradouros e pontos de acesso às minas. Aqui nascem as argentas águas.
Data de 1606 (reinado de Filipe I de Portugal) a primeira descrição do aqueduto que destas nascente diz assim:
"…a primeira água que entra no cano Real, é nas minas onde ele tem seu princípio, que está na herdade de Rui Lopes Lobo, além da igreja de nossa Senhora da Graça do Divor […] estas minas têm dois canos apartados em dois braços muito bem feitos […] tem três palmos de largura, e seis de alto, com suas paredes de pedra e cal, coberto por cima de grandes pedras bem lavradas […] e como a água há-se ir ao nível, vão os canos em terra alta por baixo dela, as vezes em 25 palmos, e em partes em 30 palmos […] estes canos […] a certos passos tem luminarias para dar claridade a quem os visitar por dentro, tirando-lhe as pedras que as cobrem …"
Pronto. Resta-nos agora regressar a Évora. Como perto passa a Ciclovia implantada no leito do ramal ferroviário de Mora, por ele buscamos e seguimos. O percurso de regresso é agradável considerando que já noite o fizemos e em nada tropeçámos e também pouco podemos apreciar à exceção de um belo entardecer.
Chegámos a Évora e reencontrámo-nos com o nosso "romântico" Aqueduto, que mais belo ainda parece à luz das luminárias da cidade.
Belo passeio este! prometo voltar.
Waypoints
Photo
1,142 ft
Fachada da Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli vista através do gradeamento da portaria
Photo
1,160 ft
O Aqueduto junto ao mosteiro com os arcos emparedados para preservar a clausura dos monges
Photo
1,147 ft
Será Mãe d'água?
A noroeste do Mosteiro da Cartuxa existe, no aqueduto, uma estrutura monumental a que não conseguimos aceder. Sabendo que o aqueduto ramificava para o mosteiro naquele ponto, presumimos que seria uma mãe d'água.
Photo
1,147 ft
Torrinha entre os arcos por onde passa a estrada de Arraiolos
Esta torrinha tem uma cúpula com detalhes manuelinos e nichos com as imagens de S. Bruno e S. Bento. Mal estimada a torrinha como a maioria das artes do aqueduto. Pena...
Photo
1,147 ft
Os arcos vão baixando e a colina subindo. Para o asno é indiferente que suba ou desça
Photo
1,172 ft
Texto explicativo do tipo de rochas utilizadas na construção
É pena que estes painéis estejam tão deteriorados.
Photo
1,187 ft
A pedra rusticamente trabalhada cobre o aqueduto nestas zonas de menor visibilidade pública
Photo
1,198 ft
Mais um painel explicativo muito interessante, infelizmente sem a resistência demonstrada pelo aqueduto.
Comments (4)
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Foi tão agradável esta caminhada que me esqueci que o Wikiloc limita o número de Waypoints pelo que a partir de determinada altura as fotos ficaram apenas no meu telemóvel. Mas, digo-vos, vale mesmo a pena fazer e apreciar todo o trilho. O entardecer sobre a ciclo via foi estupendo. O Céu encheu-se de cores avermelhadas, púrpura e azul escuro. A chegada e Évora e o reencontro com o Aqueduto à noite é divinal. Experimentem.
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Information
Easy to follow
Scenery
Moderate
Caminho fantastico.
Feito a um ritmo lento com paragem para almoço demorei 4h30.
Obrigado Bastiaz pela avaliação. Espero que lhe tenha dado tanto gozo quanto me deu a mim.
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Information
Easy to follow
Scenery
Easy
Very nice landscapes, a different angle to Evora. Nice trail with lots of cork and olive trees and all kind of farm animals. Super easy to follow :) I was afraid that coming back would be a lot of road but Evora now has a cycling/walk lane not attached to the road so it was ok.