Caminho de Santiago (Caminho Português - Central): Valença - Santiago de Compostela (Abril 2022)
near Valença, Viana do Castelo (Portugal)
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Trail photos
Itinerary description
Caminho de Santiago (Caminho Português) - Etapa 1: Valença - O Porriño
Caminho de Santiago (Caminho Português) - Etapa 2: O Porriño - Redondela
Caminho de Santiago (Caminho Português) - Etapa 3: Redondela - Pontevedra
Caminho de Santiago (Caminho Português) - Etapa 4: Pontevedra - Caldas de Reis
Caminho de Santiago (Caminho Português) - Etapa 5: Caldas de Reis - Padrón
Caminho de Santiago (Caminho Português) - Etapa 6: Padron - Santiago de Compostela
Santiago de Compostela (Centro Histórico)
A peregrinação jacobeia a partir de Portugal, ainda que presumivelmente já existisse na época da Alta Idade Média, intensifica-se a partir da independência do país em meados do século XII. Desde então, o culto jacobeu e a peregrinação a Compostela, considerada como uma das marcas de identidade da cultura europeia, tiveram em terras lusitanas uma projecção muito importante. Durante séculos, o povo Português contribuiu para esta experiência colectiva com altos níveis de participação, sempre apoiado com singular fortuna pelo exemplo de reis, nobres e altos clérigos. Basta recordar que a maior parte da rede viária de Portugal foi testemunha, do século XII até aos nossos dias, do caminhar de peregrinos originários dos diversos núcleos populacionais do país —Lisboa, Santarém, Coimbra, Porto, Braga, Chaves...— até à meta compostelana. As suas motivações eram primordialmente religiosas. No entanto, graças a este denso e secular fluxo de pessoas que povoaram os caminhos de Santiago criados entre Portugal e Galiza, estabeleceram-se também fecundos laços de intercâmbio cultural, económico e de pensamento.
A configuração do Caminho Português na Galiza contará com uma dinâmica histórica de diversa índole. Pontes, capelas rurais, santuários, cruzeiros, paços e cidades históricas vão-se desenrolando ao longo de uma rota que nasce nas margens do rio Minho, na cidade de Tui, para concluir diante do sepulcro jacobeu. Ainda que esta via de peregrinação não tenha significado a formulação e criação de um repertório monumental de uma época determinada -românica ou barroca- num espaço artístico integrado, o Caminho Português na Galiza constitui uma rota de notáveis evidências monumentais, com fortes realidades culturais que vão mais além do arquitectónico e do que concerne a museus, para significar um espaço de privilégio -um dos de maior potencial histórico e artístico da Galiza- através do qual a riqueza da História nos foi legando o mais notável de cada época. O Caminho Português na Galiza, no seu suave decorrer em direcção a norte, faz uso de trajectos antigos que cruzam bosques, terras de labor, aldeias, vilas e cidades históricas. Caminhos que saltam cursos de água através de pontes -algumas de origem romana- de inequívoca construção medieval. Caminhos enriquecidos pela presença de capelas, igrejas, conventos, alminhas e cruzeiros, nos quais não falta a confortadora imagem de Santiago Peregrino, acompanhando o romeiro e animando-o no seu caminhar.
A hospitalidade das gentes é proverbial. A acolhida ao peregrino é uma das marcas de identidade da peregrinação jacobeia. Iniciada na Idade Média por monges e clérigos nos hospitais fundados por reis e nobres, são hoje os hospedeiros dos albergues de peregrinos os habitantes das actuais povoações quem mantém a bela e secular tradição. Cada indivíduo que vive na zona do Caminho Português sente a devoção a Santiago e anima os esforços daqueles que caminham em direcção a Compostela seguindo os velhos trajectos que conformam esta rota jacobeia; caminhos que são herdeiros de uma das mais importantes vias romanas que vertebraram a Gallaecia romana e continuaram em vigência durante muitos séculos: a Via XIX, construída no século I d.C., em tempos de Augusto, conhecida nas fontes classicas como o chamado Itinerario de Antonino, composto a principios do seculo III d.C., na época de Caracalla. Este testemunho tão antigo assegura a vitalidade desta via em datas tão remotas. 0 Caminho Português manterá desde a ldade Média a herança de intercâmbio entre povos vizinhos e irmaos que o caminho romano inaugurou na Antiguidade.
Apesar desta memoria histórica tão significativa, a realidade viária dos nossos dias impõe-se no Caminho Português. Em certas ocasiões, os peregrinos têm que esquecer as sendas de terra e pedra, para caminhar pela berma da estrada N-550, Vigo - A Corunha. O traçado desta estrada foi-se sobrepondo a boa parte da rota portuguesa do Caminho de Santiago. Para a peregrinação tradicional isto supõe uma certa incomodidade. No entanto, trata-se de uma inconveniência passageira e pontual que resulta perfeitamente compensada no momento da conclusão de cada uma das distintas etapas deste trajecto de devoção, arte e cultura, possuidor de uma força monumental e ecológica fora de qualquer dúvida.
Fonte: "Francisco Sigul, O Caminho Português, Xacobeo Galicia - Xunta de Galicia"
Waypoints
Valença - Centro Histórico
Valença - Centro Histórico ETAPA 1: Durante séculos, os peregrinos procedentes de Portugal acediam à cidade de Tui cruzando o rio Minho em barca. Em 1884, a construção da ponte Internacional ofereceu-lhes uma passagem pedonal que não desdenharam. A partir da ponte, o traçado dirige-se em direcção ao porto tudense de Lavacuncas, onde se produzia antigamente o desembarque de peregrinos, situado por trás do actual Parador de Turismo. Do velho porto, o traçado dirige-se para a parte histórica de Tui seguindo o denominado Caminho da Barca, para continuar pelas ruas Obispo Maceira, Costa do Pifieiral e Tras da Obra. Na praça do Consistório, adjacente à catedral, está o Museu Diocesano de Tui-Viga, organizado no antigo hospital de peregrinos que tinha patrocinado, em meados de XVIII, o bispo Castañón. Trata-se de um centro do maior interesse por contar com uma esplêndida colecção de escultura sacra e ourivesaria litúrgica que vai dos séculos XIII ao XVIII. O Caminho Português continua pela Rua das Monxas, à sombra dos muros do convento das clarissas, as "Encerradas". Possui uma bela igreja de nave única de finais do século XVII, com um retábulo maior do escultor Domingo de Torneios, de princípios de XVIII. A rota passa pelo Túnel das Monxas, desce uns degraus e chega ao sítio onde estava a Porta Bergana, um dos acessos à cidade medieval, Deixando atrás esta porta evocada, continua-se pelas ruas Obispo Lago e Antero Rubín, até à igreja de Santo Domingo de Tui (s. XIV), construída com as características próprias do gótico mendicante: planta de cruz latina, cruzeiro com ressalte e cabeceira de três capelas poligonais cobertas por abóbadas nervadas e iluminadas por altos vãos geminados. Destaca o retábulo da Virgem do Rosário, de 1741, chamado "da Batalha de Lepanto", pela inédita presença de tal acontecimento bélico ocupando todo o seu ático. As ruas Antonio Valino e de San Bartolomé conduzem até à igreja românica de San Bartolomé de Rebordáns. Foi construído como templo monástico em finais do século XI e conta com planta de três naves e três absides. Na capela maior há murais dos finais do século XVI sobre a Paixão do Senhor. Neste antigo mosteiro encontrou hospitalidade, a princípios de XII, o prelado compostelano Diego Gelmírez quando trasladava as relíquias de Braga para a catedral de Santiago. Deixando atrás esta jóia do Caminho Português, a rota decorre, durante algum tempo, pela estrada N-550 até à capela da Virxe do Camifio. Desde este ponto, a estrada local de Paredes de Abaixo conduz até à evocadora Ponte de San Telmo, chamada Ponte das Febres. Aqui apresentam-se duas opções: continuar o caminho que surge diante da ponte, de difícil trânsito no inverno, ou tomar o da esquerda, dando uma pequena volta. As duas possibilidades levam até ao lugar de A Madalena. Continuando muito perto da igreja de Santa, Columba de Ribadolouro, o Caminho ultrapassa a ponte de Orbenile. Deixando a poente as Gàndaras de Budlik, atravessa um polígono industrial aproveitando um antigo sendeiro que decorre por zonas mais baixas. A capela de A Virxe da Guia indica a proximidade de O Porrino.
Ponte Rodo-Ferroviária de Valença sobre Rio Minho
Ponte Rodo-Ferroviária de Valença sobre Rio Minho
Catedral de Tui
A catedral de Santa María de Tui é obra românica e gótica, cujas capelas e naves se engalanam com retábulos, imagens e pinturas dos séculos XVI-XVIII. Começou a ser edificada entre 1145-75, seguindo pautas do modelo da catedral compostelana. Após várias transformações e mudanças de plano, este românico de pura estirpe é só visível nos braços do cruzeiro, divididos em três naves, e na portada norte. A seguinte campanha de obras, desenvolvida entre 1180 e 1200, continuou nas naves maiores. O final foi feito já sob o estilo gótico, nas primeiras décadas do século XIII, empregando pilares fasciculados, abóbadas de cruzaria de ogivas, trifólios com arcos apontados, nas naves centrais do transepto e do braço maior da cruz. Na fachada, inicia-se a escultura gótica espanhola. Em 1225, começou a lavrar-se a portada principal com 2-tistas de Laon e Chartres (duas catedrais góticas de França). Os suportes que sustêm as arquivoltas ogivais são estátuas-colunas que representam, à esquerda, Moisés, São Pedro, Isaías e São João Baptista; à direita está o casal real de Salomão e a Rainha de Sabá, acompanhados pelos profetas Daniel e Jeremias; este último sustém um Crucifixo —culminação e síntese da Paixão do Senhor—, o primeiro da arte gótica hispânica. O tímpano divide-se em três registos. Nos inferiores, sucedem-se as cenas da Anunciação, o Nascimento de Jesus, o Anúncio aos Pastores, o encontro dos Magos com Herodes e a Epifania. Uma primeira parte do programa iconográfico da portada está dedicada à exaltação mariana, com a Coroação da Virgem, efectuada pelos anjos nos episódios da Infância de Jesus: A Natividade, no centro do dintel, e a Epifania, no registo do meio. No registo superior do tímpano, as arquitecturas de uma cidade simbolizam a Jerusalém Celeste, pressupondo o anúncio do Final. A ideia unificadora da obra, a mensagem central do relato esculpido, é a comunhão entre Cristo e a sua Igreja, concebida desde a Redenção. A catedral tem um claustro da segunda metade do século XIII cujo estilo está influenciado pela arquitectura cisterciense do mosteiro de Oia (Pontevedra). É o único claustro medieval completo que conserva uma catedral galega, com maior valor ainda por possuir parte da sala capitular românica do século XII. No interior, destacam-se várias capelas do século XV: a capela maior e as laterais, dedicadas a São Pedro e Santiago, a capela de Santo André e a capela-museu de Santa Catalina. A capela de Santiago tem um retábulo de 1696 dedicado a Matamouros, obra do escultor tudense José Dominguez Bugarin, que integra um relevo de Santiago a Cavalo, de finais do século XVI, do mesre Alonso Martínez. Da época Barroca há que citar também a capela de San Telmo, com o seu retábuçp-relicário, o cadeirado do coro, obra do escultor Castro Canseco, de princípios do século XVIII, e as caixas dos órgãos, talhadas em 1714 por Domingo de Torneios; têm como remate as imagens equestres de São Telmo e Santiago. Na praça do Consistório, adjacente à catedral, está o Museu Diocesano de Tui-Viga, organizado no antigo hospital de peregrinos que tinha patrocinado, em meados de XVIII, o bispo Castañón. Trata-se de um centro do maior interesse por contar com uma esplêndida colecção de escultura sacra e ourivesaria litúrgica que vai dos séculos XIII ao XVIII.
O Porriño - pormenores
Etapa 2: O Porriño - Redondela Atravessa-se a vila pela praça de San Sebastián e praça do Concello, para chegar rapidamente às imediações da capela das Angústias. Dois quilómetros a norte, cruza-se a N-550 e o rio Louro para, superado o Palácio de Mos, empreender a subida da rua dos Cabaleiros. Por Enxertade, com o vale a nascente, chega-se, subindo ligeiramente, à capela de Santiaguiño de Antas, um aprazível lugar em que bem merecemos um descanso. Logo, passando ante o miliário romano de Vilar de Enfesta ou de Saxamonde, atravessa-se a meseta de Chan das Pipas. Seguindo a via romana, o traçado incorpora-se de novo à N-550, internando-se em Redondeia à altura do convento de Vilavella. Em Redondeia, a rota decorre pela rua Padre Crespo, praça de A Farola e praça de A Alfóndiga, antes de chegar à igreja de Santiago, cuja origem remonta a tempos de Gelmírez, ainda que tenha sido reedificada no século XVI, com nave única coberta por abóbadas de cruzaria de ogivas e cabeceira poligonal que sustém uma bela cobertura estrelada. O albergue da vila, situado num edifício histórico do século XVI denominado 'Casa da Torre', é um dos principais do Caminho Português.
Bar e Albergue - Corisco
Nesta paragem, tivémos a sorte de encontrar uma deliciosa "Empanada Galega", acabadinha de sair do forno, que nos reconfortou o estômago, até ao destino final da Etapa.
Albergue de Peregrinos - Casa Torre
Etapa 3: Redondela - Pontevedra À saída de Redondela, passada a ponte de caminho de ferro, a rota prossegue num bosque. A sinalização conduz até às ruínas de uma das casas de posta que marcavam a rota. Perto está Sotoxusto. Rodeados de pinheiros, desce-se pelo lugar de Setefontes para atravessar Arcade pelas típicas ruas Lavandeira, Cimadevila, Velero, Barrancos e Coutada e chega-se à histórica Pontesampaio: o Caminho cruza o rio Verdugo pela ponte onde, na Guerra da Independência, se produziu uma das maiores derrotas do exército napoleónico na Galiza, às mãos do povo armado. A rota sai da ponte e percorre a vila de Pontesampaio, subindo por uma estreita e empedrada rua que surge à esquerda. Por ela se abandona o núcleo urbano. Faz-se uma paragem em Santa María de Pontesampaio (s. XIII), bom exemplo do românico rural; conserva os muros da nave, as suas portas laterais, com arquivoltas de meio ponto e tímpano, e presbitério rectangular coberto com abóbada de canhão apontado. Cruzando a estrada do cemitério, depressa aparece a velha "pontella" de A Ponte Nova. Ela conduz à Verea Vella da Canicouva, antiquíssimo caminho empedrado. A encruzilhada que presidia o cruzeiro de Cacheiro dá lugar aos restos de outra casa de posta. O Caminho acerca-se a Santa Marta de Gandarón, deixando atrás os lugares de Boullosa e Bértola. Por asfalto, num trajecto de três quilómetros, já se alcança Pontevedra. Entra-se na cidade pelo caminho de Gorgullón e Virxe do Camião. Pontevedra possui um dos conjuntos históricos e artísticos mais belos da Galiza. Chega-se até ele pela rua Benito Corbal, que conduz à praça de A Peregrina, onde está o santuário da Virgem Peregrina (s. XVIII), um dos pontos de referência para as devoções dos peregrinos. A sugestiva igreja foi concebida em 1778 pelo arquitecto Arturo Souto com planta em forma de concha de vieira. Trata-se de um templo da Ilustração, com elementos decorativos de tradição barroca. O solene retábulo da Virgem é obra do arquitecto académico Melchor de Prado, que o projectou em 1789. Não muito longe —ao final da rua Michelena—encontram-se as evocadoras ruínas do convento de Santo Domingo (séculos XIV-XV). A sua igreja era o maior dos templos dominicanos galegos. Tinha nave única e cobertura de madeira com duas águas, cruzeiro com ressalte e tecto de madeira, e três absides poligonais com abóbadas nervadas e rasgadas janelas, com mainéis e pontiagudas. Por fortuna, conservam-se ainda de pé as cinco absides abobadadas da cabeceira, o transepto e boa parte da sala capitular. Na actualidade, forma parte do Museu de Pontevedra. O Caminho conduz da Peregrina à imediata Ferrería, praça embelezada com os Jardins de Casto Sampedro, a bela Fonte da Ferrería (s. XVI) e a igreja conventual de San Francisco (s. XIV), construída com as características próprias do gótico mendicante. Na sua capela maior encontram-se vários sepulcros, da Baixa Idade Média, de nobres locais. Destaca-se o de Payo Gómez Charino, almirante de Castela e poeta eminente do século XIII. Numa das suas cantigas de amor aparece uma excepcional referência ao apóstolo Santiago: Ai, Sant'lago, padrom sabido / vós mi-adugades o meu amigo! / sobre mar vem quem frores d'amor tem: / mirarei, madre, as torres de Geen / Ai Sant'iago, padrom provado, / vós mi-adugades o meu amado! / sobre mar vem quem frores dámor tem: / mirarei, madre, as torres de Geen. O Caminho Português continua em Pontevedra pela rua Soportales, dolm Alrá' a brasonada praça de Teucro e segue pela rua Real, rixo principal desta rota de peregrinação no traçado urbano da cidade do Lérez. O peregrino não pode deixar de visitar o Museu de Pontevedra. Os seus fundamentos encontram-se em vários edifícios históricos da cidade. São de destacar a colecção de ourivesaria pré-romana, as suas salas de pintura e gravados e a sala de azeviches compostelanos, uma das melhores de Espanha. Na zona norte do casco histórico está a basílica de Santa María A Grande, templo patrocinado pelo grémio de mareantes de Pontevedra no século XVI. Possui uma bela arquitectura onde se conjuga o último gótico com as tendências renascentistas. Deram-lhe as suas traças os mestres Juan de los Cuetos e Diego Gil. Tem planta basilical de três naves separadas por pilares góticos. No seu interior coexistiram celebrações litúrgicas e reuniões gremiais dos marinheiros. As abóbadas estreladas que cobrem as naves foram terminadas em 1559. A fachada tem aspecto de retábulo pétreo. Realizaram-na, a meados do XVI, os escultores Cornielles de Holanda, de origem flamenga, e o português João Nobre. O seu programa iconográfico está dedicado à exaltação da Virgem e da Igreja. Os episódios centrais são o Trânsito de Maria e, sobre o rosetão, a Assunção e a Coroação da Virgem, assistida pela Trindade. No remate está o Calvário, momento culminante da Paixão do Senhor, através da qual se logra a Redenção do género humano. Em ambos os lados da porta principal estão São Pedro e São Paulo, pedras angulares do Edifício da Igreja. Quando os fiéis passam através deste arco de triunfo, opera-se a união com Cristo através da sua Igreja.
Igrexa da Virxe Peregrina
Etapa 4: Pontevedra - Caldas de Reis O Caminho abandona Pontevedra pela rua da Santiña. Deixando à direita do traçado um sossegado castanhal, a rota decorre paralela à via do caminho de ferro até ao lugar de Pontecabras, prosseguindo rumo ao norte até alcançar, entre pinheiros e eucaliptos, a igreja e reitoria de Santa María de Alba. Daqui o Caminho segue em direcção a Goxilde, lugar onde fez uma paragem Diego Gelmírez no seu trajecto de Braga a Compostela. Passada a capela de San Caetano, esperam-nos os profundos bosques de Reirís e Lombo da Maceira. De San Mauro continua-se por San Mamede da Portela e Ponte Valbón, passando diante do cruzeiro de Amonisa, em cujo fuste Santiago Peregrino indica o Caminho aos seus romeiros. A partir de Ponte Valbón, até a capela de Santa Lucía, em Briallos, a rota transcorre muito placidamente, ainda que seja preciso atender à sinalização devido às encruzilhadas e contínuos ziguezagues que oferece o trecho. Há que destacar neste trajecto a pequena igreja de San Martín de Agudelo, em Barro, de princípios do século XIII. O templo mostra até onde chegou, no meio rural, a influência da oficina do Mestre Mateo, Os ecos da sua arte aparecem nas de meio ponto da sua portada, decoradas com temática vegetal herdeira do Pórtico da Glória. No tímpano, há a imagem lavrada de um personagem com báculo e em atitude de bendizer (possivelmente San Martín bispo). O formoso núcleo de Tibo, com boa fonte, dá lugar a Caldas de Reis, a Aquae Celenis do Itinerário de Antonino, banhada pelos rios Umia e Bermana. Destaca a igreja de Santa María de Caldas, construção de sólido cadeirado de princípios do século XIII. Na sua portada, aprecia-se a influência da oficina do Mestre Mateo: o Agnus Dei do tímpano está emoldurado por arquivoltas de meio ponto, ornadas com arquitos e anjos levando livros. No casco antigo da vila encontra-se a igreja de Santo Tomás Becket, único templo galego dedicado ao santo arcebispo de Canterbury e grande dignatário de Inglaterra (1118-70), assassinado no interior da sua catedral, ao pé de um dos altares, por cortesãos do rei Enrique II de Inglaterra. Tomás Becket foi em peregrinação a Santiago em 1167, fazendo uma paragem na vila de Caldas. A igreja que leva o seu nome foi construída entre 1890-94 com as pedras da torre medieval da rainha dona Urraca, onde tinha nascido o rei Alfonso VII de Castela e Leão. A ponte sobre o Umia acerca o peregrino à fonte de águas termais que dão nome à vila desde a época romana. Segue-se a rua Real, cruza-se a Ponte BermaFia, peça medieval de enorme encanto, e alcança-se o vale do rio BermaNa, rodeado por bosques centenários. Já fora de Caldas pode visitar-se a interessante igreja românica de Santa María de Bemil.
Cruzamento, com o Início da Variante Espiritual.
Cruzamento, com o Início da Variante Espiritual.
Igrexa de Santa María de Caldas de Reis
Igrexa de Santa María de Caldas de Reis
Caldas de Reis
Etapa 5: Caldas de Reis - Padrón O Caminho inicia uma suave subida para chegar ao conjunto de Santa Mariña de Carracedo, composto por igreja, casa reitoral e celeiro. Depois continua pelos lugares de Casal de Eirixio e O Pino e penetra em bosques profundos que decorrem, entre rumor de águas, próximos a antigos moinhos (San Gago, A Insua, Nabal...). Perto do moinho de Solleiros, o Caminho gira suavemente até chegar a San Miguel de Valga. Deixando a leste os lugares de Pedreira e Cimadevila, a rota deixa atrás Valga e atravessa as aldeias de Cabaleiro e Fontenlo para chegar, entre um mar de pinheiros, a Condide. Depois segue por Couto e gira, em Carreiras, em direcção a um belo cruzeiro que tem gravada a data de 1797. Rapidamente se alcança Infesta, em Cesures. Pela rua dos Coengos, a igreja românica de San Xulián de Requeixo indica que está próxima a ponte de Cesures —Caesarobriga o Caesarobrix—, obra de origem romana, com restos do século XII, muito reconstruída e restaurada nos seus dois mil anos de história. Passada a ponte, a rota continua em direcção a Padrón, seguindo algum tempo pela estrada N-550. Na outra margem do rio, o Caminho Português conduz à célebre vila onde arribou a nave que o corpo de, Santiago o Maior desde Jaffa (Palestina). A igreja de Santiago de Padrón, de austero neoclassicismo, guarda testemunhos dos templos precedentes, uma inscrição dos tempos de Gelmírez, patrocinador da igreja românica, e um púlpito gótico, com a imagem de Santiago Peregrino, pertencente à igreja do século XV que mandou construir o arcebispo Rodrigo de Luna en 1456. Estos templos medievais, vencidos pela passagem do tempo, já guardavam no seu presbitério a peça mais jacobeia da vila: o Pedrón, interpretada como ara romana dedicada a Neptuno e na qual, segundo a Tradição, se amarrou a Barca de Pedra que tinha transportado o corpo do Apóstolo e aos seus dois discípulos Teodoro e Atanásio. Na Alta Idade Média usou-se o Pedrón como base da ara de altar da primitiva igreja dedicada a Santiago, levantada pelo bispo Teodomiro o século IX. No seu cadenciado fruir, o Caminho percorre várias das principais ruas de Padrón, mostrando ao peregrino o seu património histórico. Um dos edifícios mais notáveis é o convento do Carmen, construído entre 1717-57 sobre um promontório, ao outro lado do Sar, sob a direcção do carmelita descalço frei Pedro de Ia Madre de Dios. A seus pés está a fonte do Carmen, frente à qual se lavrou a cena da trasladação do corpo do Apóstolo de Jaffa a Iria Flavia. No fórnice, representa-se o baptismo da rainha Lupa por Santiago o Maior, cena que evoca a evangelização destas terras pelo Apóstolo. Nas imediações, a um quilómetro de distância, o peregrino pode fazer uma pausa e descansar no Santiaguiño do Monte, lugar que possui um belo miradouro, uma capela dedicada a Santiago e um altar com a imagem de Santiago numas rochas onde, segundo piedosa Tradição, tinha predicado o filho de Zebedeo e Salomé.
Cemiterio de Adina Iria Flavia
Etapa 6: Padron - Santiago de Compostela De caminho em direcção a Iria Flavia, a rota deixa atrás o casco histórico de Padrón. Um dos seus edifícios civis mais notáveis é o palácio do Bispo de Quito, situado na rua Dolores; é obra barroca encarregada em 1666 ao arquitecto Melchor de Velasco por don Alonso da Per5a y Montenegro, bispo de Quito e vice-rei do Peru. Só dois quilómetros faltam para chegar à colegiada de Iria, rodeada pelo emotivo cemitério de Adina, cantado numa composição de Rosalía de Castro, cujos restos acolheu a húmida terra iriense a sua morte em 1885, antes de repousar definitivamente no compostelano Panteão de Galegos Ilustres de San Domingos de Bonaval. A colegiada de Santa María de Iria evidencia também a devoção mariana no Caminho Português. A sua origem remonta à Alta Idade Média —ainda hoje podem ver-se no seus arredores vários sarcófagos do século VI— e foi construída sob a protecção de santa Eulália. Almanzor danificou este primeiro templo em 997. No século XI foi reconstruído várias vezes pelos bispos Cresconio —que mudou a sua confissão para a de santa María—e Diego Peláez, promotor da catedral românica de Santiago. Gelmírez restaurou o seu esplendor no século XII, dando-lhe a categoria de colegiada e nomeando um cabido de doze cónegos e um prior. No século XIII, o templo foi reconstruído com plano basilical de três naves e três absides. Da época medieval conserva a portada ocidental, lavrada em princípios do século XIV. No tímpano, vê-se representada a Epifania. Na época barroca, transforma-se toda a obra. Em 1666, o bispo de Quito encarregou ao arquitecto Melchor de Velasco a capela de San Ildefonso. Concebida como capela funerária de ordem dórica, destaca a sua cúpula e a estátua funerária do fundador, virado para o retábulo em atitude de quem ora, ambas obras de Mateo de Prado. No outro lado do cruzeiro, construiu-se a capela do Sagraria, dedicada à Virgem de Belém, também com cúpula e de plano central. Entre 1708-14 foi reedificada a colegiada por ordem do arcebispo Monroy, conservando as capelas antes citadas. O mestre Pedro García encarregou-se do projecto, mantendo a planta basilical de três naves separadas por pilares, cruzeiro com ressalte e capela maior rectangular, presidida por um retábulo de 1714 de Miguel de Romay. No exterior, destacam-se as torres de remates piramidais. Frente à fachada da colegiada, situam-se as casas dos cónegos, actualmente ocupadas em boa medida pela sede da Fundação Camilo José Cela, ilustre escritor padronês Prémio Nobel de Literatura. O peregrino encaminha-se em direcção a A Escravitude seguindo uma curta etapa de três quilómetros. O Caminho continua pelas aldeias de Quintáns, Souto, Rueiro, Cambaias, Anteporias, Tarrío e Vilar, no vale do Sar. O traçado acerca-se ao sumptuoso e barroco santuário mariano de A Escravitude, levantado entre 1732-43 sobre a fonte diante da qual, em 1732, teve lugar um milagre que motivou a sua construção. As doações tornaram possível a construção de um grande santuário barroco, com planta de cruz latina, nave única, cruzeiro com ressalte, cúpula com clarabóia e capela maior rectangular. No interior destacam-se os retábulos, realizados com audaz dinamismo barroco, com jogos de massas e volumes e um delírio decorativo como marco de devoção às esculturas de Agustín Álvarez. A fachada está flanqueada por duas torres e precedida por um átrio com escadaria de acesso desde o próprio Caminho de Santiago (hoje N-550). O substancial da obra foi concluído em 1750. Uma vez deixado atrás o santuário, o Caminho passa em frente da igreja de Santa María de Cruces para decorrer entre bosques e cruzar a via do caminho de ferro na pitoresca aldeia de Angueira de Suso. Segue-se até Areal e O Faramello, para depois continuar até ao bonito lugar de Rúa de Francos; no bosque próximo encontram-se os restos de uma calçada romana e uma ponte; sobre um pequeno monte, ao lado esquerdo, situam-se as misteriosas e abandonadas ruínas do Castro Lupario. Um formoso cruzeiro gótico —um dos mais antigos da Galiza— e o campo da feira despedem o peregrino de Rúa de Francos. Ascende-se rapidamente até ao lugar de Castanal e, após um brusco ziguezague, causado pela concentração parcelaria, chega-se a Pontepedreira. Em Arieira, uma encantadora imagem de santo Antonifio, situada na fachada de uma casa —antiga pousada de viageiros e peregrinos—, serve de referência para seguir o Caminho, que já ascende, por um monte pequeno, até A Grela. Depois doutra subida muito suave, deixa-se atrás O Milladoiro. Intuindo já as torres da catedral e passado um curto trecho, chega-se a Agro dos Monteiros, a partir de onde é possível ver, ao longe, a cidade do Apóstolo. O velho caminho medieval deixa a um lado as ruínas do castelo arcebispal denominado A Rocha Valia, aproxima-se de Santomil e Amafiecida e cruza uma ponte sobre o rio Sar. A rota alcança o bairro de A Choupana, perto da capela de Santa Marta. Já na rua de Rosalía de Castro, no casco urbano de Compostela, avança-se em direcção à igreja do Pilar, belo templo barroco situado na Alameda, e, seja pela Carreira do Conde ou pela rua Xoán Carlos I, chega-se à Porta Faxeira, tradicional entrada do Caminho Português na cidade de Santiago. A rua do Franco conduz até ao colégio de Santiago Alfeo, edifício universitário do século XVI dedicado ao apóstolo Santiago o Menor, cuja cabeça se conserva no relicário da catedral. Na mesma rua, frente a este nobre edifício, encontra-se a capela de Santiago, que recorda o lugar onde, segundo a Tradição, parou o carro que transportou o corpo do Apóstolo de Iria a Compostela. A poucos metros já se encontra a esquina do claustro da catedral, notável construção renascentista. A partir daqui, o itinerário entra na praça do Obradoiro, onde se encontra a fachada principal da basílica jacobeia, cuja entrada conduz o peregrino ao Pórtico da Glória. Outra possibilidade de acesso ao interior basilical —preferida pelos peregrinos medievais—consiste em seguir a rua Fonseca, bordejando a ala meridional do claustro, até à praça de As Praterías, onde se situa a fachada sul da catedral, a entrada mais mitiga (ias conservadas no venerável edifício. A portada românica de As Praterías, lavrada em princípios do século XII, representa, com a sua grande quantidade de esculturas e relevos, um dos momentos de apogeu cultural da Compostela medieval e da arte do Caminho de Santiago. Passando o umbral de uma destas portas, ou então deixando atrás o célebre pórtico ocidental do Mestre Mateo, o peregrino conclui o Caminho Português diante da tumba apostólica. Termina assim um itinerário integral motivado pelo imortal espírito de peregrinação; uma rota de espectáculo artístico, esplendor ecológico e terna devoção à Virgem Maria e ao apóstolo Santiago o Maior. Fonte: "Francisco Sigul, O Caminho Português, Xacobeo Galicia - Xunta de Galicia"
Comments (33)
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Preciosa ruta senderista, por las bellisimas tierras gallegas . Fotos y explicaciones muy buenas.Un fuerte abrazo.
Que preciosidad y que contraste de imágenes 👌, saludos y un fuerte abrazo compañero 🤗.
Oh, Caminho de Santiago, como eu espero ansiosamente pelo dia em que caminharei em seus trilhos novamente, desta vez no Caminho Central Português, de Valença a Santiago de Compostela em abril de 2022.
Desde os primeiros passos em Valença, sinto-me abraçado pela atmosfera mística que permeia todo o Caminho. Cada pequena aldeia que atravesso, cada igreja que visito, cada peregrino que encontro no caminho, é um lembrete constante de que estou fazendo parte de algo maior, algo que transcende o tempo e o espaço.
Os dias passam e a paisagem muda constantemente. Do verde exuberante das florestas ao amarelo dourado dos campos, passando por vilarejos pitorescos, vales profundos e montanhas imponentes. Tudo é belo e inspirador, e me faz sentir parte integrante da natureza.
E, claro, há a chegada a Santiago de Compostela, o objetivo final de todos os peregrinos. A emoção que sinto ao ver a catedral no horizonte é indescritível. É uma mistura de alegria, gratidão, alívio e tristeza. Alegria por ter completado a jornada, gratidão pelas lições aprendidas, alívio por ter superado os desafios, e tristeza por ter que deixar para trás os novos amigos que fiz ao longo do caminho.
Mas o Caminho de Santiago não termina em Santiago de Compostela. O verdadeiro fim é a mudança que ocorre em cada peregrino durante a jornada. É a compreensão de que somos todos parte de uma grande comunidade global, de que a vida é uma jornada e de que o importante é o caminho que percorremos.
Então, Caminho de Santiago, eu te espero com ansiedade em abril de 2022. E sei que, mais uma vez, você irá me transformar, me inspirar e me levar a lugares inesperados dentro de mim mesmo.
Obrigado a todos pelos comentários e avaliação do percurso!
Um abraço e boas caminhadas
Gran trabajo, migueleloi, enhorabuena!!! Hace algunos años hicimos parte de ese camino (desde Tuy a Santiago de Compostela) y nos encantó. Muchas gracias por tu aportación. Saludos cordiales.
Bonita ruta del camino de Santigo con bonitas fotos y muchas cosas que ver. Una pasada! Un abrazo
Gran trabajo migueleloi.
Mi admiración a personas que como tú, se hechan al camino. Al bonito y duro recorrido del Camino de Santiago.
Un saludo 🙋♀️
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Information
Easy to follow
Scenery
Difficult
Fiz este caminho, embora que dividido em 5 etapas seguidas. Foi um bom auxílio para as diversas vezes que nos distraíamos nas sinalizações 😅
Obrigado pela avaliação e comentário Roger.
Parabéns pelo objectivo cumprido! Fico contente por ter ajudado um pouco no teu caminho.
Um abraço
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Information
Easy to follow
Scenery
Moderate
Ruta increible de las que no te puedes perder!!!
Las fotos son increíbles!!!
1Abrazo y gracias por compartir
Obrigado pela avaliação Tolly Mune,
Um abraço
Preciosa ruta por el Camino Portugués a Santiago de Compostela, con un reportaje fotográfico sensacional, de monumentos, iglesias, parajes, pueblos de gran belleza, vistas de la Catedral, Hostal de los Reyes Católicos, El Obradoiro, debes haberlo pasado muy bien.
Enhorabuena por tan excelente ruta.
Un abrazo
Enhorabuena por estos seis días realizando el Camino de Santiago Portugués. Como siempre, muy buenas fotografías y excelentes explicaciones de los monumentos mas emblemáticos, como la ciudad de Valençia do Minho, la catedral de tuy.... Un abrazo.
Obrigado pelas vossas simpáticas avaliações Maria e Caros55.
Até Breve
Muito obrigado por compartir rutas tan bonitas Gran migueleloi !!!🤩
Um abraço Crack!!!
Nos vemos en la montaña!!!
Obrigado Peplo007,
Um abraço e boas caminhadas
hermosa experiencia a Santiago Compostela, felicidades
Obrigado pela avaliação Olman,
Um abraço
Increíble el detalle y empeño que le das cada ruta. Está de lujo como todas. Espero algún día hacer una parte de esta peregrinación.
Obrigado Alfredo,
Espero que um dia consigas realizar este caminho também!
Um abraço
Wooooowwww, what a wonderful photos and beautiful route
Thank you Mehdi,
Best Regards
El camino portugues aun lo tengo pendiente, espero hacerlo pronto. Saludos.
Obrigado pela avaliação MPuet,
Espero que consigas fazer em breve, e desfrutes!
Um abraço
Ya recibí tu mensaje y esta ruta la voy hacer en estos próximos meses. Gracias por comartirla Migueleloi.
Un abrazo
Obrigado pela mensagem Noruega7319, e Bom Caminho!
Um abraço
Muchas gracias por compartir Miguel! 🙂
Abrazos Montañeros 🤗🤗
Obrigado Sonja la Roja,
Um abraço Ibérico
👏👏👏🌹🌷🌹🌷
Thank you Yaser Masouni,
Best regards
عالی
Thank you Shahram
Thank you Shahram