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Caminho de Santiago da Geira e dos Arrieiros (6ª Etapa Cortegada - Berán)

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Author

Trail stats

Distance
14.37 mi
Elevation gain
1,457 ft
Technical difficulty
Moderate
Elevation loss
1,132 ft
Max elevation
753 ft
TrailRank 
74 5
Min elevation
163 ft
Trail type
One Way
Moving time
5 hours 25 minutes
Time
7 hours 17 minutes
Coordinates
4092
Uploaded
May 20, 2023
Recorded
May 2023
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near Cortegada, Galicia (España)

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Itinerary description

Hoje havia pequeno almoço posto em duas mesas da sala, cada uma etiquetada com o número do quarto. No frigorífico, também separados e etiquetados, estavam fiambre, queijo, sumos e leite. A máquina do café estava preparada e tinha uma folhinha “post it” colada a dizer que a ligássemos. Não fora ter ontem aparecido alguém para receber o pagamento do alojamento e pensaríamos estar num hotel fantasma de um qualquer filme de ficção. Ninguém mais vimos neste acolhedor hotel e dele nos despedimos agora acenando para a câmara da receção que, rodando, nos segue.
Olhamos para o cimo da rua. Lá em cima a Igreja de Santa Maria ainda não acordou. Deixamos mensagem escrita na alma para não perturbar: “Acompanha-nos, Mãe, nesta etapa que estamos iniciando. Amém.”
Saímos de Cortegada pela Rúa do Regueiro. Um reguinho de água sai do muro que ladeia o caminho por pedra talhada em jeito de fonte e cai noutra pedra que em jeito pia se fez. Tem um buraco a pia e a água vai para o “regueiro" correndo ao lado do caminho. Tão humilde e simples este regueirinho que toponimiza a rua. Quantos “inchados" e “assorbebados” há que lutam para que deles se lembre quem a toponímia determina?!... a água vai deslizando límpida e fresca indiferente ao nome que a rua tem. Refrescam o nosso olhar as heras que o muro, que nos acompanha, cobrem. E cá vamos de mente e corpo ainda fresco.
Atravessamos a OU-801 e logo a seguir a OU-402 e descemos por caminho de terra, num belo robledo para o Rego da Fonte, que atravessamos por pontelha de grandes lajes de granito. Subimos por caminho ancestral entre velhos muros. Quantas gerações terão estas pedras visto passar?... poucas mais irão ver decerto. Estes quintais para lá dos muros indiciam o abandono da terra. Pequenas parcelas que serviam a agricultura de subsistência. Hoje tudo nasce no supermercado. O caminho termina na rua principal do lugar de Rabiño que dá nome à “parroquia" de San Bieito de Rabiño, inicialmente chamada San Benito de Arnoia. O embaciado vidro do “peto de ánimas" não permite que o interior nos seja revelado. Saberá quem cá mora que almas serão aqui sufragadas. Uma fonte, de onde abundante a água corre para o antigo lavadouro, precede uma casa que, pelo que escrito está na padieira do portão, já cem anos tinha quando eu nasci. Rabiño suscitou a minha curiosidade pela originalidade do topónimo e por aparecer em muitos dos antigos textos que li sobre o “concello" de Cortegada. Alguma é a curiosidade que levo em ver a Igrexa de San Bieito. Entretanto sorrio ao recordar um dos textos mais recentes que li. Dele transcrevo o seguinte apontamento: «Antes era capital do concello ata que os de Cortecagada a levaron pra alí porque seus caciques tiñan mais forza que os de aquí». Não fora o autor ser de Rabiño e o nome Cortegada não viraria “Cortecagada". Ter sido “capital de concello”, pelo que li parece que sim. Releio a introdução do documento de Don Pedro Gómez y Bedoya, escrito em 1764, para confirmar: «Caminando de la Ciudad de Ourense, en el Reyno de Galicia, àcia el Poniente, se encuentra el Lugar de Cortegada: está situado en un frondoso valle, a quien rodean por todas partes altos, y empiandos montes, poblados de Arboles, y de donde descienden abundates y claros arroyos... ...; pertenece a la feligresia de San Benito do Rabiño, y el Señorio de San Benito de Celanova...»… que terá acontecido?... ao que parece, no século XVIII, Cortegada seria um “pueblo" pequeno e sem expressão que pertencia à "feligresia" de Rabiño. Em 1863 constituem-se as “parroquias" de Louredo e Cortegada, segregando-se da de Rabiño mas, já desde 1835 Cortegada seria “concello", e é agora Rabiño que lhe está subjugado. Rabiño o «último luceiro que desaparece pola mañá» submerso pelas águas das três fontes «llamadas baños de la Piedra, del Campo y del Monte». Na roda, a qualquer momento, quem em cima está ao fundo pode descer.
Adentramo-nos na Galiza, no território, na cultura e nas línguas. Surpreendo-me a pensar já não em português mas num linguajar que tudo mistura. E é titubeante que me dirijo a um senhor que sai de uma bela casa em Antóns, em cujo jardim se encontra um lindo cruzeiro galego com data de 1943, incrustado numa pedra que de base lhe serve, e lhe pergunto, não sei se em galego, espanhol, português ou portunhol, se posso fotografar o cruzeiro e quem o esculpiu. Feliz constato que compreende o que digo. «Por suposto que podes facer foto.» Ficamos um pouco à conversa e o meu cérebro entra de novo em sintonia com o galego.
Já corro para alcançar a minha companheira e vou pensando que sim, irei visitar o “milladoiro”, que por detrás do templo fica, me disse o dono do cruzeiro e a história me contou.
Aqui em frente, parcialmente oculta lá em cima, está a Igrexa de San Bieito. É um templo barroco do séc. XVII. Nasceu com o nome de San Benito de Arnoia em terrenos do Mosteiro de Celanova «y según el Catastro del Marqués de la Ensenada, la zona se llamaba "Coto da Vestiaria"». O nome San Bieito refere-se a S. Bento de Núrcia, fundador da Ordem Beneditina, cuja regra (ora et labora) foi difundida na Galiza por São Rosendo de Celanova. No entanto deixam-me baralhado as datas das festividades aqui celebradas: “21 de marzo e 11 de xulio". Se a última é de facto a data dedicada pela a Igreja a S. Bento de Núrcia já a primeira outro S. Bento celebrará: S. Bento Crispo de Milão, que nada tem de comum com o Mosteiro de Celanova (penso eu). Aqui, em peregrinação, vêm os que sofrem males de pele e sentem o incómodo das verrugas. É notório o número de curas atribuídas a milagres aqui operados. Até notícia e testemunho há da cura de um cancro de língua numa habitante de Los Molinos (Madrid) que dos milagres do santo ouvira falar. Após colocação de ex-voto de cera com a forma da língua doente no altar do santo, e de um dia para o outro, viu-se a senhora curada. Por agradecimento e devoção mandou criar uma réplica do San Bieito que em Rabiño se venera e, com muita gente a acompanhar, a levou em procissão até Los Molinos em 1997.
Subimos a escadaria e, cá em cima, melhor podemos apreciar a fachada barroca da igreja porque aceder ao interior não é possível por fechada estar a porta, coisa a que nos vamos acostumando. Contornamos o templo passando entre as tumbas que o cercam. Por detrás, caminhamos numa alameda de plátanos até ao “humilhadoiro" de San Bieito. Contemporâneo do templo em tempo e arte, aqui se ajoelhavam os peregrinos, que chegavam caminhando, numa atitude de humildade e gratidão. Aqui se recordavam os mais queridos já idos e aqueles que sofrendo ainda por cá andavam. Por eles chorando se orava. Aqui se despia a alma e, esvaziada da soberba, se enchia de gratidão. Hoje, esquecida a humildade, olham-se estes sítios com a curiosidade folclórica e sentimento de superioridade de quem se considera acima de crendices e superstições. Hoje, enchidos de sabedoria e civilidade, encontramos motivações e mesquinhos interesses do clero para a existência destes sítios. Hoje, juízes intemporais, duvidamos das intenções que levaram à origem dos locais de oração. Aqui e agora ressoa no meu íntimo uma voz vinda da montanha: «Bem aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos céus». E eu medito: Bem aventurados os humildes porque serão exaltados!... com humildade me curvo, peregrino da verdade que busco dentro de mim, e rezo. No cruzeiro central, nos medalhões e nas oblações a Maria, vejo e aprecio a arte, serva da instrução e embelezamento da fé. Não já a fé simples dos pobres e romeiros mas a daqueles que louvam a Deus pelo que mais belo pode produzir o engenho humano.
Ficaram para trás templo e humilhadoiro. Arquivamos na memória imagens, mensagens e sensações. Seguimos um pouco mais ricos de bens que o dinheiro não compra.
Chegamos à OU-402 e por ela vimos caminhando há alguns minutos quando o GPS assinala “saída do trilho”. Mas que diabo, penso. Se temos vindo a seguir a sinalização. Verifico. De facto o “Caminho Oficial” que trago no GPS do telemóvel diz que deveríamos ter cortado à direita lá atrás. Pois é… parece que há mais do que um “caminho oficial”. Não voltamos atrás mas corremos riscos já que a estrada não tem bermas. Aceleramos o passo e… calamo-nos pedindo, no silêncio, a proteção divina.
Pouco mais de dez minutos nos levou a percorrer este “quilómetro e pouco" até aqui onde outra seta amarela encontramos. O alívio, por termos saído da perigosa via e sabermos que no caminho certo vamos, reflete-se no sentir e no semblante. O bosque de carvalhos que nos acompanha e protege até parece que as boas vindas nos dá com o chilreio de um e outro pássaro que por aqui vão esvoaçando.
Subimos a Meréns. A minha curiosidade vai para “o escudo heráldico máis grande da Galícia" que apareceu em todas as pesquisas que fiz sobre esta povoação. Rosas vermelhas sobre um muro saúdam-nos à entrada, lançando o perfume sobre estes singelos peregrinos. Apreciamos, como se nunca o tivéssemos feito, dois velhinhos, mas muito autênticos, hórreos de ripado de madeira que estão necessitados que deles se lembre quem saúde lhes possa trazer. Haverão ainda nobres e humildes carpinteiros que o queiram fazer?... talvez… mas a que preço?... deixemo-los descansar na sua velhice e consideremo-nos abençoados por ainda os ver de pé. Detenho-me. À minha frente está um minúsculo, singelo e tão lindo monumento. Incrustado no muro velho e carcomido, onde os fungos e líquenes já quase não deixam ver de que pedra foram feitos. Enfeita-o e incensa-o com a beleza e perfume uma daquelas roseiras que de tão pequeninas e belas rosas se enchem durante a primavera e verão, Rosas de Santa Terezinha. Chamam-lhe os galegos “Peto de Ánimas" e nós, os que nos vamos recordando ainda, dizemos que são “Alminhas". Estas que à minha frente estão são obra de escultura em pedra policromada que ao tempo vai resistindo. A cena no nicho, representando o purgatório, parece tirada do Apocalipse de São João. Crianças não há no fogo porque as crianças morrem sem pecado. A alma de um rei centra a imagem e a de um monge lá está também purgando seus pecados no fogo. Todas aguardando ser sufragadas pelas orações, boas ações e esmolas de quem passa. A cruz que, decerto, encimava este templo de fé, foi partida e só lhe ficou a base.
Absorto, deixo para trás as alminhas mas delas não tiro o pensamento. O culto dos mortos sempre existiu. É o apego aos que em vida nos foram tão queridos que transcende para além da morte. As “Alminhas" são de origem portuguesa. Fomos nós que as inventámos e foi no norte e centro do país que nasceram, no século XVI após o Concílio de Trento, quando, na Contra-Reforma, a igreja católica instituiu a existência do purgatório como dogma de fé, um estado intermédio entre o céu e o inferno. Mas… se sempre se rezou pelos que partido haviam, se pelos que no paraíso estão não é necessário rezar e se pelos que para o inferno foram não vale a pena, é porque sempre se acreditou ou se teve esperança que um estágio intermédio existisse. O que o Concílio de Trento fez não foi instituir mas dar nome ao que já se acreditava existir.
E como se salvam as almas que no purgatório penam?... se nada podem já por elas próprias fazer dependem de quem por cá ainda anda. Que podem os vivos fazer para resgatar estas penantes almas?... responde a igreja: «Orações, boas obras, sacrifícios e… esmolas... bem, as esmolas colocadas na “caixa", ou como dizem os galegos, no “peto", são, ou deveriam ser, destinadas ao pagamento do estipêndio dos sacerdotes pelo serviço das missas rezadas em sufrágio das almas que ali se recordam.
E cá vou andando e pensando com os neus botões: será que foi o povo que teve necessidade destes lugares de fé, saudade e compaixão?... será que foi o clero que queria aumentar o seu pecúlio à custa da fé dos seus fregueses?... será que estes símbolos católicos, espalhados pelas encruzilhadas dos caminhos, vieram substituir cristianizando outros pequenos monumentos pagãos com origem nos “lares viales" e “lares compitales" romanos ou mesmo monumentos aos deuses que os celtas por estas terras foram espalhando?... tudo assola ao meu espírito. Recrimino-me: homem de pouca fé, porque pões em dúvida a fé dos humildes e duvidas das intenções dos que à igreja entregaram a vida?... até porque dizem alguns historiadores que a Igreja não controlava a disseminação destes minúsculos templos de fé e esperança.
Já vejo ali à frente a Igreja de San Cibrán. É um templo relativamente novo. Não posso entrar, ajoelhar e confessar “mea culpa" porque as portas cerradas mo não permitem. Ah!... chiça, lembro-me agora: há muito que passei a “Casa Grande"… Bolas!... ficou por ver o “máis grande escudo heráldico da Galícia". Blasfemo mas já atrás não volto. Terá sido castigo?... caramba, tinha tanta curiosidade. Não é todos os dias que se vê uma peça de arte que engloba a representação de várias gerações de nobres galegos. Bom, esqueçamos.
Descemos as Ladeiras de Merén por estreita estrada de cimento. Estamos a chegar à margem esquerda do Rio Minho ou, numa perspetiva galega, do Río Miño. A barragem (ou encoro) da Frieira suaviza a corrente e o espelho azul está mesmo aqui. Caminhamos muito perto do rio que azula a paisagem à nossa esquerda e entre os troncos e ramagens da árvores que o ladeiam vamos desaguando nossos olhos e recuperando a serenidade do espírito.
Chegamos ao Canival. À esquerda vamos apreciando os reflexos no rio entre carvalhos, castanheiros e até sobreiros, espécies pouco comuns à beira da água. Uma algaraviada começa a ouvir-se e já se vê dela a origem: uma regata de stand up paddle acontece por aqui e os participantes trocam gritadas mensagens, talvez de estímulo, entre eles. Um xinfrim incómodo para quem gostava mais de escutar o que a natureza normalmente segreda baixinho.
Sempre à beira do rio passamos Porto Carreiro e entramos na zona de Val de Viñas. O Rio Arnoia encontra-se aqui com o Minho. Subimos um pouco na sua margem esquerda até encontrarmos a ponte que, para a outra margem, vamos atravessar. Desmaiam as águas de um no afago das do outro e passam a comungar o mesmo leito. Parados sobre a ponte usufruímos nós da ternura desse abraço em cambiantes de céu e verde com reflexos de vida.
Num bem cuidado “sendero" ribeirinho, entre a quietude das águas, com os salgueiros sobre elas chorando, e os jardins relvados, onde pululam melros, dirigimo-nos para a Vila Termal de Arnoia. Ouvimos o ruído característico das rodas na areia e rápido nos encolhemos na beira do caminho. Esta é sempre uma manobra complicada porque, não tendo as antigas e sonantes campainhas, tardiamente nos apercebemos da passagem das bicicletas. Hoje, mais que pelo ruído das rodas, fomos alertados pela algazarra dos ciclistas. Um coro de holas e bon camiño e lá vão. Nós vamos também, pedalando mais rasteirinho na direção da Vila Termal.
Chegámos a uma espécie de praia fluvial onde está o “circo” montado. Muita gente, muita cor, muitos atletas, muitas pranchas… muita confusão! Passamos asinha só parando no bar para um café. Nota-se o ambiente de turismo de elites. Vamos lá que “esta não é a nossa praia".
O caminho é agora entre muros de granito delimitando extensas e geométricas vinhas. Sinto que já entrámos no coração de O Ribeiro e sinto também que em breve o iremos degustar nós também. Deixamos Lomba dos Chaos para trás e adentramo-nos numa densa, diversificada e muito agradável floresta. Que bom este silêncio. O caminho de terra é largo e permite que caminhemos lado a lado.
Por caminho antigo lajeado, ladeado de verde e alta erva, com um velho muro à nossa direita, subimos .para Reza… meu Deus, rezemos!... entrámos seguramente em zona de guerra. Casas caídas, pedaços de viaturas, restos de máquinas, hórreos de que só restam os pedestais ou que se inclinam perigosamente para o chão já de morte feridos… e agora aqui mais um daqueles humildes e belos minúsculos monumentos que pelas almas do purgatório nos pede que rezemos. E é mesmo isso apenas, porque caixa de esmolas não tem. Tem um poste de madeira encostado à esquerda e outro de cimento encostado à direita como se tivessem sido postos ali para o sustentar de pé. Ainda está inteiro, porquanto mais tempo não sei. Já dentro da pequena povoação de Reza mudamos o nosso sentir e acabamos por sair com melhor impressão.
Descemos de novo para a beira do Minho e dos grandes carvalhos que ladeiam a margem. Calamo-nos e vamos comungando o silêncio e a frescura deste belíssimo caminho. O “Camiño” sobe agora à direita afastando-nos do rio. Entramos na OU-0305 que não tem passeios nem bermas que nos permitam caminhar sem perigo. Calamo-nos caminhando junto ao rail um à frente do outro… atravessamos a velha e estreita ponte de betão para a margem direita do Rio Minho.
Ali está Ribadavia entre as serras do Faro e do Suído. À vista de tão antiga e histórica povoação, vou andando estrada afora e pela memória buscando o que sobre ela sei ou li. Reivindicam os ribadavienses ter sido a sua terra a “oppidum” celta Abobrica que Pompónio Mela refere na De Chorographia e Plínio o Velho, na sua “Naturalis Histioriae", diz situar-se junto do Rio Minho entre os galaicos bracarenses. Mas será que Abrobica era mesmo aqui onde chegamos agora?... deixem que duvide, tenho esse direito, não tenho?... mas não o faço "só porque sim". Já em tempos, quando no “Caminho da Costa", subindo o Monte de Santa Tecla, se confrontou comigo esta perdida (?) oppidum e procurei saber mais o que sobre ela se havia escrito. Do que li concluí que mais são os arqueólogos a defender a localização de Abobrica no Castro de Santa Tecla (ou Tegra) na foz do Minho do que os que defendem ser em Ribadavia. Seja ou não, olhando os seus muros, se vê quão antiga é. Na idade média, depois de reconquistada aos mouros, aparece referida como Rippa Avie, nome notoriamente de origem romana, um burgo na “ribeira do Avia". Pede-me o momento que pause o pensamento e vire a atenção para o que nos rodeia. Passamos uma ponte pedonal metálica sobre o rio. A lenidade da água, que desliza entre puídos rochedos e uma guarda de espessa vegetação, espelha o céu. Subimos agora por estreito e cimentado caminho. Num patamar da Rúa de Extramuros paramos. Sentamo-nos num banco no miradouro defronte à muralha do século XIV para um breve descanso do corpo e deleite da alma.
Cinco minutos, não mais, passaram e eis que já entramos pela Porta Falsa e subimos por delidos degraus em direção à Praza da Magdalena, em pleno “Barrio Judío”. O início da presença dos judeus em Ribadavia situa-se algures na idade média, provavelmente em meados do século XI quando o rei Don García fez deste burgo a capital do Reyno da Galícia. Diz-se que no século XIV metade da população de Rivadavia era judia e dominava o comércio do vinho Ribeiro e os movimentos financeiros. Os edifícios de arcadas em granito rodeiam esta praça e estendem-se rua acima. Procuramos avidamente um café cerca de nós onde possamos dessedentarmo-nos. Nunca entendi estes horários espanhóis!... é meio dia em Espanha, onze horas em Portugal, e está tudo encerrado. Sei que é sábado mas, valha-me Deus (não foi bem assim que verbalizei a minha desilusão mas “valha-me Deus enche mais a alma), nada aberto a esta hora?... espera… este café está a abrir a porta. Dá pelo nome “gastrobar Birran" e é uma pessoa, embirrada não porque silenciosa mas parca em palavras e simpatia, que nos atende. Foi uma eternidade até que dispusesse a mesa e cadeiras presas de véspera com cadeado e nos trouxesse as duas “cañas" Estrella pedidas. Aproveito a demora para revisitar as memórias sobre a Ribadavia das minhas leituras. Tantos são os monumentos e histórias que nada hoje visitaremos para desculpa termos de voltar. Programo a visita para um futuro último sábado de agosto. Porquê?... Porque nesse dia realiza-se a “Festa da Istória", uma festa de características únicas, em que recria com tanta autenticidade o tempo e os costumes que a única moeda circulante nesse dia é o “maravedi", moeda que se começou a cunhar na península ibérica pelos almorávidas e se continuou a cunhar por alguns séculos mais. Disseram-me que ninguém entra na festa que não vista trajo medieval e que, para o garantir, são montadas nesse dia tendas de aluguer de roupa. Há registo desta festa desde tempos imemoriais.
Pagas as “cañas”, “Seladas” as credenciais e alombadas as mochilas, cá vamos.
Aqui ao lado, desafiando o nosso olhar, a Igrexa de Santa María Magdalena, que igreja já não é. Data do século XII, mas este monumento não era decerto. Este é de arquitetura barroca muito posterior. Inicialmente a igreja foi de advocação de San Ginés e implantada no castelo dos Sarmientos. Quando, em 1480, os reis católicos decidiram que os judeus teriam que viver em "ghettos", foi criado este bairro. Mas, por “Real Orden del 30 de marzo de 1492” os judeus foram expulsos de Espanha e só ficaram aqueles que se converteram ao cristianismo… ou que fingiram converter-se, e a Igrexa da Magdalena, para aqui transferida, passou a ser dedicada ao culto dos “judíos conversos". Pois agora, a igreja desconvertida da religião, porque conversos não há, serve para eventos lúdicos e culturais… reconverteu-se.
Descemos a Rúa de Santiago ainda para trás olhando. A torre da igreja da Magdalena ergue-se para o céu amputada do significado da sua existência. Não tocam mais os sinos para chamar à oração a um Deus por conveniência ou obrigação de opção. Será que chamam à diversão e ao cultivo do espírito?...
A meio da estreita rua está a Igrexa de Santiago. É de estilo românico tardio século XIII (?) com alguns pormenores góticos. A fachada principal apoia-se a sul numa torre moderna talvez do século XVIII dando a ideia que foi amputada quando a torre foi construída. Tem três tramos e entre o de cima e o do meio tem um beiral apoiado em cachorros com peças figurativas lavradas. Acima deste existe uma rosácea de três arcos para deixar entrar alguma luz na nave da igreja. O que sempre me impressionou nos templos românicos foi a ausência de luz no interior. Dizem que se minimizavam as aberturas para que as forças do mal não entrassem no santo espaço do templo. Gostaria de visitar o interior mas a porta principal fechada tolhe-me a vontade de tentar as outras além de que tenho receio que as “forças do mal" aproveitassem a oportunidade e entrassem também.
Continuemos rua abaixo. Chama-me a atenção uma bandeira verde. Tem escrito “Museo Etnolóxico" e é-o de facto mas este edifício é também conhecido por “Pazo da Fundación", e porquê?... os porquês são a minha perdição: perco-me em conjeturas; perco-me em infindas pesquisas; perco-me nos porquês dos porquês. Por vezes encontro-me com a razão do porquê e desta vez encontrei: em 1908 José María Martínez Vásquez adquiriu o Pazo do Marqués de Bahamonde à marquesa viúva para nele instalar “un centro de enseñanza para los niños pobres del município” – a Fundação!... agora é um museu, porquê?... O que terá acontecido ao “centro de enseñanza para los niños pobres” a quem José M.ª deixou o pazo em testamento?... obriguei-me a parar por aqui e só sei mais que este edifício data do séc. XVI, ainda que tenha sofrido algumas alterações ao longo dos séculos, quer em estrutura quer em função.
Entramos na Praza García Boente antiga Praza das Galiñas. Os edifícios em granito escurecido, as arcadas de grossas colunas, as varandas de ferro forjado, os “balcóns" de madeira construídos sobre varandas de pedra ou ferro, o empedrado de grandes lajes de granito, tudo nos transporta para tempos remotos e cenários dramáticos dos livros de Victor Hugo ou Charles Dickens. Chegamos ao fundo da “praza" onde desaguam quando chove a Rúa de San Martiño e a Rúa Salgado Moscoso. Ora, exatamente na esquina onde estas ruas confluem existe uma interessante e tenebrosa casa: a “Casa da Inquisición".Sobre a porta que para a Rúa de San Martiño dá, exibem-se “orgulhosamente” cinco brasões que correspondem às cinco famílias que ao Sant
(incompleto o wiki não permite mais)

Waypoints

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Igrexa de Santa María

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Será que foi esta fonte que deu o nome à Rúa do Regueiro?

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Salta à vista o carro que condiz com a casa

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No Rego da Fonte

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Passando por Rabiño

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Em os Muíños

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A Ereixa - Um cruzeiro em jardim privado

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Igrexa e Humilladoiro de San Bieito de Rabiño

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Photo ofOlhando o Río Miño

Olhando o Río Miño

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Os Canastros as rosas e o 'peto de ánimas' em Merén

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Passando por Meréns

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Saindo de Meréns para a descer a Ladeira

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Na margem do Rio Minho

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Continuamos com os olhos aguados no Canival

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Uma regata de Paddle

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Fotografando o rio perto do Porto Carreiro

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Ilhotas na foz do Río Arnoia

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Na ponte sobre o Rio Arnoia

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Photo ofPercurso pedonal do Rio Arnoia Photo ofPercurso pedonal do Rio Arnoia Photo ofPercurso pedonal do Rio Arnoia

Percurso pedonal do Rio Arnoia

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Photo ofUma bela zona verde à beira do Rio Minho Photo ofUma bela zona verde à beira do Rio Minho Photo ofUma bela zona verde à beira do Rio Minho

Uma bela zona verde à beira do Rio Minho

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Uma vinha na Lomba dos Chaos

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Uma zona de guerra?...

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Passando A Reza

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Photo ofSeguindo o caminho sinalizado

Seguindo o caminho sinalizado

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Atravessamos o Río Miño

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Río Avia

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Photo ofRibadavia - Porta Falsa, Barrio Xudeu e Igrexa de Santa María Madalena Photo ofRibadavia - Porta Falsa, Barrio Xudeu e Igrexa de Santa María Madalena Photo ofRibadavia - Porta Falsa, Barrio Xudeu e Igrexa de Santa María Madalena

Ribadavia - Porta Falsa, Barrio Xudeu e Igrexa de Santa María Madalena

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Photo ofA Torre da Igrexa da Magdalena (vista N) e a Igrexa de Santiago Photo ofA Torre da Igrexa da Magdalena (vista N) e a Igrexa de Santiago Photo ofA Torre da Igrexa da Magdalena (vista N) e a Igrexa de Santiago

A Torre da Igrexa da Magdalena (vista N) e a Igrexa de Santiago

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Photo ofPlaza do Dr. García Boente Photo ofPlaza do Dr. García Boente Photo ofPlaza do Dr. García Boente

Plaza do Dr. García Boente

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Photo ofO açude da Playa Fluvial de a Veronza e a Ponte Romana que o tempo vai consumindo Photo ofO açude da Playa Fluvial de a Veronza e a Ponte Romana que o tempo vai consumindo Photo ofO açude da Playa Fluvial de a Veronza e a Ponte Romana que o tempo vai consumindo

O açude da Playa Fluvial de a Veronza e a Ponte Romana que o tempo vai consumindo

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Photo ofPelo parque ribeirinho da Veronza entre pinheiros e carvalhos Photo ofPelo parque ribeirinho da Veronza entre pinheiros e carvalhos Photo ofPelo parque ribeirinho da Veronza entre pinheiros e carvalhos

Pelo parque ribeirinho da Veronza entre pinheiros e carvalhos

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Photo ofPor baixo da A52 e ainda com o Avia refrescando o nosso olhar Photo ofPor baixo da A52 e ainda com o Avia refrescando o nosso olhar Photo ofPor baixo da A52 e ainda com o Avia refrescando o nosso olhar

Por baixo da A52 e ainda com o Avia refrescando o nosso olhar

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Photo ofAlminhas e Igrexa de San Cristovo de Regodeigón Photo ofAlminhas e Igrexa de San Cristovo de Regodeigón Photo ofAlminhas e Igrexa de San Cristovo de Regodeigón

Alminhas e Igrexa de San Cristovo de Regodeigón

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Photo ofAs vinhas do Ribeiro na Barxa Longa

As vinhas do Ribeiro na Barxa Longa

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Photo ofCapela da Misericórdia de Beade Photo ofCapela da Misericórdia de Beade

Capela da Misericórdia de Beade

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Photo ofA Casa Grande da Pateira em Beade

A Casa Grande da Pateira em Beade

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Photo ofIgrexa de Santa María de Beade Photo ofIgrexa de Santa María de Beade Photo ofIgrexa de Santa María de Beade

Igrexa de Santa María de Beade

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Photo ofMas... é por aqui?...

Mas... é por aqui?...

Comments  (1)

  • Photo of AliceLigeiro
    AliceLigeiro Mar 14, 2024

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    Foi uma etapa muito interessante.
    O percurso teve partes lindíssimas quer nas margens do rio Minho quer nas do rio Avia.
    O parque da Veronza foi outro pedaço do Caminho que muito me agradou.
    Paralelamente à Natureza há sempre um património histórico edificado que nos faz puxar pela memória e nos enche a alma.
    Gostei muito.

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