Activity

Caminho de Santiago da Geira e dos Arrieiros (8ª Etapa Feás - Soutelo de Montes)

Download

Trail photos

Photo ofCaminho de Santiago da Geira e dos Arrieiros (8ª Etapa Feás - Soutelo de Montes) Photo ofCaminho de Santiago da Geira e dos Arrieiros (8ª Etapa Feás - Soutelo de Montes) Photo ofCaminho de Santiago da Geira e dos Arrieiros (8ª Etapa Feás - Soutelo de Montes)

Author

Trail stats

Distance
13.37 mi
Elevation gain
2,300 ft
Technical difficulty
Moderate
Elevation loss
1,732 ft
Max elevation
2,655 ft
TrailRank 
51
Min elevation
1,565 ft
Trail type
One Way
Moving time
5 hours 29 minutes
Time
7 hours 6 minutes
Coordinates
3848
Uploaded
May 22, 2023
Recorded
May 2023
Be the first to clap
Share

near Feás, Galicia (España)

Viewed 26 times, downloaded 1 times

Trail photos

Photo ofCaminho de Santiago da Geira e dos Arrieiros (8ª Etapa Feás - Soutelo de Montes) Photo ofCaminho de Santiago da Geira e dos Arrieiros (8ª Etapa Feás - Soutelo de Montes) Photo ofCaminho de Santiago da Geira e dos Arrieiros (8ª Etapa Feás - Soutelo de Montes)

Itinerary description

São 7h25m. Em Portugal será menos uma hora. A casa parece deserta. Só vimos o casal proprietário ontem à chegada, não sei se cá pernoitaram também. O Forno do Curro é uma antiga casa rural recuperada com bom gosto e qualidade. Lamentamos que qualquer outro tipo de serviço não haja para além da dormida. O pequeno almoço faz-nos falta. Temos na mochila uns “bocadillos de jamón" que a Aurora do Nictron nos arranjou ontem quando fomos à procura de jantar. O Nictron é o único bar/café/restaurante que existe em Feás. Não sabíamos e não vínhamos preparados. Não fora a amabilidade de Aurora e ontem teríamos ficado sem jantar. Mas a omeleta avantajada e saborosa, acompanhada de uma salada de tomate, comidas enquanto apreciávamos e escutávamos as discussões dum grupo de senhoras que, à nossa beira, alegremente jogavam às cartas, soube-nos miraculosamente porque só mesmo por milagre não ficámos sem jantar. Bem hajas Aurora.

Ala que se faz tarde!... Início de uma nova jornada. Puxamos a porta à saída como nos fora pedido. Penso verbalizando: — Espero que nada tenha ficado esquecido lá dentro. Apalpamos os bolsos e verificamos mentalmente a check-list. Está tudo. O sol começa a doirar a paisagem e o nosso ânimo. Pela imagem satélite traçamos o caminho mais curto para com o “caminho oficial” nos reencontrarmos. E cá vamos pela Rúa da Laxa, saudando muros e hórreos porque a esta hora gente por aqui ainda não há ou para os campos já se foi. Na Praza do Alcouce procuramos a Rúa Penoute Arriba e por ela “arriba" já vamos. Ao ritmo do eco dos nossos passos vou recordando o que ontem li sobre esta terra na Wikipedia em galego. A “parroquia" de Feás, oficialmente, nasceu em “xullo" de 1789, (o dia não recordo). Mas isso foi a “parroquia" porque o povoado é muito anterior, que o digam as várias “mámoas" que existem por perto. O nome é um fitónimo que significa “um lugar onde abunda o feno". De facto nesta veiga, encostada à cadeia montanhosa do Testeiro, os terrenos xistosos produzem os pastos necessários à criação de gado e são ótimos para a produção hortícola. A fertilidade deste solo, que fixou os povos, e o facto de por aqui passar uma das principais vias por onde transitavam os arrieiros do Ribeiro, que o vinho levavam para Pontevedra e Santiago, trouxe à aldeia, na idade média e na idade moderna, uma prosperidade que justificou a realização de uma feira mensal de relevante importância para a região. A toda esta evolução também não foi alheio o interesse dos cavaleiros de São João de Jerusalém, cuja comenda abrangia estas terras e destas gentes recebiam o dízimo.
Poucas são as casas que mostram as paredes nuas construídas de xistos terrosos que outrora caracterizavam a aldeia. Menos são ainda as que de lousa, ou “laxas”, se cobrem. A emigração para as Américas trouxe no retorno novas ideias de conforto e as velhas habitações estão a desaparecer.

Chegamos ao ponto de encontro com o “caminho oficial” e logo ali está a “igrexa de San Antón". É simples e no modelo galego com espadana de dois corpos. O portão do átrio está fechado e a porta da igreja também. Como hábito vem sendo, enviamos cá de fora a nossa pequena prece com a certeza que tão bem será escutada quanto fora se dentro do templo estivéssemos. Talvez por termos erguido os olhos ao Céu, foge a nossa atenção para a velha e arruinada casa de xisto que, num “balcón” bem elevado, tem um muito antigo e ferrugento arado de rodas e uma bicicleta pasteleira. A bicicleta ainda entendo mas o arado?... como terá ido ali parar?... pergunta sem resposta e motivo para matutar durante um bocado.

Seguimos a Rúa da Cruz no mesmo percurso que segue a procissão a 13 de junho. Mas enquanto o religioso préstito chega ao cruzeiro na Pasaxe da Cruz e dá a volta, nós continuamos rua acima. Aqui está outro cruzeiro à beira da estrada. Se história têm estes cruzeiros não me foi contada. Em termos escultóricos são de grande simplicidade. Na Galiza os cruzeiros constituem-se quase que como “mobiliário urbano”.

Já há algum tempo que vimos subindo e aqui há um caminho para o miradouro de Feás. Questionamos a hipótese de fazer mais quatrocentos metros para apreciar a paisagem mas se ela é suficientemente bela desde aqui… detemo-nos olhando a Sul. Além deve ser “O Castiñeiro" e ao lado o “Alto das Verdieiras", o vale de Feás, os telhados agrupados nos "lugares” até Vilachá…. bem, vamos lá que não há tempo para mais. Continuamos a subir em direção ao “Alto das Filgueiras”. Estão quase 200m de desnível positivo vencidos nos últimos 1500m andados. Esta é uma etapa tipo “quebra pernas" com muitas subidas e descidas. Felizmente as subidas mais difíceis serão feitas durante as primeiras horas da manhã.

O caminho aplanou e as carumas dos pinheiros, que o ladeiam caídas, suavizam nossos passos que evitam o duro piso de asfalto. Ladeamos o Alto das Filgueiras pelo ocidente sempre à mesma cota. Os pinheiros vão deixando passar frestas da luz matinal que alegra o nosso sentir. A paisagem estreita entre os pinhais e abre-se espaço à conversa. Nestas ocasiões em que a voz parece que ecoa, falamos baixinho e sentimo-nos mais peregrinos.

De novo a estrada se inclina a nosso desfavor. Calamo-nos para melhor controlar a respiração, exercício fundamental nestas longas caminhadas.

Chegámos ao Portelo da Fenteira e passamos agora junto ao Alto da Vixía. A subida grande acaba aqui e aqui acaba, por agora, também o asfalto.

Os dois quilómetros anteriores não tiveram história que valha a pena contar. Sempre a descer com os bastões a compasso, entre pinheiros ou eucaliptos, por caminho de terra batida, sem horizontes panorâmicos ou algo que  despertasse a atenção da câmara do telemóvel.

Passámos o Rego do Campo da Chancela, subimos um bocadito e entramos agora num bonito e antigo caminho ladeado por um velho muro de pedra entre carvalhos e fetos. Inspiramos o ar fresco que nos energiza o ânimo e refresca a alma. O chão macio deu agora lugar a empedrado do tipo romano. Será?... o muro vai caindo de velho e o musgo envolve as pedras fixando a humidade. Vamos descendo as ladeiras do Xorxillón. Deram-nos as árvores espaço para ver lá em baixo a aldeia de Magros mas depressa nos tolheram a vista. Um regato sem nome perdeu-se por aqui e encharcou o caminho. Estamos perto da Costa dos Muíños mas como moleiros já os não há também quem cuide de guiar as águas desapareceu com eles. Pedra aqui… pedra ali… e cachapuz! Botas na água. Felizmente não tem chovido e a regueira é mansa.

Entramos em Magros e aquela roseira na parede saúda-nos o olhar. Aqui à direita está um “monumento esquecido” porque útil deixou de ser para as gentes que aqui habitam mas como outrora já não labutam. A população envelhecida é-nos confirmada por um senhor idoso que interpelamos e nos diz que os filhos viu partir e “nenos non hai". Subimos lá. O “monumento” é esta eira e o conjunto de hórreos que a circunda. Já adivinhávamos mas a degradação é maior que a que à espera estávamos. Quedamo-nos o tempo que leva a observar o que é, mais o tempo de imaginar o que foi e o tempo de sonhar a faina comunitária que aqui era.

Saímos de Magros a subir por piso de cimento. Velhos muros ladeiam o caminho. Uma cerejeira, desfrutada pouco tempo há de haver, pende os ramos sobre o caminho. Não sei se por pensar em cerejas se porque a manhã já vai a meio, veio-me a fome. Perguntámos lá em baixo se café ou bar existia na aldeia. Que não, foi a resposta. Sentamo-nos agora no muro e tiramos a sanduíche tamanho XL, amabilidade da Aurora, e saboreamos com apetite o ótimo presunto, que de qualidade é… sem presunção. Um automóvel entra na bela e rica quinta que aqui à frente existe. As pessoas que dentro vão olharam-nos com um misto de curiosidade e pena no semblante. Comemos apenas uma parte da avantajada sanduíche. —Que bem sabia agora uma mini. Penso eu. —Que bem sabia agora um cafezinho. —diz a Alice. Voltam as mochilas às costas e o pensar é igual para ambos — Que raio, cada vez pesam mais!

Voltamos a pisar “camiño de arrieiros". Difícil não é imaginá-los a pé ou montados numa das bestas , conduzindo a récua, de vinho carregada, em longas ou curtas filas dependendo da importância da carga e da distância que tinham de percorrer. O piso foi-se gastando com o pisoteio de botas e ferraduras. É macio agora mas o pó sobe até às narinas. Sentimo-nos abraçados por esta floresta de encantos. Com a alma cheia de quietude e silêncio, damos graças.

No enleio da floresta não demos pelo passar do tempo nem do espaço, comprovando a relatividade de um em função do outro. Já aparecem as primeiras casas de Beariz. A velha porta de uma velha casa desta velha rua captura-nos o olhar. A taramela antiga foi complementada com um ferrolho de correr. Os pregos que este prendem à porta, por na madeira de carvalho não conseguirem penetrar ou por pouca habilidade do artista, estão todos tortos. Sorrimos pensando nas vezes que tão bela obra quanto esta que aqui se vê a fizemos nós. E é nesta serena disposição de espírito que chegamos em frente da Igrexa de Santa María. Foi entre 1612 e 1620 que terá sido construído o templo original. O tempo e as gentes que o tempo fazem foram-no modificando. Sei, por curioso que sou, que o campanário, com aquela balaustrada que o separa da fachada da igreja, foi projetado por José Cerviño González “O Pepe da Pena” no último quartel do século XIX. A porta está fechada e o portão do átrio também. Fica por ver o interior onde dizem estar um magnífico retábulo barroco feito por Francisco de Veja em 1732 com dourado e pintura feitos por Ignacio González em 1754. Não me perguntem quem é um ou quem o outro é porque também, se li, já me não recordo. Foram as minhas notas que me passaram a informação e agora, as portas sempre fechadas que vamos encontrando, negaram-me a vontade de peregrino, mais que aquela que o turista tinha, de ali entrar. Sigamos…

Por Beariz nos adentramos. Aqui para-nos uma escultura recente alusiva ao Caminho que vamos fazendo. Santiago Peregrino encima um bloco de tosco granito que tem um painel, esculpido em baixo relevo, com a vieira, o escudo de armas de Beariz e as palavras Santiago/Beariz/Braga. Beariz situa-se na transição entre o Carballiño (a que pertence) e Terras de Montes. Doada pela Rainha Dona Urraca, filha de Afonso VI de Leão e Castela e meia irmã de Dona Teresa mãe de Dom Afonso Henriques, ao Arcebispo de Santiago Gelmírez no ano de 1115, aparece na idade média ligada ao “monasterio de Acibeiro" que dominava toda a vida económica de Terras dos Montes.

A sinalização do “Camiño" trouxe-nos à Eira da Forxa e ao conjunto recuperado de Hórreos que a circundam. Aqui está uma obra que admiro. O passado rural cerealeiro de Beariz conserva-se neste espaço. Seria bom, em minha opinião, que se criasse aqui um centro interpretativo e/ou um museu etnográfico para que a memória do que Beariz foi se não perca e justifique o que hoje é. Demoramos aqui o tempo suficiente para notar o desenquadramento da torre de transformação da Fenosa neste conjunto monumental. Deus me perdoe mas a imagem de uma retrete no meio da sala de visitas foi o que ao pensamento me veio.

A rua por onde seguimos poderá ter sido importante no passado mas hoje é a Avenida de Merelles que centra o comércio de Beariz. — Se quisermos tomar um pequeno almoço decente temos que cortar aqui e irmos lá porque nesta rua não há cafés. — Não te esqueças que temos que levantar dinheiro. — o peregrino de hoje tem que se preocupar com coisas tão mesquinhas como o dinheiro. Longe vai o tempo que o peregrino saía sem nada, com nada chegava e rico voltava de graças e bênçãos. «Olhai as aves do céu que não semeiam nem ceifam… «Olhai como crescem os lírios do campo…». A “realidade” bate-me no ombro e o sonho esfuma-se. A ATM está ali e muito não tardará que supra a necessidade sentida. As Bem-Aventuranças de hoje tão diferentes são das de tempos há muito passados. Recolho o dinheiro e seguiríamos o caminho da nossa meditação não fora a figura exótica daquele senhor que do banco saía, tolher a nossa atenção. Exótica será a figura aqui porque noutro espaço, circunstâncias ou ambiente a atenção não atrairia. Veste fato preto com camisa branca imaculada, tem na cabeça um chapéu marialva de aba larga, caminha empertigado de mãos nos bolsos gingando o andar em pose de superioridade. Desligamos da figura quando entramos no Bar Beariz. Mas entra ele também. Quando esperávamos que a simpática funcionária nos servisse dirigiu-se-nos e, de modo muito agradável no falar, questionou-nos sobre a nossa proveniência e o caminho, numa atitude de quem muito bem o conhece. Não se revelou mas ficou-nos na ideia que estará relacionado com os estudos e diligências feitas para a implementação e oficialização do Caminho da Geira e dos Arrieiros.

Voltamos à Av. De Merelles e ali à frente vamos cortar para a Rúa de San Pedro e retomar o “Camiño Oficial”. Logo aqui está mais um belo exemplo do que em Beariz está a ser feito para conservar a cultura deste povo. Um lindíssimo cruzeiro esculpido em granito. No fuste tem a imagem de S. Pedro, parece-me. Logo a seguir, num “pedestal” de cimento novo, com acesso por degraus,  um belo e muito bem recuperado hórreo. Por detrás deste está outro, sacrificado e jacente como testemunhando o estado em que o primeiro estaria se recuperado não tivesse sido. Adiante, na singela Praza do Município está a Casa do Concello que se assemelha a uma vivenda de família abastada, sem a pretensão de modernas arquiteturas, inserida na urbanidade desta vila simples e orgulhosamente rural.

Passamos Candedo. Os omnipresentes hórreos veem-nos passar indiferentes e nós passamos quase quase indiferentes também à sua presença por tão repetido encontro. Queiramos ou não lá vai mais uma foto. Mantemos o waypoint em aberto para o caso de outros aparecerem. Atravessamos a OU-212 e depara-se-nos uma situação de que conhecimento não tínhamos: aqui pode optar-se por seguir por Barcia ou seguir por Albite. Uma senhora que segue à nossa frente na sua caminhada higiénica diz-nos que podemos seguir na direção de Albite. Questiono sobre a mais valia dessa alternativa, se o caminho é mais bonito, se algum monumento existe que a justifique. Não me convenceu. Despedimo-nos da solícita senhora e ficamos a olhar o painel informativo. Como a distância é acrescida em quase mais 2 kms e não temos o track no GPS para a alternativa por Albite, decidimos seguir por Barcia. Cá vamos. Por aqui estamos menos sujeitos a perder-nos.

Andámos não mais que 200m em asfalto e descemos agora por um carreiro que deve existir aqui por baixo da vegetação que nos chega a meio das pernas. Mas engano não há porque mais que a sinalização vou seguindo o GPS.

Chegamos à área recreativa de Barcia. É um belíssimo parque florestal de vegetação autóctone e ripícola onde corre um ribeirinho, o Rego de Ponte Pedriña. Apetecia ficar por aqui mais tempo a gozar desta frescura, na paz que a alma refresca e desta quietude que nos enleva e delicia. Mas o “camiño", chamando nos alerta para uma subida longa que em breve iniciaremos. Vamos passeando devagar e devagar meditando naquilo que até aqui nos trouxe. Um raio de sol penetra entre a ramagem e sentimo-lo como um beijo divino.

A subida que iniciámos logo que saímos do parque de Barcia deu-nos aqui uma pequena folga. Caminhamos numa floresta de vidoeiros ou bétulas de abençoada frescura. O caminho é largo e de macio pisar. Quando e se os arrieiros por aqui passavam talvez aproveitassem para mascar um pouco da casca destas árvores para limpar os dentes e tirar o mau hálito. Ali à frente o caminho já torna  a subir.

Aplanou, aqui entre pinheiros, e florearam nossos olhos a urze e giestas que o ladeiam. Corta o silêncio da serena quietude da floresta o cantar do cuco. Melodia de duas notas só, ecoa para lá do caminho e traz-nos a recordação da lenda da má e feia bruxa que prendeu o pássaro na casinha do relógio para que não a denunciasse quando à floresta acorria para outros bichinhos caçar.

Passámos o Rego do Porto do Carro, subimos mais um bocadinho e agora, no Rebordiño da Serra do Suído, começamos a descer. Depois de uma longa subida há quem pense que descer é fácil. Mas não, não é fácil. Sobretudo se a descida for acentuada. O tempo quente já nos obriga a racionar a água. Os bastões vão sustendo o que aos joelhos difícil se torna. Não conversamos nem quase pensamos. Todos os sentidos estão postos no chão. Devagarinho com passinhos curtos cá vamos descendo. Eucaliptos, pinheiros e carvalhos, tudo se conjuga à nossa volta para este caminho largo sombrear. Mesmo assim o calor é muito. O sol está alto e queima. A mochila empurra-nos. Vá, cuidado!... não entendo se a estrada agora é de terra batida se de asfalto coberta de terra. Há pequenas pedras que nos fazem esbarrar.

Ufa!... chegámos cá abaixo. O piso de asfalto é duro mas não escorrega. Já se veem ali as primeiras casas de Pardesoa. Ladeamos o muro de uma quinta e chegamos a uma fonte junto de um velho lavadouro. Está um senhor aqui perto e perguntamos: — Olá, bom dia. A água é boa para beber?... — resposta pronta: — Non hai mellor en toda Galicia. Proba. — sorridente deseja-nos “bon camiño” e afasta-se. Descem as mochilas dos ombros e colocam-se a descansar junto à parede enquanto nós nos refrescamos, dessedentamos e reenchemos as garrafas.

Entramos no núcleo de Pardesoa. Aqui, num terreno elevado sustido por um muro, seca ao sol um varal de roupa. O muro mais que a roupa traz-me à lembrança ter lido que o topónimo deriva do latim “parietem solam" e que em galego se traduziria por “parede soa" relacionando-se com eventual muro ou ruína que aqui existisse. Para mim esta origem latina tão boa será como outra seria, mas a curiosidade é talvez o meu pior defeito e procurei no dicionário, (não, não foi no da Google) e se “parietem" não me deixou muita dúvida na tradução para português como “muro", já “solam”… bem, tenho que procurar mais mas… não agora. Agora entrámos na EP-7204 e… … chiça!... um carro passou mesmo aqui rentinho. Bem, é preciso muito cuidado.

Entre velhos carvalhos chegamos junto do parque de festas de Santiago de Pardesoa. O primeiro monumento é… um cruzeiro, claro!... dizem os meus apontamentos que datará do séc. XVII ou XVIII à exceção da cruz que será já do séc. XX. Recordo que se diz na Galiza que terra que não tenha um cruzeiro é decerto terra alheia. A moldura arbórea deste espaço mistura velhos carvalhos, velhos cedros, velhos eucaliptos onde se devem encontrar velhos amigos com velhas tradições e uma delas é a procissão de San Bieito, que dá a volta aqui no cruzeiro, e, claro, San Bieito está ali em cima, na igrexa de Santiago. Vamos lá. Afinal só vim eu. A Alice ficou a descansar junto do cruzeiro. A igreja é do século XV mas várias foram as partes modificadas ao longo dos anos. Dizem que a Capela Mor é de 1625 e a Sacristia de 1822 ou serão ambas de 1625 e a fachada é que é de 1822?... Nada senão a fachada consegui ver… adivinhe-se porquê. Claro que a porta está fechada e… o portão também. Aqui compreende-se: a igreja foi assaltada há pouco e, além de terem roubado os cordões de ouro que San Bieito exibia, porque a ele oferecidos tinham sido por seus devotos, a imagem foi danificada. Regresso. A Alice está a apreciar um brasão e a pia de uma fonte. Escrito está quem foram as beneméritas que doaram estas peças mas mais nada nos é dado saber. Seguimos pela carvalheira com cheirinho a cedro e eucalipto e… espanto!... alguém aqui colocou uma placa toponímica com a indicação de “Igrexa de San Bieito". São Bento é aqui festejado mas o orago é Santiago. Erros que se não compreendem.

É por asfalto que chegamos a O Sisto. Sobre um muro uma placa de madeira confirma o bom “camiño” que seguimos. Uns metros adiante estão umas figuras artisticamente construídas com troncos de árvores que parecem-me representar um arrieiro montando uma mula e levando outra pela arreata, só que a mula que deveria ir atrás vai à frente. Desisto de decifrar o “enigma da mula" porque subir em asfalto depois de mais de vinte quilómetros andados requer concentração e controlo da respiração e isso afeta até o pensamento.

É pela Estrada de Santo Domingo que chegamos a Soutelo de Montes. Espreitamos a Casa Modernista de González Barros. Diz-se desta “casona” que é de inspiração Gaudi mas não me parece a mim; que é a “fachada alicatada com mosaicos" de “origen portugués” e feitos à mão; que os tetos dos salões foram executados por mestres portugueses; etc... Daqui vê-se a cúpula que coroa o edifício de quatro pisos e parte dos terraços abalaustrados… a minha companheira já vai lá à frente e eu tenho que ir atrás dela antes que me fuja ou se perca. Apanho-a junto do cruzeiro de Soutelo, na Praza da Constitución. A pequena praça está em obras. Não sei, mas parece, que o cruceiro também está a ser intervencionado. Uma rebarbadora pousada na base leva-me a questionar se será esta máquina utilizada para restituir à pedra a sua cor original. Espero que não. Os cruzeiros são parte indissolúvel da cultura e identidade histórica galega como os pelourinhos o são da nossa. Observo este: a plataforma tem dois degraus de arestas arredondadas; arredondadas são também as da base quadrangular; o fuste é estriado, dando a ideia que está coberto de escamas; o capitel tem volutas nos ângulos superiores, faces de anjos nas laterais e folhas de acanto na cesta; no anverso da cruz um Cristo agradavelmente proporcionado e no reverso a Virgem sobre a cabeça de um anjo que lhe serve de peanha. Satisfeito olho para a Alice que não o está tanto porque de estar à espera já está farta. Bem, já não falo do Camiño Real que nesta praça desemboca também e começo a tentar localizar o hotel Millenium que é onde pernoitaremos.
Chegámos. Bendizemos o Senhor por mais esta bela e agradável jornada.

Waypoints

PictographPhoto Altitude 1,588 ft
Photo ofHórreos na Rúa da Laxa Photo ofHórreos na Rúa da Laxa

Hórreos na Rúa da Laxa

PictographPhoto Altitude 1,648 ft
Photo ofDa igrexa de San Antón ao Cruceiro da Pasaxe da Cruz Photo ofDa igrexa de San Antón ao Cruceiro da Pasaxe da Cruz Photo ofDa igrexa de San Antón ao Cruceiro da Pasaxe da Cruz

Da igrexa de San Antón ao Cruceiro da Pasaxe da Cruz

PictographPhoto Altitude 1,713 ft
Photo ofCruzeiro e hórreos Photo ofCruzeiro e hórreos Photo ofCruzeiro e hórreos

Cruzeiro e hórreos

PictographPhoto Altitude 2,081 ft
Photo ofPanorâmica matinal Photo ofPanorâmica matinal

Panorâmica matinal

PictographPhoto Altitude 2,204 ft
Photo ofPor asfalto entre pinhais

Por asfalto entre pinhais

PictographPhoto Altitude 2,542 ft
Photo ofO caminho bem assinalado Photo ofO caminho bem assinalado

O caminho bem assinalado

PictographPhoto Altitude 2,291 ft
Photo ofMais sinalização

Mais sinalização

PictographPhoto Altitude 2,275 ft
Photo ofAntigo caminho Photo ofAntigo caminho Photo ofAntigo caminho

Antigo caminho

PictographPhoto Altitude 2,223 ft
Photo ofPelas encostas de Xorxillón Photo ofPelas encostas de Xorxillón Photo ofPelas encostas de Xorxillón

Pelas encostas de Xorxillón

PictographPhoto Altitude 2,161 ft
Photo ofAo jeito das Vias Romanas nas encostas de Xorxillón Photo ofAo jeito das Vias Romanas nas encostas de Xorxillón Photo ofAo jeito das Vias Romanas nas encostas de Xorxillón

Ao jeito das Vias Romanas nas encostas de Xorxillón

PictographPhoto Altitude 2,124 ft
Photo ofUm bebedouro no caminho mas fonte não há Photo ofUm bebedouro no caminho mas fonte não há Photo ofUm bebedouro no caminho mas fonte não há

Um bebedouro no caminho mas fonte não há

PictographPhoto Altitude 2,061 ft
Photo ofProcurando não molhar as botas Photo ofProcurando não molhar as botas Photo ofProcurando não molhar as botas

Procurando não molhar as botas

PictographPhoto Altitude 2,042 ft
Photo ofMagros- eira e hórreos Photo ofMagros- eira e hórreos Photo ofMagros- eira e hórreos

Magros- eira e hórreos

PictographPhoto Altitude 2,018 ft
Photo ofMagros - aldeia de velhas casas e muitas flores Photo ofMagros - aldeia de velhas casas e muitas flores Photo ofMagros - aldeia de velhas casas e muitas flores

Magros - aldeia de velhas casas e muitas flores

PictographPhoto Altitude 2,189 ft
Photo ofUm carvalhal de encantos Photo ofUm carvalhal de encantos Photo ofUm carvalhal de encantos

Um carvalhal de encantos

PictographPhoto Altitude 2,092 ft
Photo ofNuma rua de velhas portas, velhas pedras, velhas casas e de gentes... deserta. Photo ofNuma rua de velhas portas, velhas pedras, velhas casas e de gentes... deserta. Photo ofNuma rua de velhas portas, velhas pedras, velhas casas e de gentes... deserta.

Numa rua de velhas portas, velhas pedras, velhas casas e de gentes... deserta.

PictographPhoto Altitude 2,043 ft
Photo ofHórreos sobre muros, casa antiga e em ruínas Photo ofHórreos sobre muros, casa antiga e em ruínas

Hórreos sobre muros, casa antiga e em ruínas

PictographPhoto Altitude 2,025 ft
Photo ofIgrexa de Santa María de Beariz Photo ofIgrexa de Santa María de Beariz Photo ofIgrexa de Santa María de Beariz

Igrexa de Santa María de Beariz

PictographPhoto Altitude 2,052 ft
Photo ofO marco do caminho, a eira e os hórreos de Beariz Photo ofO marco do caminho, a eira e os hórreos de Beariz Photo ofO marco do caminho, a eira e os hórreos de Beariz

O marco do caminho, a eira e os hórreos de Beariz

PictographPhoto Altitude 2,086 ft
Photo ofCruzeiro e hórreo recuperado no 'barrio A Forxa' Photo ofCruzeiro e hórreo recuperado no 'barrio A Forxa'

Cruzeiro e hórreo recuperado no 'barrio A Forxa'

PictographPhoto Altitude 2,130 ft
Photo ofHórreos em Candedo e escolha de caminho Photo ofHórreos em Candedo e escolha de caminho Photo ofHórreos em Candedo e escolha de caminho

Hórreos em Candedo e escolha de caminho

PictographPhoto Altitude 2,185 ft
Photo ofO carreiro que mal se vê

O carreiro que mal se vê

PictographPhoto Altitude 2,002 ft
Photo ofÁrea Recreativa de Barcia e o Rego da Ponte Pedriña Photo ofÁrea Recreativa de Barcia e o Rego da Ponte Pedriña Photo ofÁrea Recreativa de Barcia e o Rego da Ponte Pedriña

Área Recreativa de Barcia e o Rego da Ponte Pedriña

PictographPhoto Altitude 2,205 ft
Photo ofFloresta de betulas

Floresta de betulas

PictographPhoto Altitude 2,418 ft
Photo ofPassam as flores e canta o cuco Photo ofPassam as flores e canta o cuco Photo ofPassam as flores e canta o cuco

Passam as flores e canta o cuco

PictographFountain Altitude 1,987 ft
Photo ofFonte em Pardesoa

Fonte em Pardesoa

PictographPhoto Altitude 1,983 ft
Photo ofRoupa a secar na Pardesoa

Roupa a secar na Pardesoa

PictographPhoto Altitude 1,946 ft
Photo ofUm Cruceiro, um Escudo, a Pia da fonte e a Igrexa de San Bieito de Pardesoa Photo ofUm Cruceiro, um Escudo, a Pia da fonte e a Igrexa de San Bieito de Pardesoa Photo ofUm Cruceiro, um Escudo, a Pia da fonte e a Igrexa de San Bieito de Pardesoa

Um Cruceiro, um Escudo, a Pia da fonte e a Igrexa de San Bieito de Pardesoa

PictographPhoto Altitude 1,876 ft
Photo ofEm O Sisto Photo ofEm O Sisto Photo ofEm O Sisto

Em O Sisto

PictographPhoto Altitude 2,139 ft
Photo ofEm Soutelo de Montes Photo ofEm Soutelo de Montes

Em Soutelo de Montes

Comments

    You can or this trail