Caminho Português do Interior - Etapa 16 Ourense - Cea *CPI*
near Ourense, Galicia (España)
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Trail photos
Itinerary description
Foi duro. O tecto do albergue estalava, provavelmente devido a contracção resultante da queda da temperatura durante a noite, e alguém ressonava a plenos pulmões. Levantámos antes das 6:30, saímos ainda noite, foi a Lua cheia que nos acompanhou no céu até fora das portas de Ourense. O bar ali ao lado prometeu abrir às 6:30, mas depois de 15 minutos de espera nada, experiência que mais tarde constatei que já tinha sido vivida por outros peregrinos. O pequeno almoço foi então no Open Baguette (fica prácticamente no caminho, waypoint incluído), croissants fresquíssimos, pão, sumos, café bem tirado, tudo com simpatia e rapidez a partir das seis da manhã.
Uma visita à catedral que abre às 7:30, mas na verdade carimbaram as nossas credenciais ainda antes disso. Muitas fotos pela cidade e na Ponte Vella ou Ponte Maior, lindíssima, vinda dos tempos medievais mas construída sobre fundações de uma anterior, romana do séc. I, que ali fazia a travessia do rio Miño. Nasceu o sol e depois, pouco mais adiante, subimos à Ermida de San Marcos da Costa. É um pequeno desvio que compensa: tal como a Ermida de Santa Águeda no dia anterior, antes de entrar em Ourense, a de San Marcos tem vistas fantásticas sobre a velha urbe.
O dia faz-se depois ora por asfalto ora por terra, mas sempre por entornos rurais que não nos fazem esquecer nem por um momento que estamos na Galiza. Sobretudo hoje, em que começam a proliferar, ao longo do percurso, os dramáticos hórreos, sentinelas de um tempo passado, que por todo lado parecem apontar-nos o dedo acusador por termos abandonado a nossa milenar ligação com a mãe Terra.
Tamallancos, Bouzas, Sobreira e a sua Ponte Sobreira, do séc. XIII ou XIV, um recanto idílico. Faramontaos, Viduedo, Casas Novas...
Quando finalmente chegamos a Cea, espera-nos um magnífico Albergue, que funciona na velha Casa das Netas, uma casa senhorial de gente de posses. Muito limpo, a camarata luminosa. O piso inferior, onde ficam a cozinha, sala de comer e banhos, é menos luminoso mas funcional. No pequeno quintal, onde todos estendiam a roupa e arejavam as botas, havia pratos de nozes para irmos partindo e comendo enquanto o sol baixava.
Na vila há pouco onde comer. Quando chegamos, pousamos os nossos pertences no albergue e fomos direito à Praza Maior, ao Café Bar Plaza. Nada havia, mas dois bons copos de branco fresco, batatas fritas e azeitonas por 2 euros... não se pode pedir melhor. Para jantar, e para não termos que palmilhar quilómetros, fomos ao bar Vaticano (waypoint incluído). Também diziam não ter nada de comidas... só bocadillos. Mas com jeito e encanto :) acabamos por convencer a senhora a fazer tortilla francesa, acompanhada de pão e tomate da horta, e ainda nos preparou algo para o dia seguinte. Ficamos bem, prontos para ir apreciar os vários fornos da aldeia, que aqui se faz o "melhor pão do mundo", o pão de Cea. Uma velha tradição nesta terra inserida numa rota comercial que em muito devido às peregrinações, unia terras do sul com a costa galega.
O final do dia sentados na soleira de uma porta na Praça Maior, com a sua bela Torre do Relógio ao centro, muita tranquilidade, uns miúdos a brincar, as aves desenhando os últimos vôos no ar parado deste Outubro, o Caminho é isto.
O CPI
O Caminho Português do Interior é um dos trajectos utilizados pelos peregrinos Portugueses para chegar a Santiago de Compostela. Por ele seguiam os que partiam da zona Centro, em redor de Viseu, e, claro, todos aqueles que viviam no eixo Viseu > Chaves. Também de Coimbra alguns seguiam por esta via, quando queriam evitar o Caminho Central que seguia via Porto > Valença, ou pretendiam juntar-se a outros grupos que partiam do interior.
Os peregrinos da Via da Prata, que segue de Sevilha até Astorga, onde se junta ao grande Caminho Francês, na maior parte das vezes deixavam a via da Prata em Granja de Moreruela onde tomavam a Via Sanabresa; outros saiam antes, em Zamora, entravam em Portugal por Quintanilha e saiam por Vinhais, atingindo depois Verin. Em qualquer caso todos acabavam por se juntar e nomeadamente a partir de Ourense todos seguem o mesmo trajecto até ao Campo de Estrelas - os do Caminho Interior Português e os da Via da Prata.
Foi um dos mais bonitos dos muitos caminhos que já fiz até Santiago, sobretudo na metade portuguesa do percurso. O Outono é mesmo a altura ideal para o fazer, com os dias mais curtos, as temperaturas amenas, os céus calmos. E a paisagem é espectacular, começando logo com os marmeleiros carregados, salpicando de amarelo toda a paisagem em torno de Viseu, o colorido feérico das vinhas que nos acompanha desde Reconcos, próximo de Lamego, até Vila Real, ou a beleza dos castanheiros e carvalhos vestindo-se de tons outonais até Chaves. E a abundância não tem limites: comemos toneladas de marmelos, maçãs, nozes (muitas nozes!), castanhas, amoras (serôdias!), pêras, uvas, medronhos...
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Aqui ficam os links para os registos de cada uma das etapas:
Track Integral 457 km agregador das 21 etapas
Etapa 01 15.82 km Farminhão - Fontelo
Etapa 02 17.79 Km Fontelo - Almargem
Etapa 03 24.56 Km Almargem - Ribolhos
Etapa 04 23.90 Km Ribolhos - Aldeia do Codeçal
Etapa 05 21.02 Km Aldeia do Codeçal - Lamego
Etapa 06 21.06 Km Lamego - Santa Marta de Penaguião
Etapa 07 19.68 Km Santa Marta de Penaguião - Vila Real
Etapa 08 27.50 Km Vila Real - Parada de Aguiar
Etapa 09 23.76 Km Parada de Aguiar - Vidago
Etapa 10 18.99 Km Vidago - Chaves
Etapa 11 29.93 Km Chaves - Verín
Etapa 12 21.39 Km Verín - Viladerrei
Etapa 13 24.48 Km Viladerrei - Sandiás
Etapa 14 14.01 Km Sandiás - Allariz
Etapa 15 24.05 Km Allariz - Ourense
Etapa 16 23.98 Km Ourense - Cea
Etapa 17 21.40 Km Cea - Castro Dozón por Oseira
Etapa 18 25.38 Km Castro Dozón - Lalín - A Laxe
Etapa 19 18.04 Km A Laxe - Bandeira
Etapa 20 25.19 Km Bandeira - Pico Sacro - Lestedo
Etapa 21 14.21 Km Lestedo - Santiago de Compostela
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Mapa geral da Peregrinação:
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Uma visita à catedral que abre às 7:30, mas na verdade carimbaram as nossas credenciais ainda antes disso. Muitas fotos pela cidade e na Ponte Vella ou Ponte Maior, lindíssima, vinda dos tempos medievais mas construída sobre fundações de uma anterior, romana do séc. I, que ali fazia a travessia do rio Miño. Nasceu o sol e depois, pouco mais adiante, subimos à Ermida de San Marcos da Costa. É um pequeno desvio que compensa: tal como a Ermida de Santa Águeda no dia anterior, antes de entrar em Ourense, a de San Marcos tem vistas fantásticas sobre a velha urbe.
O dia faz-se depois ora por asfalto ora por terra, mas sempre por entornos rurais que não nos fazem esquecer nem por um momento que estamos na Galiza. Sobretudo hoje, em que começam a proliferar, ao longo do percurso, os dramáticos hórreos, sentinelas de um tempo passado, que por todo lado parecem apontar-nos o dedo acusador por termos abandonado a nossa milenar ligação com a mãe Terra.
Tamallancos, Bouzas, Sobreira e a sua Ponte Sobreira, do séc. XIII ou XIV, um recanto idílico. Faramontaos, Viduedo, Casas Novas...
Quando finalmente chegamos a Cea, espera-nos um magnífico Albergue, que funciona na velha Casa das Netas, uma casa senhorial de gente de posses. Muito limpo, a camarata luminosa. O piso inferior, onde ficam a cozinha, sala de comer e banhos, é menos luminoso mas funcional. No pequeno quintal, onde todos estendiam a roupa e arejavam as botas, havia pratos de nozes para irmos partindo e comendo enquanto o sol baixava.
Na vila há pouco onde comer. Quando chegamos, pousamos os nossos pertences no albergue e fomos direito à Praza Maior, ao Café Bar Plaza. Nada havia, mas dois bons copos de branco fresco, batatas fritas e azeitonas por 2 euros... não se pode pedir melhor. Para jantar, e para não termos que palmilhar quilómetros, fomos ao bar Vaticano (waypoint incluído). Também diziam não ter nada de comidas... só bocadillos. Mas com jeito e encanto :) acabamos por convencer a senhora a fazer tortilla francesa, acompanhada de pão e tomate da horta, e ainda nos preparou algo para o dia seguinte. Ficamos bem, prontos para ir apreciar os vários fornos da aldeia, que aqui se faz o "melhor pão do mundo", o pão de Cea. Uma velha tradição nesta terra inserida numa rota comercial que em muito devido às peregrinações, unia terras do sul com a costa galega.
O final do dia sentados na soleira de uma porta na Praça Maior, com a sua bela Torre do Relógio ao centro, muita tranquilidade, uns miúdos a brincar, as aves desenhando os últimos vôos no ar parado deste Outubro, o Caminho é isto.
O CPI
O Caminho Português do Interior é um dos trajectos utilizados pelos peregrinos Portugueses para chegar a Santiago de Compostela. Por ele seguiam os que partiam da zona Centro, em redor de Viseu, e, claro, todos aqueles que viviam no eixo Viseu > Chaves. Também de Coimbra alguns seguiam por esta via, quando queriam evitar o Caminho Central que seguia via Porto > Valença, ou pretendiam juntar-se a outros grupos que partiam do interior.
Os peregrinos da Via da Prata, que segue de Sevilha até Astorga, onde se junta ao grande Caminho Francês, na maior parte das vezes deixavam a via da Prata em Granja de Moreruela onde tomavam a Via Sanabresa; outros saiam antes, em Zamora, entravam em Portugal por Quintanilha e saiam por Vinhais, atingindo depois Verin. Em qualquer caso todos acabavam por se juntar e nomeadamente a partir de Ourense todos seguem o mesmo trajecto até ao Campo de Estrelas - os do Caminho Interior Português e os da Via da Prata.
Foi um dos mais bonitos dos muitos caminhos que já fiz até Santiago, sobretudo na metade portuguesa do percurso. O Outono é mesmo a altura ideal para o fazer, com os dias mais curtos, as temperaturas amenas, os céus calmos. E a paisagem é espectacular, começando logo com os marmeleiros carregados, salpicando de amarelo toda a paisagem em torno de Viseu, o colorido feérico das vinhas que nos acompanha desde Reconcos, próximo de Lamego, até Vila Real, ou a beleza dos castanheiros e carvalhos vestindo-se de tons outonais até Chaves. E a abundância não tem limites: comemos toneladas de marmelos, maçãs, nozes (muitas nozes!), castanhas, amoras (serôdias!), pêras, uvas, medronhos...
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Aqui ficam os links para os registos de cada uma das etapas:
Track Integral 457 km agregador das 21 etapas
Etapa 01 15.82 km Farminhão - Fontelo
Etapa 02 17.79 Km Fontelo - Almargem
Etapa 03 24.56 Km Almargem - Ribolhos
Etapa 04 23.90 Km Ribolhos - Aldeia do Codeçal
Etapa 05 21.02 Km Aldeia do Codeçal - Lamego
Etapa 06 21.06 Km Lamego - Santa Marta de Penaguião
Etapa 07 19.68 Km Santa Marta de Penaguião - Vila Real
Etapa 08 27.50 Km Vila Real - Parada de Aguiar
Etapa 09 23.76 Km Parada de Aguiar - Vidago
Etapa 10 18.99 Km Vidago - Chaves
Etapa 11 29.93 Km Chaves - Verín
Etapa 12 21.39 Km Verín - Viladerrei
Etapa 13 24.48 Km Viladerrei - Sandiás
Etapa 14 14.01 Km Sandiás - Allariz
Etapa 15 24.05 Km Allariz - Ourense
Etapa 16 23.98 Km Ourense - Cea
Etapa 17 21.40 Km Cea - Castro Dozón por Oseira
Etapa 18 25.38 Km Castro Dozón - Lalín - A Laxe
Etapa 19 18.04 Km A Laxe - Bandeira
Etapa 20 25.19 Km Bandeira - Pico Sacro - Lestedo
Etapa 21 14.21 Km Lestedo - Santiago de Compostela
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Mapa geral da Peregrinação:
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Waypoints
Mountain hut
617 ft
Albergue de Peregrinos de Ourense
Provisioning
302 ft
Open baguettes abre às 6:00
Comments (1)
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Information
Easy to follow
Scenery
Moderate
Obrigado uma vez mais pela partilha!
Bom Caminho 🙏🦶