Caminho Primitivo - 12ª Etapa (Ponte de Ferreiros - Monte do Gozo)
near Ferreiros, Galicia (España)
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Trail photos
Itinerary description
Ó meu Deus, não temos emenda. É noite ainda e aqui vamos de frontais na testa alumiando o caminho. Chove e muita gente ficou no aconchego do moderno dormitório aquecido por chão radiante. Os nossos companheiros deixaram as mochilas que serão recolhidas pelo serviço de transporte que as entregará no albergue onde iremos passar a próxima noite. A minha e a da M.A. parecem fazer já parte de nós. Saímos com as capas protegendo corpo e mochila. Cá vamos. Ali estão dois vultos na noite. São peregrinos também e parecem pai e filha. Olham para papéis possivelmente indecisos sobre o caminho a seguir. Vimo-los sair quando nos preparávamos para o fazer também. Passamos a alguns metros e não obtemos resposta à nossa saudação. Seguem-nos agora a uns 30 m de distância. Fazemos uns 150m percorrendo em sentido inverso o caminho de ontem. Cortamos à esquerda antes de chegar ao bar da Tia Dolores. Passamos junto a uma ainda encerrada casa de "recuerdos e artesanía" e, por estreita rua que iluminamos com os pirilampos da testa, saímos do Outeiro. O espetro de um "hórreo míranos desde lo alto de un muro", a chuva impede-me de tirar o telemóvel e assim ficamos sem registo de imagem.
Passámos Lengüelle. Uma parede de terra à direita e um muro à esquerda enegresse mais a noite que nos envolve.
Chegamos a Boavista. Fora outra Boavista e íamos ao leitão. Aqui entramos no bar/restaurante Casa da Boavista para o pequeno almoço. Os nossos "perseguidores" entram também mas para o "breakfast".
Saíram primeiro os "ingleses" porque amanhece e já se vêem as setas do caminho, presumo. Nós abastecemo-nos para uma looonnga manhã.
A chuva passou e apenas os pingos que caem dos carvalhos e castanheiros nos incomodam, por isso alguns vamos ainda encapados. Por largo caminho, de folhas atapetado, chegamos a "A Brea". Ao lado mais uma sentida homenagem recorda outro peregrino que neste caminho aqui terminou a grande peregrinação. A manhã sorri-nos dizendo-nos que há sempre um amanhã. Os castanheiros vão deixando cair os ouriços, sinal de que já é outono.
A N-547 acompanha-nos agora separada por larga valeta, não vá o diabo tecê-las. Atravessamo-la. Agora o caminho é lageado de pedra e ladeado de cedros. Um parque de descanso relvado separa-nos do asfalto. Ali uma fonte parecendo antiga não o é. Estamos a entrar em Cerceda. A quantidade de albergues que vamos encontrando dizem-nos da importância de "el camino" nestas povoações. O empedrado no caminho acaba mas continuamos, por piso de terra ao lado da N-547.
Os bares do Empalme convidam os peregrinos mas ainda não a nós. Do lado de lá "Piligrín, la mascota del Xacobeo de 1993" em 3D "mira los pelegrinos que pasam". Luis Carballo quis condensar a figura do peregrino tradicional com um toque de modernidade e ilusão numa figura alegre, de cores vIvas, onde não falta a "calabaza y el bordón". Aqui alguém lhe deu forma no campo junto ao albergue Parrillada Andaina.
Atravessamos a sempre perigosa N-547. Empalme pode traduzir-se por "junção" e o topónimo adequa-se porque aqui se cruzam caminhos e estradas.
Seguimos por estreita rua ao lado da "Mesón Empalme" e agora cortamos à esquerda para, entre altas sebes e castanheiros, começarmos a descer.
Mais uma vez dois marcos (mojones) com setas em sentidos diversos levam-nos a ter que optar. Optamos pelo caminho mais antigo e seguimos pela esquerda. Atravessamos de novo a N-547 mas desta vez por passagem desnivelada. A "Fonte Santa" logo aqui está mesmo ao lado do caminho. Um pouco descuidada mostra um nicho vazio onde outrora se encontrava a imagem de Santa Irene, roubada nos anos oitenta do século passado. Datará de 1692 e diz-se que as suas águas curam feridas e verrugas. A água corre entre agriões e outras ervas e nós seguimos caminho. Por carreiro empedrado e bem cuidado passamos em frente à Ermida de Santa Irene. A porta fechada nega-nos a visita. No interior guarda-se a imagem sob a qual passando milagrosamente se acaba o hábito de choramingar das crianças choronas. Neste adro se celebra também a "fiesta de los solteros" com baile e merenda depois dos quais, com sorte ou azar, se sai comprometido.
Saímos do carreiro empedrado e passamos pelo povoado de casas de pedra.
Atravessamos de novo e com extremo cuidado a N-547 e encontramo-nos com o caminho de quem outra direção tomou umas centenas de metros atrás. Logo aqui entramos, por caminho lageado, numa bela e convidativa área de descanso com um telheiro de abrigo defronte a uma velha, mas bem cuidada, fonte com pia e frontal em forma de concha. O longo caminho que temos pela frente tolhe-nos a vontade de um merecido descanso e continuamos andando.
Passámos em frente ao Albergue Público de Santa Irene, que ocupa o antigo edifício da Casa do Concello de O Pino que também foi escola em tempos idos.
Seguimos ao lado da N-547 e agora, no "jogo da corda" que vimos fazendo, outra vez passamos para o outro lado por baixo dela.
Entramos em "A Rúa". À direita uma sebe de floridas hortências e logo a seguir, na esquina, uma velha fonte jorra água para o desgastado bebedouro dos animais. As casas de xisto velho falam da antiguidade do povoado e a imensidão de plantas que ornamentam a rua dizem tudo de um povo sensível e afetuoso. Aqui as parreiras com cachos secos e folhas amarelecidas sombreiam as fachadas. Agradável que é esta "rúa" de que nos despedimos passando por baixo de um lindíssimo hórreo sobre um muro "prantado".
Uma barreira de árvores à nossa frente sombreia a frescura do Rego de Burgo. Ouço um sincopado "clap!...clap!...clap!" atrás de mim. Olho... pela primeira vez passa por mim um grupo de peregrinos a cavalo. Sabia que os havia, mas por cinco caminhos diferentes já rumei a Santiago e nunca com eles me encontrara. Para tudo há uma primeira vez.
Saltamos de novo a corda...quero dizer: atravessamos de novo a N-547. Logo ali outro Memorial a mais uma peregrina caída no caminho. "Siempre caminarás entre nosotros" é a mensagem sentida de seus amigos gravada em lápide de pedra e, presumo, em seus corações. Pela proximidade a que está da estrada não custa imaginar como terá falecido. Caminho meditando. Olho o céu para lá das altas copas dos eucaliptos que bordeiam o caminho. Vem-me à memória uma frase da "125 Azul" dos Trovante «Só Deus tem os que mais ama». Olho para o lado. M.A. caminha alheia aos meus pensamentos mas é agora o centro deles. De novo meus olhos se voltam para cima, desta vez em ação de graças.
Passámos perto de O Pedrouzo. Muitos peregrinos por ali pernoitarão. Nós continuamos.
Em silêncio passámos entre eucaliptos, carvalhos e pinheiros, chantas e muros, por um caminho milhões de vezes pisoteado por peregrinos e romeiros. Passámos San Antón, mais eucaliptos, prados e campinas, mais silêncio e chegamos agora a "O Amenal". Passamos a ponte sobre o Rego do Monal e, à nossa frente, os cavalos peregrinos, livres de peso, descansam ali junto dos contentores do lixo. Os cavaleiros saciam-se com umas belas canecas no bar em frente. Então e os cavalos?... não precisam de beber?... não gostei.
Os eucaliptos abundam por estas paragens mas vêem-se entre eles resistentes carvalhos que viram aqueles estrangeiros invadir os seus domínios. Ouve-se passar um avião baixinho. Estamos perto do aeroporto de Lavacolla. Dizem que foi construído por presos políticos no tempo da guerra civil.
A banca de um indiano mostra muitos e variados recuerdos. Compramos "pins" e algumas lembranças. O caminho desvia em ângulo reto para contornar o aeroporto.
Junto à A-54 uma bela pedra esculpida com os símbolos xacobeos marca a entrada no concelho de Santiago. A emoção marca este momento sobretudo para quem fez centenas de quilómetros pelo caminho francês. Esta emoção ou uma crendice bacoca leva alguns peregrinos a colocar pedrinhas sobre este (e outros) marcos. Detesto este procedimento e, fora de mim, furioso, desrespeitando quem ali colocou as tais pedrinhas, varro-as com a mão, auuuu!... Chiça!... os meus companheiros olham para mim atónitos com o meu grito. O que aconteceu?... um choque elétrico percorreu-me o braço e deixou-me a mão dormente. Sem comentários, ninguém se ri!... valeu?...
Seria o caminho mais curto se o aeroporto não existisse, no entanto o caminho que trilhamos não está desprovido de beleza. As árvores aqui plantadas, onde abunda o acer e algumas autóctones, criam um ambiente que leva a esquecer que caminhamos junto de um aeroporto e perto de uma autoestrada. Debaixo de um fresco túnel de carvalhos com o chão coberto de heras, numa quietude inesperada, segue agora este belo caminho que calcorreamos.
Chegamos a San Paio. Faltam 10 minutos para a uma e sabia bem almoçar agora mas o restaurante Casa Porta de Santiago está fechado. Seguimos. A igreja de Santa Lucía ergue-se para lá de um muro à nossa direita. Templo e muro têm a mesma cor terrosa da pedra com que foram construídos. Idênticas são as casas à esquerda. Não fora a vontade de encontrar lugar para almoçar e ter-nos-íamos quedado a contemplar este magnífico conjunto.
Deixamos San Paio... com a barriga a dar horas?... afinal é o sino da igreja a bater a uma da tarde. Talvez em Lavacolla se encontre restaurante.
Entramos em Lavacolla. Topónimo curiosíssimo este que me fez lembrar a "terra dos bombos" em Portugal, Lavacolhos no concelho do Fundão. Mas curiosas e fantásticas são as "estórias" peregrinas que se criaram, escreveram e passaram gerações, e a que se divulgou sobre a origem do topónimo foi das mais incríveis que encontrei. Explico: no Livro V do Codex Calixtinus, considerado o primeiro guia dos Caminhos de Santiago e o único dos cinco livros que compõem o codex a que se atribui um autor conhecido, o francês Aymeric Picaud, foi escrito que num muito arborizado ponto do riacho que ali embaixo passa «las gentes francesas que peregrinan a Santiago acostumbran a lavarse, por amor al apóstol, no sólo sus partes, sino también, quitando los vestidos, la suciedad de todo el cuerpo». Transcrevi o texto em espanhol da "xacopedia" mas Picaud escreveu em latim e utilizou o termo "lauamentula" que, seguindo a "xacopedia" «alude a la limpieza [lava] de las partes pudendas [mentula]» e, vai daí, com opiniões de menores ou maiores especialistas, chega-se à conclusão que o que autor disse foi que ali naquele recanto do riacho era o sítio, traduzido para gallego, "lava collóns". Daí a Lavacolla foi uma questão de tempo. A estória (ou anedota) completa pode ler-se na "Xacopedia". Ora bem, será que Lavacollhos tem uma etimologia semelhante? A minha curiosidade levou-me a procurar. Vejam bem como as coisas são diferentes: segundo a investigação de especialistas portugueses, o topónimo derivará do latim se a ocupação do povoado se reportar ao tempo da ocupação romana. Neste caso temos: Lavacolhos
Passámos Lengüelle. Uma parede de terra à direita e um muro à esquerda enegresse mais a noite que nos envolve.
Chegamos a Boavista. Fora outra Boavista e íamos ao leitão. Aqui entramos no bar/restaurante Casa da Boavista para o pequeno almoço. Os nossos "perseguidores" entram também mas para o "breakfast".
Saíram primeiro os "ingleses" porque amanhece e já se vêem as setas do caminho, presumo. Nós abastecemo-nos para uma looonnga manhã.
A chuva passou e apenas os pingos que caem dos carvalhos e castanheiros nos incomodam, por isso alguns vamos ainda encapados. Por largo caminho, de folhas atapetado, chegamos a "A Brea". Ao lado mais uma sentida homenagem recorda outro peregrino que neste caminho aqui terminou a grande peregrinação. A manhã sorri-nos dizendo-nos que há sempre um amanhã. Os castanheiros vão deixando cair os ouriços, sinal de que já é outono.
A N-547 acompanha-nos agora separada por larga valeta, não vá o diabo tecê-las. Atravessamo-la. Agora o caminho é lageado de pedra e ladeado de cedros. Um parque de descanso relvado separa-nos do asfalto. Ali uma fonte parecendo antiga não o é. Estamos a entrar em Cerceda. A quantidade de albergues que vamos encontrando dizem-nos da importância de "el camino" nestas povoações. O empedrado no caminho acaba mas continuamos, por piso de terra ao lado da N-547.
Os bares do Empalme convidam os peregrinos mas ainda não a nós. Do lado de lá "Piligrín, la mascota del Xacobeo de 1993" em 3D "mira los pelegrinos que pasam". Luis Carballo quis condensar a figura do peregrino tradicional com um toque de modernidade e ilusão numa figura alegre, de cores vIvas, onde não falta a "calabaza y el bordón". Aqui alguém lhe deu forma no campo junto ao albergue Parrillada Andaina.
Atravessamos a sempre perigosa N-547. Empalme pode traduzir-se por "junção" e o topónimo adequa-se porque aqui se cruzam caminhos e estradas.
Seguimos por estreita rua ao lado da "Mesón Empalme" e agora cortamos à esquerda para, entre altas sebes e castanheiros, começarmos a descer.
Mais uma vez dois marcos (mojones) com setas em sentidos diversos levam-nos a ter que optar. Optamos pelo caminho mais antigo e seguimos pela esquerda. Atravessamos de novo a N-547 mas desta vez por passagem desnivelada. A "Fonte Santa" logo aqui está mesmo ao lado do caminho. Um pouco descuidada mostra um nicho vazio onde outrora se encontrava a imagem de Santa Irene, roubada nos anos oitenta do século passado. Datará de 1692 e diz-se que as suas águas curam feridas e verrugas. A água corre entre agriões e outras ervas e nós seguimos caminho. Por carreiro empedrado e bem cuidado passamos em frente à Ermida de Santa Irene. A porta fechada nega-nos a visita. No interior guarda-se a imagem sob a qual passando milagrosamente se acaba o hábito de choramingar das crianças choronas. Neste adro se celebra também a "fiesta de los solteros" com baile e merenda depois dos quais, com sorte ou azar, se sai comprometido.
Saímos do carreiro empedrado e passamos pelo povoado de casas de pedra.
Atravessamos de novo e com extremo cuidado a N-547 e encontramo-nos com o caminho de quem outra direção tomou umas centenas de metros atrás. Logo aqui entramos, por caminho lageado, numa bela e convidativa área de descanso com um telheiro de abrigo defronte a uma velha, mas bem cuidada, fonte com pia e frontal em forma de concha. O longo caminho que temos pela frente tolhe-nos a vontade de um merecido descanso e continuamos andando.
Passámos em frente ao Albergue Público de Santa Irene, que ocupa o antigo edifício da Casa do Concello de O Pino que também foi escola em tempos idos.
Seguimos ao lado da N-547 e agora, no "jogo da corda" que vimos fazendo, outra vez passamos para o outro lado por baixo dela.
Entramos em "A Rúa". À direita uma sebe de floridas hortências e logo a seguir, na esquina, uma velha fonte jorra água para o desgastado bebedouro dos animais. As casas de xisto velho falam da antiguidade do povoado e a imensidão de plantas que ornamentam a rua dizem tudo de um povo sensível e afetuoso. Aqui as parreiras com cachos secos e folhas amarelecidas sombreiam as fachadas. Agradável que é esta "rúa" de que nos despedimos passando por baixo de um lindíssimo hórreo sobre um muro "prantado".
Uma barreira de árvores à nossa frente sombreia a frescura do Rego de Burgo. Ouço um sincopado "clap!...clap!...clap!" atrás de mim. Olho... pela primeira vez passa por mim um grupo de peregrinos a cavalo. Sabia que os havia, mas por cinco caminhos diferentes já rumei a Santiago e nunca com eles me encontrara. Para tudo há uma primeira vez.
Saltamos de novo a corda...quero dizer: atravessamos de novo a N-547. Logo ali outro Memorial a mais uma peregrina caída no caminho. "Siempre caminarás entre nosotros" é a mensagem sentida de seus amigos gravada em lápide de pedra e, presumo, em seus corações. Pela proximidade a que está da estrada não custa imaginar como terá falecido. Caminho meditando. Olho o céu para lá das altas copas dos eucaliptos que bordeiam o caminho. Vem-me à memória uma frase da "125 Azul" dos Trovante «Só Deus tem os que mais ama». Olho para o lado. M.A. caminha alheia aos meus pensamentos mas é agora o centro deles. De novo meus olhos se voltam para cima, desta vez em ação de graças.
Passámos perto de O Pedrouzo. Muitos peregrinos por ali pernoitarão. Nós continuamos.
Em silêncio passámos entre eucaliptos, carvalhos e pinheiros, chantas e muros, por um caminho milhões de vezes pisoteado por peregrinos e romeiros. Passámos San Antón, mais eucaliptos, prados e campinas, mais silêncio e chegamos agora a "O Amenal". Passamos a ponte sobre o Rego do Monal e, à nossa frente, os cavalos peregrinos, livres de peso, descansam ali junto dos contentores do lixo. Os cavaleiros saciam-se com umas belas canecas no bar em frente. Então e os cavalos?... não precisam de beber?... não gostei.
Os eucaliptos abundam por estas paragens mas vêem-se entre eles resistentes carvalhos que viram aqueles estrangeiros invadir os seus domínios. Ouve-se passar um avião baixinho. Estamos perto do aeroporto de Lavacolla. Dizem que foi construído por presos políticos no tempo da guerra civil.
A banca de um indiano mostra muitos e variados recuerdos. Compramos "pins" e algumas lembranças. O caminho desvia em ângulo reto para contornar o aeroporto.
Junto à A-54 uma bela pedra esculpida com os símbolos xacobeos marca a entrada no concelho de Santiago. A emoção marca este momento sobretudo para quem fez centenas de quilómetros pelo caminho francês. Esta emoção ou uma crendice bacoca leva alguns peregrinos a colocar pedrinhas sobre este (e outros) marcos. Detesto este procedimento e, fora de mim, furioso, desrespeitando quem ali colocou as tais pedrinhas, varro-as com a mão, auuuu!... Chiça!... os meus companheiros olham para mim atónitos com o meu grito. O que aconteceu?... um choque elétrico percorreu-me o braço e deixou-me a mão dormente. Sem comentários, ninguém se ri!... valeu?...
Seria o caminho mais curto se o aeroporto não existisse, no entanto o caminho que trilhamos não está desprovido de beleza. As árvores aqui plantadas, onde abunda o acer e algumas autóctones, criam um ambiente que leva a esquecer que caminhamos junto de um aeroporto e perto de uma autoestrada. Debaixo de um fresco túnel de carvalhos com o chão coberto de heras, numa quietude inesperada, segue agora este belo caminho que calcorreamos.
Chegamos a San Paio. Faltam 10 minutos para a uma e sabia bem almoçar agora mas o restaurante Casa Porta de Santiago está fechado. Seguimos. A igreja de Santa Lucía ergue-se para lá de um muro à nossa direita. Templo e muro têm a mesma cor terrosa da pedra com que foram construídos. Idênticas são as casas à esquerda. Não fora a vontade de encontrar lugar para almoçar e ter-nos-íamos quedado a contemplar este magnífico conjunto.
Deixamos San Paio... com a barriga a dar horas?... afinal é o sino da igreja a bater a uma da tarde. Talvez em Lavacolla se encontre restaurante.
Entramos em Lavacolla. Topónimo curiosíssimo este que me fez lembrar a "terra dos bombos" em Portugal, Lavacolhos no concelho do Fundão. Mas curiosas e fantásticas são as "estórias" peregrinas que se criaram, escreveram e passaram gerações, e a que se divulgou sobre a origem do topónimo foi das mais incríveis que encontrei. Explico: no Livro V do Codex Calixtinus, considerado o primeiro guia dos Caminhos de Santiago e o único dos cinco livros que compõem o codex a que se atribui um autor conhecido, o francês Aymeric Picaud, foi escrito que num muito arborizado ponto do riacho que ali embaixo passa «las gentes francesas que peregrinan a Santiago acostumbran a lavarse, por amor al apóstol, no sólo sus partes, sino también, quitando los vestidos, la suciedad de todo el cuerpo». Transcrevi o texto em espanhol da "xacopedia" mas Picaud escreveu em latim e utilizou o termo "lauamentula" que, seguindo a "xacopedia" «alude a la limpieza [lava] de las partes pudendas [mentula]» e, vai daí, com opiniões de menores ou maiores especialistas, chega-se à conclusão que o que autor disse foi que ali naquele recanto do riacho era o sítio, traduzido para gallego, "lava collóns". Daí a Lavacolla foi uma questão de tempo. A estória (ou anedota) completa pode ler-se na "Xacopedia". Ora bem, será que Lavacollhos tem uma etimologia semelhante? A minha curiosidade levou-me a procurar. Vejam bem como as coisas são diferentes: segundo a investigação de especialistas portugueses, o topónimo derivará do latim se a ocupação do povoado se reportar ao tempo da ocupação romana. Neste caso temos: Lavacolhos
Waypoints
Photo
1,408 ft
Por terra jazem as placas que fizeram parte do monumento comemorativo da visita do Papa João Paulo II a Santiago
Comments (1)
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Information
Easy to follow
Scenery
Moderate
Etapa muito bonita.
Caminhar por entre muros, rodeada de árvores de grande porte, divertir-me com pequenos "elementos" como ouriços de castanheiro, ou singelas plantas campestres, dá - me sempre muito gozo.
São imagens que ficam gravadas e me deliciam.
Se ainda juntarmos o património edificado, maiores e melhores são as memórias.