Caminho Primitivo - 3ª Etapa (Porciles - Campiello)
near Porciles, Asturias (España)
Viewed 255 times, downloaded 15 times
Trail photos
Itinerary description
Ontem jantámos no albergue. Uma "cena" simples como simples deverá ser a alma de peregrino. Nico pediu-nos a roupa que precisava de ser lavada.
Fui pela nossa há pouco. Eram 6:45h. Nico olhou para mim e, com ar de poucos amigos disse: "es temprano. Solo a las siete según lo acordado."
Ok. Espero...
São finalmente 7 horas. Desço e encontro toda a roupa dobrada e o pequeno almoço na mesa.
Tomamos o "disayuno", arrumamos a roupa nas mochilas, deixamos o "donativo" que achamos justo e saímos.
O céu veste-se de cor na beleza do amanhecer sobre os montes. Algures, por aqui, entre as riscas verde-escuro das árvores que desenham os prados, nasce o Nonaya. Uma névoa flutuante paira sobre o vale.
Tudo nos transmite uma energia forte que nos envolve como uma aura benfazeja.
Podíamos atalhar caminho seguindo pela N-634 mas decidimos descer um pouco, percorrendo, em sentido contrário, o caminho calcorreado ontem, para seguir "El Camino" como sinalizado.
Passámos por algumas casas, hórreos e paneras. Caminhamos agora entre muros de pedra que bordeiam os prados. Não estão as gentes daqui preocupadas com o encaixe e alinhamento das pedras. Habituado que sou aos muros das serras dos Candeeiros e Santo António, estes parecem mais filas de pedras amontoadas. Mesmo assim, transmitem uma beleza geométrica a estes campos ainda vazios de gado.
Vamos ferindo as botas por um velho caminho cascalhento, "el Camín Real", entre a N-634 e a "Autovia de la Espina". A importância que este caminho teve no passado não a terá a inacabada autovia hoje.
Nos campos tantíssimos são os fardos de palha que descansam em murtalhas de plástico que me entristece. Este novo método de silagem não me agrada mesmo. Não seria o plástico evitável neste entorno tão natural?... recordo, com saudade, as antigas medas de palha que povoavam campos e há tanto que desapareceram. Que ecológicas eram!...
Pensava ainda no mal que vamos fazendo, poluindo com plástico os espaços felizes onde criamos e semeamos aquilo que nos alimenta, quando, pelo "Camín de Misa", encontramos a igreja de Santa Marina de Bodenaya. Igreja estranha esta, servida apenas por uma pequena porta que mais parece porta de sacristia.
Rogo à Santa, "abogada del agua" que "lave de plástico" a mente dos sábios que inventam técnicas inovadoras, sobretudo quando vêm poluir espaços tão belos.
Medito no topónimo Bodenaya. O radical "naya" derivará de "Navia", a celta deusa da água e da fertilidade (seria também deusa da soberania e da vitória em combate). Navia estará na base do nome de rios como o Nabão e o Neiva em Portugal e o Navea, o Nalón e o Nonaya em Espanha. Este último nasce aqui tão perto, estarão os nomes relacionados?... Dizem ainda, alguns historiadores, que o prefixo "bode" ou "bod" estará também relacionado com divindades celtas com ligações a água, num significado mais próximo de "fonte". Poderá Bodenaya ser o equivalente celta de "Fonte (ou nascente) de Água"?... de facto água abunda por aqui.
O Albergue de Bodenaya, com paredes forradas a tábuas e exoticamente enfeitado com grande quantidade e variedade de símbolos "xacobeos", tem, numa vieira peregrina, a distância marcada de 256 kms para Santiago. Por cima um hórreo, tipo museu etnográfico, apresenta uma série de tralhas agrícolas de tempos passados. Quando visito ou passo por estes "museus" penso que também eu devia estar nestes sítios porquanto sou do tempo em que se utilizavam estes utensílios e eu próprio utilizei muitos deles.
Absorto, nestes pensamentos segui caminho e atravessei Espina sem de nada tirar registo. Decerto nada tão forte foi que clamasse pela minha atenção. Estamos numa rotunda que contornamos por um carreiro pisoteado por peregrinos. À direita, com um inquisidor ar de pasmo, uma vaca mira-nos para lá do fio eletrificado que nos separa. Qual terá sido a intenção do ganadeiro?... que a vaca não saísse ou que nós não entrássemos?...
Seguimos por um belo caminho entre sebes silvestres e arbustos, subindo pouco a pouco.
Entramos em "La Pereda" (ou "La Preda", como por aqui se diz), a primeira povoação do concelho de Tineo/Tinéu. Logo aqui damos com a Capela do Cristo dos Aflitos. Este velho monumento (séc. XV) ficou ao abandono muitos anos, diz-se até que de galinheiro serviu. A imagem do Cristo, venerado por moradores e peregrinos, esteve exilado na Igreja paroquial e regressou ao seu lar com a restauração do templo que se deve à insistência das associações dos amigos "Del Camino de Santiago" junto das autoridades municipais e autonómicas. Na parede frontal há um relógio de sol originalíssimo. Supostamente indicará as horas entre as 4h e as 13h; tem as coordenadas do local com "phi", "lambda" e "delta" de respectivamente 43° 23' 27" N, 6° 20' 30" W e 61° E. Tem ainda escrito o seguinte texto: "AFFLICTIS LENTAE CELERES GAUDENTIBUS HORAE" que traduzo assim: "lentas são as horas de aflição, rápidas as de regozijo".
Outro albergue privado, exuberante na decoração externa, convida os peregrinos a quedarem-se por aqui. Chama-se "El Minero" e para o ilustrar tem um manequim, vestido como se vestiam os mineiros, à porta e as paredes são quadros "colage" de vieiras em desenhos "naïf". Os caminhos perdem mística e ganham folclore. Vamos lá cantando e rindo.
Pelo caminho temos encontrado pontos de interesse assinalados com painéis oficiais. Aqui está mais um: "La Fonte Reconco". Melhor fora que não estivesse assinalado dado o estado de abandono em que se encontra. Data de 1809 e foi um lavadouro de chão, tanques, regueira e paredes de pedra onde se lavou roupa, bebeu água e acoitou muita gente. Serve agora de memória de outros tempos mas desaparece entre heras e esquecimento. De que vale o painel sinalizador?...
Subindo pelos caminhos de "La Sierra" ladeados de muros, placas de ardósia espetadas ou mesmo arame farpado, sombreados por castanheiros e carvalhos, atapetados por folhas molhadas e escrementos de bovinos, vamo-nos perdendo, quando possível, na contemplação da meseta de "La Espina" e da serra "La Curiscada" ao longe onde se eleva uma nuvem de evaporação matinal. Assim vamos entrando no grande concelho de Tineo/Tinéu.
Por caminho rural, com duas linhas paralelas separadas por longo canteiro de erva, desenhadas por rodas de tratores e veículos agrícolas Chegamos a "El Pedregal ".
Entramos na AS-216 e caminhamos sem proteção junto ao "quitamiedos", que se o for é apenas para os condutores que vêm de frente porque nós vamos com algum medo porque há bastante trânsito nesta estrada. Numa curva apertada, à esquerda, junto a um grande e velho carvalho, aparece a tripla arcada e o campanário de "La Ilesia de los Santos Xusto y Pastor" que datará do séc. XV ou XVI. Justo e Pastor, "los Santos Niños", foram martirizados com 7 e 9 anos respectivamente, em Alcalá de Henares pelo perfeito Publio Daciano no ano 304, por se recusarem a negar a fé Cristã.
A imperfeição do perfeito e a coragem (ou teimosia) dos Meninos Mártires ocupou o meu espírito durante tanto tempo que passei o "humilladero", que já em 1693 assinalava "el Camino Primitivo " em El Pedregal, sem dele dar fé. Este cruzeiro de pedra foi, em 1930, transladado para o átrio da igreja, voltou ao lugar original não sei quando mas sei que o temporal de Fevereiro de 2016 o deitou abaixo deixando-o em pedaços. Felizmente alguém o mandou recuperar, ainda que eu não tenha dado por isso quando passei. Ficou o desejo por satisfeito ser. Há "marcos" que marcam e permacem no tempo que vale a pena ver e sentir. Este passou por mim sem que acontecesse uma ou outra coisa.
Agora, porque procuro chão para as botas entre o tapete de escrementos de vaca, vou calar-me e seguir atento.
Não consegui. É tão belo o caminho que a contemplação da paisagem fez com que, de vez em quando enterrasse as botas na lama ou na m... . Os campos verdejantes, esquadrilhados por linhas de árvores, com manadas pastando, trazendo-me à memória S. Miguel e as pastagens de "vacas felizes", os fetos bordejando e os carvalhos e castanheiros velhos cobrindo o caminho, são quadros de rara beleza. Foram sete quilómetros e tal de admirável prazer.
Estamos agora a chegar ao campo de S. Roque. No lugar deste frondoso carvalhal diz-se ter existido um castro asturiano que deu origem à "Villa de Tineo/Tinéu".
O Bar do Campo de San Roque tem livre uma mesa corrida de madeira no alpendre. Abancamos para um almoço ligeiro onde não falta uma fatia de Bolo Caseiro de Castanha e Noz.
Estamos a começar a comer quando chega Carlos, um peregrino português. Apertamo-nos, arranjando lugar para mais um. Carlos levanta-se apressado, dirige-se a uma senhora que transporta um saco de carvão demasiado pesado, a avaliar pela dificuldade que manifesta, pega no saco e leva-o para a cozinha do bar. Regressa e junta-se a nós como se nada fora. Espírito peregrino. Bem hajas Carlos pela lição.
Passamos pela capela de San Roque, que se diz ter sido construída por peregrinos franceses no séc. XIII. Indubitável é que está ligada à fundação do Convento de São Francisco em Tineo. Na tradição oral destas gentes, foi o próprio S. Francisco de Assis que fundou esta capela na sua peregrinação a Santiago, de onde regressou pelo Camino Primitivo. Está fechada. Gostaríamos de ter visto a imagem de S. Roque com as vestes de peregrino junto à do cão que lhe trazia diariamente um pão, sem o que o santo teria morrido de fome quando, pestilento, se isolou na floresta perto de Piacenza.
Seguimos agora pelo "Paseo de los frailes" por onde passaram, durante séculos, os frades Franciscanos para irem do Convento à capela. A meio deste belo "paseo", com uma panorâmica belíssima, encontramos o monumento ao peregrino inaugurado no ano jacobeu de 2004. Lê-se na base "VIATOR HORAM ASPICE ET ABI VIAM TUAM", traduzindo "VIAJANTE VÊ AS HORAS E SEGUE O TEU CAMINHO". A frase tem uma razão de ser: é o monumento em si também relógio de sol. Para mim, e eventualmente para cada um que o lê, tem um sentido mais íntimo, por isso o meu o guardo para mim.
Por baixo, numa placa, o manual "como ver as horas", sem o qual não saberíamos que são mesmo 12h26m. Vimos as horas e seguimos.
Entramos em Tineo/Tinéu. Distraio-me perdido nas fachadas, balcões e varandas das casas da Calle Sánchez Campomanes. Encontro a Igreja de S. Pedro, antigo Mosteiro de São Francisco. Vou entrar, mas... onde estão os meus companheiros?... entretidos seguem pela Calle Mayor abaixo. Assobio forte. Toda a gente olha. Felizmente uma deles também. Chamo... o caminho não é por aí!... digo. Tivéramos tempo e deixá-los-ia seguir e iria ter com eles para visitar a vila. Talvez um dia...
Voltam atrás. Seguimos pela Trav.ª De La Torre, Calle La Fuente... Bolas!... esqueci-me da Igreja de S. Pedro. Fico com pena e ainda penso nisso quando encho a garrafa de água na antiga fonte que tantos peregrinos já decedentou.
A estrada de asfalto sobe e nós com ela, devagar porque já se fazem sentir os quilómetros que ficaram para trás.
Esta é a subida a "las Canteironas". A paisagem à nossa esquerda é de sonho. Ali em baixo Tineo cobrindo a encosta. Ao fundo, onde repousam nossos olhos, as montanhas.
Passamos a fonte de S. João. Há gente enchendo garrafões para levar. Aguardamos vez para encher uma garrafa já vazia. Ao lado, S. João olha-nos complacente por detrás do vidro do nicho. Continuamos a esperar... aqui, peregrino não tem prioridade. Garrafões todos cheios, pronto! agora nós. Cá vamos com água fresquinha.
O asfalto do caminho deu lugar a cascalho e terra, atapetado com folhas e ouriços e emoldurado de carvalhos e castanheiros.
Atravessamos um regato. Ao lado da insignificante ponte de betão o letreiro dá-lhe importância: "Regueiru de Robleu". Continuamos a subir. Para lá da cerca de madeira há paisagens deslumbrantes. Chegamos junto de uma grande faia. Pregado na cerca, o letreiro informa: "Faya de Josefa 2-2-1959 Amb. Protegido". Quase da minha idade. Vejam lá como está crescido.
A cerca de madeira continua a acompanhar-nos e as paisagens a deslumbrar-nos. Chegamos a uma varanda natural a que alguém deu a posse à Rainha nascida nas Astúrias: "Mirador de Letizia". E informa "Borres 16 kms". Não é nosso destino hoje mas quase. Apreciamos a vila que se espreguiça pela encosta de "la Sierra". Vista digna de rainha.
Continuamos subindo por caminhos de encanto, com a alma leve e o estômago também. A mochila pesa quilómetros. Paramos para uma bucha e, assim, aliviamos o peso.
Retomamos a subida. Os carvalhos e castanheiros de grande porte sombreariam o caminho se o não fizessem as nuvens que começam a adensar-se. A temperatura é a ideal para caminhar. Lajes de ardósia e muros de verde musgados bordejam este carreiro de encantos.
As ardósias atapetam agora o chão.
Ao longe espreitam-nos as montanhas que atravessaremos nos próximos dias.
Andamos cá por cima. Ladeiam o caminho vedações de arame e algumas silveiras onde as amoras silvestres aparecem maduras e apetitosas. Vamos colhendo, comendo e andando.
Descemos agora "el Camin de Riveiros" atapetado em betão riscado para escoamento da água. Caminho pesado para botas e joelhos.
Estamos perto de Piedratecha (ou Paratecha), onde existiu uma "venta", paragem de pastores transumantes, arrieiros e peregrinos, que pertencia ao Mosteiro de Santa Maria La Real de Obona. Este mosteiro está perto e não o quero perder. Os meus companheiros não manifestam vontade de me acompanhar neste desvio. Atravesso a AS-350 em passo apressado deixando-os para trás. Desço pelo belo mas muito acidentado caminho, com pedras lavadas e escorregadias, que os monges de Cister terão tantas vezes percorrido.
Encontro o desvio do "Camino". Já vejo o mosteiro por entre as árvores. Passo uma pequena ponte sobre o rio Deina, que não passa de um pequeno regato, e rapidamente chego cá. Mas está a chegar também alguém indesejado: a chuva em bátegas grossas. Bolas! Procuro lugar onde me acoitar. Desço a correr as velhas escadas de pedra à direita da igreja, olho e registo o brasão entre duas janelas que tem uma imagem de S. Bento sobre ele, entro pelos arcos do que poderá ter sido casa do abade ou sala de audiências e, protegido da chuva, visto a capa para me proteger, a mim e à mochila.
Estou no meio de escombros. No lado contrário está o claustro barroco. O céu desabou numa torrente de água. Aqui, onde me encontro, por tão deprimente que é, não uso a câmara do telemóvel. Lá fora a chuva não mo permite.
Penso na história admirável e controversa deste monumento que, tendo sido ponto obrigatório, literalmente obrigatório por imposição régia, de passagem dos peregrinos, jaz agora ao abandono, esquecido de gentes, instituições e governos.
A fundação, datada do séc. VIII, é atribuída a um tal Adelgaster dito filho de Silo o rei que, oficialmente filhos não teve mas que quando, por estes lados, ursos caçava, também outras coisas andou caçando.
Deste mosteiro tantas são as lendas que o povo conta que um grande livro se escreveria. Algumas transcreve-as Morán na grande descrição que faz deste mosteiro no seu blog. Vós, que intenção tendes de este Camino peregrinar, lede também porque vale a pena e, como eu, ficareis desejosos de o conhecer.
A chuva não pára e os meus companheiros não sei onde páram ou se pararam. Abrigado pela capa vestida, decido por-me a caminho.
Acabei de atravessar a ponte do regato e eis que vêm por aí abaixo três ciclistas ensopados até aos ossos.
- ¿Está cerca el monasterio? - perguntam.
- Depues del puente, cien metros a la derecha. - respondo.
Aqui vou chapinhando as botas e os pensamentos.
Penso em Silo que se envolveu com doña Leo que misturava três poções de amor: ardente, paciente e irremediável;
Penso no povo que dizia que um labirinto "tan grande como el mundo" por debaixo do cenóbio existiria porque só se fora desse tamanho conseguiria conter tantas riquezas quantas as que os frades cobravam de foros aos súbitos que cultivavam terras nos seus domínios.
Penso nos lamentos do fantasma de Don Per de Omaña, que o povo diz que se escutam vindos do tal labirinto onde permanece preso por ter tido mais ambição que sensatez;
A pressa, o chapinhar das botas e a bátegas de chuva na capa e no "Paráguas" fazem-me caminhar de cabeça baixa.
Penso no Cristo românico, "el Cristo de Oubona, que se diz poder ser da data da fundação do Mosteiro, pendurado no arco da capela-mor e que tanto gostava de ter visto;
Penso no túmulo de Adelgaster e Brunilda, aberto em 1903, e que continha os restos mortais de um homem e uma mulher;
O caminho fez-se rio. Não consigo nem imaginar no que me rodeia. Tenho consciência que caminho num bosque. Os troncos das árvores que visualizo pelo canto do olho parecem de carvalhos. As folhas que correm flutuando neste rio são de carvalhos, castanheiros, choupos,e outras. Mais água... mais lama...
Penso no interior da igreja que não vi, nos retábulos do séc XVIII e na imagem de S. Roque e do cão que o não deixou morrer;
Penso num monumento em real abandono e nos projetos de restauração que nunca foram convertidos em realidade;
Porra! ia caindo...
Penso em "la Fonte de Matoxu" e na única água que Frai Benito Jerónimo Feijoo bebia, dali levada e fechada com duas chaves para que furtada não fosse;
Penso em Obona, Oubona, Aubona ou Ubona e nos étimos "aqua buona" ou "eau bonne";
Toca o telefone. Sim... onde estão?...
No lavadouro?... sim. Já estou perto.
Penso no Rei Alfonso IX que, em 1222, tendo fundado "La Puebla de Tineo" editava a obrigação de os peregrinos passarem por aqui e que ninguém tentasse desviá-los por outros caminhos.
Chego a Villaluz. Já vejo meus companheiros acantonados num velho "lavadero". Os velhos tanques estão a coberto de um telhado de "pizarro". Sacudo a água. Como uma bucha. Recoloco a mochila e a capa. Abro o chapéu de chuva e... cá vamos os quatro.
A "Ermita del Cristo del Socorro" porque nova faz fé que a fé ainda por aqui existe. Caminhamos no asfalto da TI-3 encostados à valeta sem bermas. O trânsito é pouco e a chuva amainou. De um e outro lado há prados, manadas e imensos rolos de palha plastificados. As vacas castanhas que víamos nos prados deram lugar a vacas leiteiras pretas e brancas. A estrada desenrola-se à nossa frente num desenrolar que parece não ter fim. Vega de Rey... que chuva chata,... Berrugoso... pastos e mais pastos... Las Tiendas...e fardos plastificados... Campiello! finalmente!...
A Casa Ricardo é à beira da estrada. Haja Deus.
Fui pela nossa há pouco. Eram 6:45h. Nico olhou para mim e, com ar de poucos amigos disse: "es temprano. Solo a las siete según lo acordado."
Ok. Espero...
São finalmente 7 horas. Desço e encontro toda a roupa dobrada e o pequeno almoço na mesa.
Tomamos o "disayuno", arrumamos a roupa nas mochilas, deixamos o "donativo" que achamos justo e saímos.
O céu veste-se de cor na beleza do amanhecer sobre os montes. Algures, por aqui, entre as riscas verde-escuro das árvores que desenham os prados, nasce o Nonaya. Uma névoa flutuante paira sobre o vale.
Tudo nos transmite uma energia forte que nos envolve como uma aura benfazeja.
Podíamos atalhar caminho seguindo pela N-634 mas decidimos descer um pouco, percorrendo, em sentido contrário, o caminho calcorreado ontem, para seguir "El Camino" como sinalizado.
Passámos por algumas casas, hórreos e paneras. Caminhamos agora entre muros de pedra que bordeiam os prados. Não estão as gentes daqui preocupadas com o encaixe e alinhamento das pedras. Habituado que sou aos muros das serras dos Candeeiros e Santo António, estes parecem mais filas de pedras amontoadas. Mesmo assim, transmitem uma beleza geométrica a estes campos ainda vazios de gado.
Vamos ferindo as botas por um velho caminho cascalhento, "el Camín Real", entre a N-634 e a "Autovia de la Espina". A importância que este caminho teve no passado não a terá a inacabada autovia hoje.
Nos campos tantíssimos são os fardos de palha que descansam em murtalhas de plástico que me entristece. Este novo método de silagem não me agrada mesmo. Não seria o plástico evitável neste entorno tão natural?... recordo, com saudade, as antigas medas de palha que povoavam campos e há tanto que desapareceram. Que ecológicas eram!...
Pensava ainda no mal que vamos fazendo, poluindo com plástico os espaços felizes onde criamos e semeamos aquilo que nos alimenta, quando, pelo "Camín de Misa", encontramos a igreja de Santa Marina de Bodenaya. Igreja estranha esta, servida apenas por uma pequena porta que mais parece porta de sacristia.
Rogo à Santa, "abogada del agua" que "lave de plástico" a mente dos sábios que inventam técnicas inovadoras, sobretudo quando vêm poluir espaços tão belos.
Medito no topónimo Bodenaya. O radical "naya" derivará de "Navia", a celta deusa da água e da fertilidade (seria também deusa da soberania e da vitória em combate). Navia estará na base do nome de rios como o Nabão e o Neiva em Portugal e o Navea, o Nalón e o Nonaya em Espanha. Este último nasce aqui tão perto, estarão os nomes relacionados?... Dizem ainda, alguns historiadores, que o prefixo "bode" ou "bod" estará também relacionado com divindades celtas com ligações a água, num significado mais próximo de "fonte". Poderá Bodenaya ser o equivalente celta de "Fonte (ou nascente) de Água"?... de facto água abunda por aqui.
O Albergue de Bodenaya, com paredes forradas a tábuas e exoticamente enfeitado com grande quantidade e variedade de símbolos "xacobeos", tem, numa vieira peregrina, a distância marcada de 256 kms para Santiago. Por cima um hórreo, tipo museu etnográfico, apresenta uma série de tralhas agrícolas de tempos passados. Quando visito ou passo por estes "museus" penso que também eu devia estar nestes sítios porquanto sou do tempo em que se utilizavam estes utensílios e eu próprio utilizei muitos deles.
Absorto, nestes pensamentos segui caminho e atravessei Espina sem de nada tirar registo. Decerto nada tão forte foi que clamasse pela minha atenção. Estamos numa rotunda que contornamos por um carreiro pisoteado por peregrinos. À direita, com um inquisidor ar de pasmo, uma vaca mira-nos para lá do fio eletrificado que nos separa. Qual terá sido a intenção do ganadeiro?... que a vaca não saísse ou que nós não entrássemos?...
Seguimos por um belo caminho entre sebes silvestres e arbustos, subindo pouco a pouco.
Entramos em "La Pereda" (ou "La Preda", como por aqui se diz), a primeira povoação do concelho de Tineo/Tinéu. Logo aqui damos com a Capela do Cristo dos Aflitos. Este velho monumento (séc. XV) ficou ao abandono muitos anos, diz-se até que de galinheiro serviu. A imagem do Cristo, venerado por moradores e peregrinos, esteve exilado na Igreja paroquial e regressou ao seu lar com a restauração do templo que se deve à insistência das associações dos amigos "Del Camino de Santiago" junto das autoridades municipais e autonómicas. Na parede frontal há um relógio de sol originalíssimo. Supostamente indicará as horas entre as 4h e as 13h; tem as coordenadas do local com "phi", "lambda" e "delta" de respectivamente 43° 23' 27" N, 6° 20' 30" W e 61° E. Tem ainda escrito o seguinte texto: "AFFLICTIS LENTAE CELERES GAUDENTIBUS HORAE" que traduzo assim: "lentas são as horas de aflição, rápidas as de regozijo".
Outro albergue privado, exuberante na decoração externa, convida os peregrinos a quedarem-se por aqui. Chama-se "El Minero" e para o ilustrar tem um manequim, vestido como se vestiam os mineiros, à porta e as paredes são quadros "colage" de vieiras em desenhos "naïf". Os caminhos perdem mística e ganham folclore. Vamos lá cantando e rindo.
Pelo caminho temos encontrado pontos de interesse assinalados com painéis oficiais. Aqui está mais um: "La Fonte Reconco". Melhor fora que não estivesse assinalado dado o estado de abandono em que se encontra. Data de 1809 e foi um lavadouro de chão, tanques, regueira e paredes de pedra onde se lavou roupa, bebeu água e acoitou muita gente. Serve agora de memória de outros tempos mas desaparece entre heras e esquecimento. De que vale o painel sinalizador?...
Subindo pelos caminhos de "La Sierra" ladeados de muros, placas de ardósia espetadas ou mesmo arame farpado, sombreados por castanheiros e carvalhos, atapetados por folhas molhadas e escrementos de bovinos, vamo-nos perdendo, quando possível, na contemplação da meseta de "La Espina" e da serra "La Curiscada" ao longe onde se eleva uma nuvem de evaporação matinal. Assim vamos entrando no grande concelho de Tineo/Tinéu.
Por caminho rural, com duas linhas paralelas separadas por longo canteiro de erva, desenhadas por rodas de tratores e veículos agrícolas Chegamos a "El Pedregal ".
Entramos na AS-216 e caminhamos sem proteção junto ao "quitamiedos", que se o for é apenas para os condutores que vêm de frente porque nós vamos com algum medo porque há bastante trânsito nesta estrada. Numa curva apertada, à esquerda, junto a um grande e velho carvalho, aparece a tripla arcada e o campanário de "La Ilesia de los Santos Xusto y Pastor" que datará do séc. XV ou XVI. Justo e Pastor, "los Santos Niños", foram martirizados com 7 e 9 anos respectivamente, em Alcalá de Henares pelo perfeito Publio Daciano no ano 304, por se recusarem a negar a fé Cristã.
A imperfeição do perfeito e a coragem (ou teimosia) dos Meninos Mártires ocupou o meu espírito durante tanto tempo que passei o "humilladero", que já em 1693 assinalava "el Camino Primitivo " em El Pedregal, sem dele dar fé. Este cruzeiro de pedra foi, em 1930, transladado para o átrio da igreja, voltou ao lugar original não sei quando mas sei que o temporal de Fevereiro de 2016 o deitou abaixo deixando-o em pedaços. Felizmente alguém o mandou recuperar, ainda que eu não tenha dado por isso quando passei. Ficou o desejo por satisfeito ser. Há "marcos" que marcam e permacem no tempo que vale a pena ver e sentir. Este passou por mim sem que acontecesse uma ou outra coisa.
Agora, porque procuro chão para as botas entre o tapete de escrementos de vaca, vou calar-me e seguir atento.
Não consegui. É tão belo o caminho que a contemplação da paisagem fez com que, de vez em quando enterrasse as botas na lama ou na m... . Os campos verdejantes, esquadrilhados por linhas de árvores, com manadas pastando, trazendo-me à memória S. Miguel e as pastagens de "vacas felizes", os fetos bordejando e os carvalhos e castanheiros velhos cobrindo o caminho, são quadros de rara beleza. Foram sete quilómetros e tal de admirável prazer.
Estamos agora a chegar ao campo de S. Roque. No lugar deste frondoso carvalhal diz-se ter existido um castro asturiano que deu origem à "Villa de Tineo/Tinéu".
O Bar do Campo de San Roque tem livre uma mesa corrida de madeira no alpendre. Abancamos para um almoço ligeiro onde não falta uma fatia de Bolo Caseiro de Castanha e Noz.
Estamos a começar a comer quando chega Carlos, um peregrino português. Apertamo-nos, arranjando lugar para mais um. Carlos levanta-se apressado, dirige-se a uma senhora que transporta um saco de carvão demasiado pesado, a avaliar pela dificuldade que manifesta, pega no saco e leva-o para a cozinha do bar. Regressa e junta-se a nós como se nada fora. Espírito peregrino. Bem hajas Carlos pela lição.
Passamos pela capela de San Roque, que se diz ter sido construída por peregrinos franceses no séc. XIII. Indubitável é que está ligada à fundação do Convento de São Francisco em Tineo. Na tradição oral destas gentes, foi o próprio S. Francisco de Assis que fundou esta capela na sua peregrinação a Santiago, de onde regressou pelo Camino Primitivo. Está fechada. Gostaríamos de ter visto a imagem de S. Roque com as vestes de peregrino junto à do cão que lhe trazia diariamente um pão, sem o que o santo teria morrido de fome quando, pestilento, se isolou na floresta perto de Piacenza.
Seguimos agora pelo "Paseo de los frailes" por onde passaram, durante séculos, os frades Franciscanos para irem do Convento à capela. A meio deste belo "paseo", com uma panorâmica belíssima, encontramos o monumento ao peregrino inaugurado no ano jacobeu de 2004. Lê-se na base "VIATOR HORAM ASPICE ET ABI VIAM TUAM", traduzindo "VIAJANTE VÊ AS HORAS E SEGUE O TEU CAMINHO". A frase tem uma razão de ser: é o monumento em si também relógio de sol. Para mim, e eventualmente para cada um que o lê, tem um sentido mais íntimo, por isso o meu o guardo para mim.
Por baixo, numa placa, o manual "como ver as horas", sem o qual não saberíamos que são mesmo 12h26m. Vimos as horas e seguimos.
Entramos em Tineo/Tinéu. Distraio-me perdido nas fachadas, balcões e varandas das casas da Calle Sánchez Campomanes. Encontro a Igreja de S. Pedro, antigo Mosteiro de São Francisco. Vou entrar, mas... onde estão os meus companheiros?... entretidos seguem pela Calle Mayor abaixo. Assobio forte. Toda a gente olha. Felizmente uma deles também. Chamo... o caminho não é por aí!... digo. Tivéramos tempo e deixá-los-ia seguir e iria ter com eles para visitar a vila. Talvez um dia...
Voltam atrás. Seguimos pela Trav.ª De La Torre, Calle La Fuente... Bolas!... esqueci-me da Igreja de S. Pedro. Fico com pena e ainda penso nisso quando encho a garrafa de água na antiga fonte que tantos peregrinos já decedentou.
A estrada de asfalto sobe e nós com ela, devagar porque já se fazem sentir os quilómetros que ficaram para trás.
Esta é a subida a "las Canteironas". A paisagem à nossa esquerda é de sonho. Ali em baixo Tineo cobrindo a encosta. Ao fundo, onde repousam nossos olhos, as montanhas.
Passamos a fonte de S. João. Há gente enchendo garrafões para levar. Aguardamos vez para encher uma garrafa já vazia. Ao lado, S. João olha-nos complacente por detrás do vidro do nicho. Continuamos a esperar... aqui, peregrino não tem prioridade. Garrafões todos cheios, pronto! agora nós. Cá vamos com água fresquinha.
O asfalto do caminho deu lugar a cascalho e terra, atapetado com folhas e ouriços e emoldurado de carvalhos e castanheiros.
Atravessamos um regato. Ao lado da insignificante ponte de betão o letreiro dá-lhe importância: "Regueiru de Robleu". Continuamos a subir. Para lá da cerca de madeira há paisagens deslumbrantes. Chegamos junto de uma grande faia. Pregado na cerca, o letreiro informa: "Faya de Josefa 2-2-1959 Amb. Protegido". Quase da minha idade. Vejam lá como está crescido.
A cerca de madeira continua a acompanhar-nos e as paisagens a deslumbrar-nos. Chegamos a uma varanda natural a que alguém deu a posse à Rainha nascida nas Astúrias: "Mirador de Letizia". E informa "Borres 16 kms". Não é nosso destino hoje mas quase. Apreciamos a vila que se espreguiça pela encosta de "la Sierra". Vista digna de rainha.
Continuamos subindo por caminhos de encanto, com a alma leve e o estômago também. A mochila pesa quilómetros. Paramos para uma bucha e, assim, aliviamos o peso.
Retomamos a subida. Os carvalhos e castanheiros de grande porte sombreariam o caminho se o não fizessem as nuvens que começam a adensar-se. A temperatura é a ideal para caminhar. Lajes de ardósia e muros de verde musgados bordejam este carreiro de encantos.
As ardósias atapetam agora o chão.
Ao longe espreitam-nos as montanhas que atravessaremos nos próximos dias.
Andamos cá por cima. Ladeiam o caminho vedações de arame e algumas silveiras onde as amoras silvestres aparecem maduras e apetitosas. Vamos colhendo, comendo e andando.
Descemos agora "el Camin de Riveiros" atapetado em betão riscado para escoamento da água. Caminho pesado para botas e joelhos.
Estamos perto de Piedratecha (ou Paratecha), onde existiu uma "venta", paragem de pastores transumantes, arrieiros e peregrinos, que pertencia ao Mosteiro de Santa Maria La Real de Obona. Este mosteiro está perto e não o quero perder. Os meus companheiros não manifestam vontade de me acompanhar neste desvio. Atravesso a AS-350 em passo apressado deixando-os para trás. Desço pelo belo mas muito acidentado caminho, com pedras lavadas e escorregadias, que os monges de Cister terão tantas vezes percorrido.
Encontro o desvio do "Camino". Já vejo o mosteiro por entre as árvores. Passo uma pequena ponte sobre o rio Deina, que não passa de um pequeno regato, e rapidamente chego cá. Mas está a chegar também alguém indesejado: a chuva em bátegas grossas. Bolas! Procuro lugar onde me acoitar. Desço a correr as velhas escadas de pedra à direita da igreja, olho e registo o brasão entre duas janelas que tem uma imagem de S. Bento sobre ele, entro pelos arcos do que poderá ter sido casa do abade ou sala de audiências e, protegido da chuva, visto a capa para me proteger, a mim e à mochila.
Estou no meio de escombros. No lado contrário está o claustro barroco. O céu desabou numa torrente de água. Aqui, onde me encontro, por tão deprimente que é, não uso a câmara do telemóvel. Lá fora a chuva não mo permite.
Penso na história admirável e controversa deste monumento que, tendo sido ponto obrigatório, literalmente obrigatório por imposição régia, de passagem dos peregrinos, jaz agora ao abandono, esquecido de gentes, instituições e governos.
A fundação, datada do séc. VIII, é atribuída a um tal Adelgaster dito filho de Silo o rei que, oficialmente filhos não teve mas que quando, por estes lados, ursos caçava, também outras coisas andou caçando.
Deste mosteiro tantas são as lendas que o povo conta que um grande livro se escreveria. Algumas transcreve-as Morán na grande descrição que faz deste mosteiro no seu blog. Vós, que intenção tendes de este Camino peregrinar, lede também porque vale a pena e, como eu, ficareis desejosos de o conhecer.
A chuva não pára e os meus companheiros não sei onde páram ou se pararam. Abrigado pela capa vestida, decido por-me a caminho.
Acabei de atravessar a ponte do regato e eis que vêm por aí abaixo três ciclistas ensopados até aos ossos.
- ¿Está cerca el monasterio? - perguntam.
- Depues del puente, cien metros a la derecha. - respondo.
Aqui vou chapinhando as botas e os pensamentos.
Penso em Silo que se envolveu com doña Leo que misturava três poções de amor: ardente, paciente e irremediável;
Penso no povo que dizia que um labirinto "tan grande como el mundo" por debaixo do cenóbio existiria porque só se fora desse tamanho conseguiria conter tantas riquezas quantas as que os frades cobravam de foros aos súbitos que cultivavam terras nos seus domínios.
Penso nos lamentos do fantasma de Don Per de Omaña, que o povo diz que se escutam vindos do tal labirinto onde permanece preso por ter tido mais ambição que sensatez;
A pressa, o chapinhar das botas e a bátegas de chuva na capa e no "Paráguas" fazem-me caminhar de cabeça baixa.
Penso no Cristo românico, "el Cristo de Oubona, que se diz poder ser da data da fundação do Mosteiro, pendurado no arco da capela-mor e que tanto gostava de ter visto;
Penso no túmulo de Adelgaster e Brunilda, aberto em 1903, e que continha os restos mortais de um homem e uma mulher;
O caminho fez-se rio. Não consigo nem imaginar no que me rodeia. Tenho consciência que caminho num bosque. Os troncos das árvores que visualizo pelo canto do olho parecem de carvalhos. As folhas que correm flutuando neste rio são de carvalhos, castanheiros, choupos,e outras. Mais água... mais lama...
Penso no interior da igreja que não vi, nos retábulos do séc XVIII e na imagem de S. Roque e do cão que o não deixou morrer;
Penso num monumento em real abandono e nos projetos de restauração que nunca foram convertidos em realidade;
Porra! ia caindo...
Penso em "la Fonte de Matoxu" e na única água que Frai Benito Jerónimo Feijoo bebia, dali levada e fechada com duas chaves para que furtada não fosse;
Penso em Obona, Oubona, Aubona ou Ubona e nos étimos "aqua buona" ou "eau bonne";
Toca o telefone. Sim... onde estão?...
No lavadouro?... sim. Já estou perto.
Penso no Rei Alfonso IX que, em 1222, tendo fundado "La Puebla de Tineo" editava a obrigação de os peregrinos passarem por aqui e que ninguém tentasse desviá-los por outros caminhos.
Chego a Villaluz. Já vejo meus companheiros acantonados num velho "lavadero". Os velhos tanques estão a coberto de um telhado de "pizarro". Sacudo a água. Como uma bucha. Recoloco a mochila e a capa. Abro o chapéu de chuva e... cá vamos os quatro.
A "Ermita del Cristo del Socorro" porque nova faz fé que a fé ainda por aqui existe. Caminhamos no asfalto da TI-3 encostados à valeta sem bermas. O trânsito é pouco e a chuva amainou. De um e outro lado há prados, manadas e imensos rolos de palha plastificados. As vacas castanhas que víamos nos prados deram lugar a vacas leiteiras pretas e brancas. A estrada desenrola-se à nossa frente num desenrolar que parece não ter fim. Vega de Rey... que chuva chata,... Berrugoso... pastos e mais pastos... Las Tiendas...e fardos plastificados... Campiello! finalmente!...
A Casa Ricardo é à beira da estrada. Haja Deus.
Waypoints
Comments (2)
You can add a comment or review this trail
Esta trilha que foi feita no terceiro dia da nossa "peregrinação", continua com as paisagens tão características nas Astúrias, que nos fazem parar com frequência para admirarmos e interiorizarmos uma beleza ímpar.
Excluindo pequenos troços em asfalto, todo o percurso é lindíssimo.
Este é um caminho que vale muito a pena ser feito.
I have followed this trail View more
Information
Easy to follow
Scenery
Moderate
Esta trilha que foi feita no terceiro dia da nossa "peregrinação", continua com as paisagens tão características nas Astúrias, que nos fazem parar com frequência para admirarmos e interiorizarmos uma beleza ímpar.
Excluindo pequenos troços em asfalto, todo o percurso é lindíssimo.
Este é um caminho que vale muito a pena ser feito.