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Caminho Primitivo - 6ª Etapa (Grandas de Salime - Fonsagrada)

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Trail stats

Distance
16.12 mi
Elevation gain
2,779 ft
Technical difficulty
Moderate
Elevation loss
1,519 ft
Max elevation
3,863 ft
TrailRank 
82 5
Min elevation
1,995 ft
Trail type
One Way
Moving time
6 hours 16 minutes
Time
8 hours 27 minutes
Coordinates
4619
Uploaded
September 21, 2021
Recorded
September 2021
  • Rating

  •   5 2 Reviews

near Grandas de Salime, Asturias (España)

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Itinerary description

Saímos cedo. A fraca iluminação da vila não permite que vejamos setas ou vieiras "del camino". Outros peregrinos procuram o mesmo que nós. Seguimos o GPS. Bolas!... vamos em sentido contrário.
Corrigimos e já vamos aqui subindo a "calle del Carmen".
Por vir de olhos postos no GPS, para nos não enganarmos de novo, ou pela falta de luminosidade, passei o conjunto palaciano do séc. XVIII, conhecido atualmente como "Casa Sanchez" mas que nos meus apontamentos se diz ser a "Casa Román", que tem uma capela dedicada à Imaculada Conceição mesmo viradinha para o caminho. Paciência, fico pelo que li sem ser visto. Visto que não vi o que ficou por ver está mais que visto que vou esquecer.
Tentando não esquecer o que para trás ficou sem ser visto chegamos à "capilla del Carmen de Grandas". Construída no séc.XVIII e de grande tradição romeira, está completamente às escuras. Nem mesmo as devotas velinhas alumiam o templo por estarem completamente derretidas. Só dá para ver as grossas paredes de xisto e um alto alpendre que protege o singelo portal com uma janela de cada lado, por onde nem vale a pena espreitar porque a escuridão do interior nada deixa vislumbrar. A Casa Linera, a que pertencia a capela, mais parece um palheiro que um antigo palácio. Vamos lá, alguém se anda a esquecer de recuperar o património.
Continuamos ladeira acima. As botas acusam e as pernas agradecem, entrámos em piso de terra. A aurora tarda a acordar. O caminho é ladeado e coberto por árvores que adensam a escuridão. Para quê sair tão cedo?... questionamo-nos mas a resposta é dada pelo baixo ritmo das nossas passadas e o conhecimento antecipado da distância a percorrer. Também o alojamento não foi reservado e grande é a quantidade de peregrinos no caminho.
A AS-28 segue agora à nossa direita. Nós seguimos por um estreito carreiro marcado pelo pisar de muitas botas de outros peregrinos que nos precederam e, generosamente, evitaram que seguíssemos pelo asfalto.
Entramos na Farrapa passando diante da fábrica de laticínios, ainda deserta a esta hora. Dizem que aqui é feito o "queso de Oscos", estivesse aberta a porta e poderíamos (com)provar.
Atravessamos a estrada e a sinalização parece indicar o caminho à direita. Na dúvida consultamos o GPS. Concluímos que se pode seguir em frente ou passar pela Carvalleira del Rei. São alguns metros a mais se por ali decidirmos ir. O arvoredo diz-nos que valeria a pena caso fosse dia aberto e quente. Optamos por seguir em frente pela AS-28. A manhã acorda. Um pequeno bando de corvos sobrevoa-nos crocitando ruidosamente. Saímos à direita por caminho de terra, subindo entre árvores.
Deslumbrante!... à nossa frente a lua cheia desce no seu ocaso por detrás do arvoredo. O grande luzeiro da noite finda a sua tarefa para dar lugar ao forte luzeiro diurno. Subimos um pouco mais e chegamos a campo aberto. O horizonte baixou e até parece que a lua retrocedeu na sua descida para nos dar por mais algum tempo o encanto do seu brilho. "Lua feiticeira" quem de nós tua luz nos vai esconder?... ao longe a neblina sobe, qual manta de algodão em rama, da cama do vale estendendo-se pela serrania. Olhos postos na beleza do pôr da lua, trôpegos são nossos passos, passando os prados de "os Chaos" descendo para a aldeia de "Cereixeira".
Entramos no asfalto da velha estrada e logo aqui a Casa Federico é poiso para "el disayuno". Este "Bar Tienda" foi fundado em 1953 e o interior indicia uma paragem no tempo. Somos atendidos por uma senhora que nos faz umas diminutas tostadas com mantequilla, nos serve uns curtos "cafés con leche", nos vende umas pequenas maçãs com mau aspeto e nos cobra um preço que não condiz com a pequenez das coisas adquiridas. Com um sentimento de mal servidos, mochilas já nas costas e eis-nos de novo a caminho. Saímos da velha estrada da "Cereixeira", entrámos na AS-28, andámos algumas dezenas de metros em contramão e estamos no cruzamento para Vilarello, Vilarmayor, Vitos, Magadán e Brualla, mas, ainda que a seta no painel nos indique que cortemos à direita, nenhum destes "pueblos" está no nosso caminho. Tão pouco seguimos em frente porque ali está um mojón que nos orienta em direção a um caminho rural ladeado por uma cerca em madeira.
Atravessamos um prado, por um estreito e retilíneo carreiro, quando um exército de apressados peregrinos nos alcança. Desviamo-nos por receio de sermos atropelados por aquele "pelotão militar" que, em rápido tropel, marcha devorando quilómetros atrás e às ordens do comandante. Atrasado vem um dos "militares" que, de máquina fotográfica em punho, vai disparando em todas as direções. - «Todos van corriendo, no sé por qué. al final vienen a pedirme las fotos, lo sé.» - diz-nos ao passar. Modos diversos de peregrinar, diria.
Entramos agora num caminho orlado de árvores e atapetado de folhas, lama e bosta. Agruras a que a natureza não permite que nos furtemos. Vamos lá, à frente haveremos de limpar as botas.
caminhando sempre por caminhos rurais de terra, passando entre árvores, velhos muros de pedra e prados verdejantes chegamos a Malneira.
Num imprevisível local, ladeada de cercas metálicas que protegem um pomar, aparece a capela dedicada à "Virgen de la Esperanza". Informa o painel ao lado que foi construída antes do século XVIII. A incerteza mostrando que a memória das gentes vai ficando enferma de maleitas dos tempos banais que atravessamos. Singelo o templo com telhado tradicional em ardósia, um muro lateral elevado servindo de campanário e um alpendre grande com bancos laterais onde, abrigado, se pode descansar e orar. Lá dentro o altar tem um pequeno e simples retábulo de madeira com três imagens: a Padroeira, Jesus Menino e a "Virgen del Carmen".
Numa oração breve e silenciosa, pedimos à Senhora da Esperança que não permita que a nossa se perca em momentos de maior desespero.
Seguimos entre carvalhos e castanhos num bosque de encantos onde falta o chilreio dos pássaros. Não entendemos este silêncio das aves. A esta hora matinal seria normal ouvir-se o gorgear da passarada no bosque. Talvez sejam os nossos ouvidos cansados dos sons da "civilização" que se esquecem de ouvir mais melodiosos sons. Talvez...
O caminho de terra do lindo bosque dá agora lugar a um duro piso de cimento. Por uma leve subida estamos a chegar à aldeia de Castro. Um grande e escuro edifício, em xisto construído e de lages de ardósia a telhá-lo, chama para si os olhos dos peregrinos que sobem esta ladeira. É a antiga escola que hoje tem uma nova vida albergando peregrinos. Quando me preparava para dar a volta ao edifício dou de caras com o "pelotão militar e seu comandante" que há pouco nos ia atropelando e, com receio de vir a ser mobilizado, desisti da intenção. A "Capilla de San Martín y Santa Bárbara" ali ao lado chama-me a atenção. Diz-se que antigamente, muito antigamente mesmo, a capela não seria aqui. Então onde?... quem tiver lido o painel informativo aqui ao lado facilmente concluirá — Castro de Chao de Samartín. Não fora ser cedo e tentaria convencer os meus companheiros a visitar o museu e as ruínas de um castro nascido nos finais da idade do bronze, que ampliou a dimensão e influência na idade do ferro adicionando à atividade agrícola a metalurgia e a cerâmica, resistiu à romanização transformando-se e desenvolvendo uma cultura comercial, que deve ter influenciado toda esta região, e que foi destruído completamente, no segundo século da nossa era, por um forte terramoto. Voltou a ter vida, ou antes... voltou a ter morte na baixa idade média como necrópole e hoje é um dos centros de estudo dos antepassados destes povos.
Enquanto estes apontamentos passam na minha memória vamos caminhando pela ruas limpas e muradas, com pavimento em cimento, desta linda aldeia. Várias são as casas de pedra de cores mescladas, recuperadas ou reconstruídas há pouco mantendo o estilo característico.
Castro ficou para trás mas os povos pré históricos, as suas conquistas e lutas de subsistência e sobrevivência têm vindo a acompanhar-me por este caminho belíssimo que vai passando a nossos olhos. No meio da floresta de grandes robles (estivera eu no meu país e chamar-lhes-ia carvalhos alvarinhos) e castanheiros alguém plantou mais uma capela. É a Ermida de São Lázaro de Padraira. São Lázaro "o Leproso", padroeiro protetor de leprosos e mendigos. Porquê uma capela aqui de dedicação a este Santo?... Esta capela terá pertencido a uma gafaria que existiu neste lugar até ao séc. XVIII sem que haja, todavia, notícia da sua fundação. Existe documento de visitação a este hospital datado de meados do século XVI mas crê-se que a sua fundação será muito anterior. O altar tem um retábulo barroco que parece estar em mau estado de conservação. A imagem de São Lázaro sentado mostrando as chagas das pernas pela abertura de um manto roxo, símbolo do sofrimento, difere da imagem que tenho em memória de um Santo mendigo, andrajoso, agarrado a um bordão, com dois cães junto a ele.
Deixamos a capela para trás e vamos por um belo camInho de chão macio, pensando ainda em mendigos e leprosos e numa sociedade injusta que exclui e vota ao ostracismo aqueles que de maior carinho e cuidado estão necessitados.
Atravessámos a AS-28 e agora aqui vamos fora da estrada, junto ao rail de proteção, providenciando com nosso pisoteio para que este providencial carreirinho, mais uma vez aberto à custa das botas de tantos outros peregrinos, se não feche.
O carreirinho para lá do rail, por espaço lhe faltar, desapareceu ali atrás e tivemos que fazer as últimas centenas de metros encostadinhos ao "quitamiedos" com medo que algum carro nos pudesse "quitar" algo mais que medo não fosse. E aqui estamos, aliviados, descansando um pouco e comendo uma bucha na paragem de autocarros de Penafonte. Passam, sem parar, alguns peregrinos. A simpática romena coxeante mas sempre sorridente com seu companheiro alheado do que à volta se passa e poupado em manifestações de cordialidade, seguem ladeira acima. Outros se aproximam já. Com estes, ainda que não completamente estranhos, não trocámos mais que um "Buen Camino". – Vamos lá que se faz tarde! – incito meus companheiros. Sobem as mochilas para as nossas costas e ... toca a andar. Deixamos o lixo no contentor ali ao pé e subimos ladeira acima em direção à Igreja de Santa Maria Madalena.
Seguem meus companheiros os sinais jacobeus e desvio-me eu, subindo um pouco mais, para ir ver a igreja.
Cá estou e cá está também a razão do topónimo deste povoado: uma pena ou penha ali ao fundo e uma antiga fonte aqui ao pé, "pena" + "fonte" = Penafonte. Lógico! 😊
A igreja de Santa Maria Madalena é um monumento construído em xisto no ano de 1605, segundo a parca informação do painel que junto dela está. O telhado é em ardósia típico da região que temos vindo a atravessar. Tem um alpendre longo e escuro com um banco feito com um tronco maciço de carvalho. Na parede, junto da entrada, uma pedra de granito confirma informação do painel pelo que nela se lê "EN EL NOMBRE DE DIOS SE HIZO ESTA OBRA ANO DE 1605". Lá dentro, no retábulo barroco está a imagem da Santa padroeira que tão antiga como a igreja não parece ser. Rogamos à Santa que interceda por nós junto do seu grande Amigo. Ámen. Todo o entorno está bem cuidado incluindo o velho cemitério. O adro é um belo miradouro para oriente, dominando estas terras até ao grande vale onde corre o Navia.
Em passo acelerado tento apanhar os meus companheiros. O piso de cimento cansa pés, pernas e botas. Encanta-me esta cuidada cerca de madeira que separa estrada e prados onde pasta sereno gado alheio a quem passa.
Há muito que deixámos os prados para trás. Seguimos por caminhos de serra com pedra solta a tropeçar-nos as botas. Todo o cuidado é pouco. Olhamos o chão quando as paisagens que estes sítios emblezam requerem que as admiremos sem limitações mas a prevenção é filha da responsabilidade.
Aplanou o chão e reparo que, envolvido nos meus pensamentos me adiantei um pouco. A AS-28 cruza o caminho aqui em cima. Paro antes de a atravessar, arreio a mochila e espero. Descansamos um pouco e, como sempre que o fazemos, passam por nós outros peregrinos. Em jeito de saudação repete-se vezes sem conta o "buen camino", umas vezes porque outra não seria entendida outras vezes só para qualquer coisa dizer num reflexo automático de simpatia.
Retomamos caminho na direção de Bustelo para, poucos metros depois, entrar num caminho vedado com uma cancela. Abrimos, passamos e voltamos a fechar. O carreiro é estreito e limpo mas sobe imenso. Mato rasteiro, onde a urze abunda, ladeia nossos passos. De quando em vez aparecem as pedras soltas como ervas daninhas num rego de plantio. Quando o chão nos permite ou a vontade nos pára enchem-se os olhos de infinito e a alma de contemplação e gratidão. Como que em resposta aos meus anseios de alma, uma ténue neblina sobe em espiralada coluna mesma ali à minha frente. É o sentir da natureza consubstanciado numa térmica ascendente levantando um véu de gotículas em direção ao alto. Sinto-me abençoado.
Sobe o caminho e, na mesma medida, sobe nosso cansaço. Estamos quase no alto. À nossa direita perfilam-se os espetros dos gigantes que, com um surdo som, vão devorando vento, mastigando brisas e digerindo iões que alimentam máquinas e velas. São os geradores eólicos do Monte da Curiscada. Olhamos o monte e pensamos que nos estamos a aproximar da linha que separa Astúrias e Galiza. Vamos lá!... mais um esforço e começaremos a descer. Passamos a cancela de fecho da trilha. Abrimos, passamos e fechamos. As cancelas servem para que o gado não saia, no entanto desde que passámos a primeira até aqui não vimos uma única rês.
Chegamos ao cume povoado por geradores eólicos. Atravessamos o caminho, aberto para transportar as peças dos gigantes devoradores de ventos.
Entramos agora num pinhal de pinheiros novos caminhando por um agradável carreiro. Cruzamos com outro caminho mais largo. Vou atento... cá está!.. Adios Astúrias, hola Galicia. Este pequeno marco marca a linha onde se abraçam as duas regiões autónomas.
Entrámos no "reino de Santiago" e, por largo caminho de terra batida, vamos descendo e os joelhos queixam-se. Os santos todos fazem força quando descemos mas um só já será demais se a ajuda é esta. Xô!... Ala!... ide embora que não preciso de ajuda.
O primeiro mojón galego aparece à nossa frente. Noto que a vieira estilizada, o símbolo moderno dos Caminhos de Santiago, aparece desenhada no sentido contrário ao que vínhamos habituados a encontrar nas Astúrias. Já ouvi várias interpretações para o sentido em que a vieira estilizada se encontra. Diz-se da que apresenta as linhas convergindo no sentido de Santiago que simboliza os caminhos que para ali se dirigem. Mas se considerarmos que, ao invés, as linhas são divergentes a partir de um ponto, então simbolizam os raios da luz que de Santiago emana. Se a vieira mostra as linhas no sentido do lugar onde o corpo sagrado se encontra, diz-se simbolizar os raios do sol iluminando e apontando o caminho para tão santo lugar.
Seja como for, duas coisas tenho sempre em mente:
1º - a vieira não pode ser tomada como indicador do sentido a seguir, esteja ela virada para onde estiver, mas apenas como sinal de que nos encontramos no bom caminho;
2º - só as setas de cor amarela indicam o sentido para Santiago.
Além da vieira, este mojón tem a seta amarela e outra informação adicional: a distância a Santiago. Ficamos assim a saber que ainda não chegámos a meio caminho. Não sei se é bom ou mau... cum raio, ainda faltam 166 kms?... eh pá, já só faltam 166 kms!... É a história do copo meio cheio ou meio vazio. Eu não quero olhar para os quilómetros mas distraio-me e... pronto, lá vai mais uma blasfémia.
Passamos o Acevo. "O Meson" está fechado. É pena. Gostaria de ter entrado num bar que é uma referência entre os peregrinos do Caminho Primitivo.
Seguimos um tempão por uma paralela à LU-701, a estrada que tem o mesmo destino que nós temos também hoje - Fonsagrada. Enquanto pensamentos simples, que eu não sei pensar complicado, foram discorrendo cá por cima foram as botas palmilhando lá por baixo sem que cá em cima disso nos apercebêssemos. Perdi a noção do caminho andado. Mas agora... «Espera!», diz a minha companheira. «Está aqui uma fonte e preciso de encher a garrafa.»... Não fora este alerta e teria perdido mais um "hito del Camino". A Fonte de Fonfria, será esta a origem do topónimo?... não sei, mas decerto que desta fonte beberam água muitos milhares de peregrinos e romeiros ao longo de séculos antes de se acolherem ao "hospital de romeiros" que junto da igreja de Santa Maria Madalena existiu. Seria este hospital da Ordem de Malta ou dos Cavaleiros Hospitalários. Observando ao longe o original campanário de geométrica montagem de ferros com dois sinos, simples mas estranho é pensar que quando um sino repica toda a estrutura deverá vibrar em estranha ressonância. Nenhum dos sinos tocou e eu fiquei sem saber como soa este conjunto.
Saímos de Fonfria pela LU-701, saímos dela e contornámos o monte de Penoucos, passando entre pinheiros, e agora temo-la novamente à nossa direita. Fonsagrada vê-se já ali, situada no cimo de um monte.
Estamos num cruzamento. Do outro lado da estrada há um edifício em pedra, rodeado por um belo jardim com duas representações de peregrinos: um pé'regrino e um bici'regrino. É a "Mesón de Barbeitos" um restaurante muito conhecido de quem por aqui peregrina a Santiago. Também a nossa "vontade de comer" tem vindo à espera de o encontrar. J.A. já por aqui passou em outra peregrinação e sabia que existia. Desânimo! Que raio de sorte. A "Mesón" está "Cerrada" e a nossa "vontade de comer" virou fome. Atravessamos de novo a estrada e, não sei porquê, deixámos de achar graça às alegorias peregrinas que no jardim continuam.
Pelas faldas da Sierra de Follabal vamos descendo... descendo... descendo e a cada passo Fonsagrada fica mais alta. Li em qualquer sítio que "a Fonsagrada nunca bajaram los lobos", pois só sobem, claro. É o que nos vai acontecer, vamos ter que subir.
Passámos Silvela e estamos a chegar a um agradável campo arborizado e ajardinado que possui uma linda capela. É a capela de Santa Bárbara, a santa de que só nos lembramos quando troveja. Como hoje o tempo está lindo, quem se lembraria de Santa Bárbara?... vamos lá ver a capelinha. Um pormenor que salta de imediato à vista é existência de um brasão em calcário sobre o portal com uma vieira sobre um bordão com cabaça e uma lança. Sobre a vieira uma cruz, a cruz da ordem de Malta ou Cavaleiros Hospitalários. Interessante também é a oração a Santa Bárbara, escrita em duas línguas, escrita nuns papéis colados à porta. Reza assim: «Santa Bárbara bendita que en el cielo estás escrita, guarda pan y guarda vino y guarda a todo Peregrino.» pois, lembra-me a que se rezava na minha terra e que era assim:
«Santa Bárbara Bendita
que no céu está escrita,
– Onde vais Santa Bárbara?
– Vou espalhar esta trovoada
Que por cima da gente anda armada.
– Espalha-a para bem longe,
Onde não haja pão nem vinho,
Nem flor de rosmaninho,
Nem os galos cantam,
Nem os anjos se levantam.
Para sempre, Ámen, Jesus. »
Olho para o interior. Atrai-me a atenção uma imagem de Santiago gravada em pedra de calcário. Está hoje mais dedicada esta ermida a peregrinos de Santiago que à sua padroeira.
Alheios às orações, que não rezamos, estão os nossos já bem conhecidos peregrinos russos que, descansadamente, comem sentados a uma das mesas de madeira deste belo parque. Os meus companheiros não pararam e eu já apresso o passo para os alcançar.
Subimos um pouco, afastámo-nos da LU-701, passámos por pinhais, caminhámos por caminhos rurais de terra batida, voltámos a caminhar junto da LU-701 com uma linda cerca de madeira a separar-nos da estrada, palmilhámos num delicioso bosque de caducifólias e agora, descendo, chegamos a Paradanova.
Dirijo-me à capela de Santa Cruz. As capelas são marcos da religiosidade dos povos e parecem balizar o caminho. A peregrinação foi em tempos uma incrível manifestação de fé. O peregrino antigo não caminhava por caminhar ou para apreciar a beleza das paisagens. Antes seria movido pela necessidade de obter ou agradecer uma graça. Muitas vezes caminhavam doentes procurando o milagre da cura. Outras vezes, já milagrosamente curados, deslocavam-se aos lugares onde as relíquias dos Santos da sua devoção repousavam. Fosse de que maneira fosse a oração era a sua companhia durante o sofrido percurso. As capelas que encontravam no caminho eram lugar de paragem, meditação e, infalivelmente, preces. Pouca será a minha fé mas estes sentimentos antigos tocam fundo em mim e sinto-me mais comungante com eles nestes lugares. Oro onde tantos outros oraram. Medito onde tantos outros o fizeram. Dirijo os meus estados de alma, a quem não sei talvez por me faltar a autenticidade das gentes simples que estes caminhos de fé percorreram, sabe Deus em que condições.
Olho o interior da capela. Um tão velho quanto simples retábulo alberga três imagens: São José, Nossa Senhora do Carmo ou do Rosário e outra Santa que não identifico. A minha oração simples foi recordar aqueles que mais amo. Os Santos entenderão certamente.
Algum foi o tempo que ali estive pois já não vejo os meus companheiros, só a M.A. espera por mim lá ao longe, perto de uma passagem inferior que atravessa a estrada. Mas eles vão enganados. Chamo alto e peço à M.A. que chame os outros porque o nosso caminho não é por ali.
Em Paradanova existe uma bifurcação "en el Camino": uma mais antiga por Proba de Burón e outra, a que seguimos, por Fonsagrada. Ambas têm sinalização jacobea pelo que é fácil enganarmo-nos. No entanto está aqui, no ponto de divergência, bem sinalizado um e outro caminho.
Fizeram meus companheiros duzentos ou trezentos metros enquanto eu fiquei junto à capelinha de Santa Cruz. Agora já vamos aqui, por "el camin de Granxa", em piso de macadame olhando para Fonsagrada lá em cima. Junto a um mojón, que nos diz que só (ou ainda) faltam 150 kms para Santiago, e sentados nas velhas pedras de um muro decrépito, decidimos parar e comer as parcas reservas que levamos nas mochilas.
Em boa hora aliviámos as mochilas porque esta subida não é "pera doce". Digamos que foi mais de meia hora a caminhar pouco mais que um quilómetro. Um bosque bastante frondoso cobre a maior parte desta parte do caminho.
Entramos em Fonsagrada, de língua de fora, deitando os bofes pela boca, pela Avenida de Astúrias e ainda temos que subir mais. Olhamos para Paradanova lá em baixo e pensamos que quando lá chegámos não sabíamos o que nos esperava.
Chegamos à "Praza de España". À nossa frente a Igreja de Santa Maria é objeto de curta observação sem que paremos. Se houver oportunidade visitá-la-emos mais tarde.
Chegámos ao Albergue Ramón Rodríguez. A hospitaleira simpaticamente faz a inscrição, "sella" as credenciais, dá-nos um pequeno "recuerdo" e, orgulhosamente, mostra-nos as excecionais instalações do albergue.
Outra etapa finalizada. Bem hajas, Senhor.

Waypoints

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Photo ofO ocaso da Lua

O ocaso da Lua

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O raiar da manhã com a lua a recolher-se e a névoa dos vales a subir às montanhas

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Esconde-se a Lua para lá de onde devemos ainda hoje chegar

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Ermita de la Esperanza

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Por uma bela floresta de carvalhos e castanhos novos

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Photo of'Capilla de San Martín y Santa Bárbara'

'Capilla de San Martín y Santa Bárbara'

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Ermita de San Lázaro de Padraira

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A Igreja, a Pena e a Fonte

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Photo ofNeblina ascendendo aos céus

Neblina ascendendo aos céus

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Pelo pinhal depois do Alto del Acevo

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Das Astúrias para a Galiza

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Primeiro mojón da Galiza

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Na fonte de Fonfria

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Ermida de Santa Bárbara

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Fonsagrada no horizonte

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Protegendo os olhos cansados da intensa luz do dia

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Ermida de Santa Cruz de Paradanova

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A igreja de Santa Maria

Comments  (4)

  • Photo of AliceLigeiro
    AliceLigeiro Jan 9, 2022

    Etapa muito bonita e sem grandes dificuldades.
    O ocaso da lua e o nascer do sol a que assistimos deixou-nos maravilhados.
    Andámos por aldeias ancestrais e bosques que permanecerão na memória por muito tempo.

  • Photo of AliceLigeiro
    AliceLigeiro Jan 9, 2022

    Sexta etapa num caminho inesquecível.

  • Photo of AliceLigeiro
    AliceLigeiro Jan 9, 2022

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    Sexta etapa num caminho inesquecível.

  • Photo of Delfim Nobre
    Delfim Nobre Feb 7, 2022

    Depois da lua feiticeira, das térmicas ascendentes á Sra da Esperança e das ajudas descendentes de todos os Santos, deixamos para trás os lobos... Adeus Astúrias, Hola Galícia! Bem hajas amigo, pela generosa partilha!

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