Caminho de Santiago (Caminho Inglês: Ferrol - Neda)

ETAPA 1: Ferrol - Neda

Tomando Ferrol como ponto de partida, o Caminho inicia-se nos cais de Curuxeiras/onde se situava o antigo porto medieval, cuja origem remonta ao século XI. Esta primeira etapa até Neda é curta, de apenas 14 quilómetros, e decorre quase sempre paralela à ria.
Deixamos Curuxeiras e passamos pelo passeio da Marina até à igreja de S. Francisco, situada entre o bairro velho e o bairro neoclássico da Madalena. A Madalena é todo um símbolo do novo urbanismo surgido nos tempos da Ilustração. Ferrol chegou a ser, no século XVIII, a maior cidade da Galiza. O rei Fernando VI tinha aqui decidido instalar a meados desse século o Gran Arsenal de Norte de Espanha, o que transformaria este lugar na grande base naval da Europa do seu tempo. Tinha de alojar a nova população de trabalhadores — Ferrol passaria de 1500 habitantes a mais de 25 000 em finais do século. E assim surgiu o bairro da Madalena: um retângulo de seis ruas paralelas, cruzadas em ângulo reto por nove ruas transversais e, finalmente, duas praças quadradas que acolhem as ruas centrais.

Sob este Ferrol ilustrado fazemos caminho e chegamos ao hospital da Caridade, hoje Centro Cultural Torrente Ballester, e passamos pela concatedral de S. Xulián. A rua Real conduz-nos até à praça de Amboage, onde se encontra a igreja da Virxe das Dores e depois aparece a praça de Armas e o Paço Consistorial, este de meados do séc. XX. Estamos no centro da cidade. Partindo da nossa posição neste amplo espaço, devemos descer até à praça da Constitución e ao Canton de Molíns para chegar à igreja, também neoclássica, das Angustias.

O Caminho continua em direção aos bairros de Recemil e Caranza até chegar à zona industrial da Gândara. Seguimos pela avenida do Mar que prossegue paralela à ria e dirigimo-nos a Neda. A rua da Pena conduz ao mosteiro de S. Martino de Xubia (município de Narón). Depois continua até ligar com o caminho do Salto, prossegue pelo moinho de água das Aceas e passa a ponte do rio Xubia para entrar em Neda.



O CAMINHO INGLÊS

A peregrinação jacobeia atraiu, na Idade Média, gentes e sociedades de toda a Europa; também da "Europa mais distante": os chamados países escandinavos — Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia ou Islândia — e, sobretudo, ingleses, escoceses, irlandeses e flamencos. Todos eles contribuíram para a consolidação do que hoje em dia conhecemos por Caminho Inglês. Chegavam à Galiza por mar a partir dos respetivos portos, e desembarcavam em Ferrol ou na Corunha — e também em Viveiro ou Ribadeo, no litoral de Lugo. A estratégica localização dos portos dessas duas importantes cidades galegas potenciou a rota de maneira evidente.
O Caminho Inglês possui na Galiza duas alternativas: o itinerário da Corunha é mais curto — 74,8 km — do que o que parte de Ferrol — 118,39 km. Ambos, cheios de atrativos e de história, confluem a meio do caminho, na localidade de Bruma, a partir de onde onde prosseguem juntos nos últimos 40,87 km até Compostela.
A história destas peregrinações tem início no século XII. Em 1147 visitou o túmulo de Santiago uma esquadra cruzada de ingleses, alemães e flamencos. Tinham como destino a Terra Santa e parte daquela expedição participou também na conquista de Lisboa, onde ajudaram o primeiro rei de Portugal na sua luta contra o Islão.
São várias e relevantes as marcas de peregrinações históricas pelo Caminho Inglês. Do monge islandês Nikulás Bergsson chegou-nos a descrição escrita da sua viagem a pé da Islândia até Roma passando por Santiago. Semelhante proeza levar-lhe-ia cinco anos, de 1154 a 1159. Dois séculos mais tarde, durante a conhecida "Guerra dos cem anos" travada entre França e Inglaterra, os britânicos teriam utilizado o barco para ir a Santiago. Peças de cerâmica e numismática inglesas dos séculos XIV e XV achadas nas escavações da catedral dão prova da presença desses peregrinos.
As oferendas ao apóstolo também deixaram testemunho desta rota. Tal como o célebre retábulo portátil de alabastro sobre a vida de Santiago doado em 1456 pelo clérigo inglês John Goodyear. A obra conserva-se no Museu da catedral.
A rutura de Henrique VIII (1509-1547) com a igreja católica, devido ao seu divórcio com Catalina de Aragão — origem da Igreja de Inglaterra ou anglicanismo — causou o final da peregrinação inglesa e condenou esta rota ao ostracismo durante séculos. Até hoje. Época de revitalização e de novas formas de peregrinação. Os múltiplos atrativos de Ferrol ou da Corunha são a porta de entrada da rota, e Pontedeume ou Betanzos, dois locais imprescindíveis para entender a história "inglesa" do Caminho.


Outros percursos que fiz na Região:
Caminho de Santiago (Caminho Português) - Etapa 1: Valença - O Porriño
Caminho de Santiago (Caminho Português) - Etapa 2: O Porriño - Redondela
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Caminho de Santiago (Caminho Português) - Etapa 4: Pontevedra - Caldas de Reis
Caminho de Santiago (Caminho Português) - Etapa 5: Caldas de Reis - Padrón
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