Pela Serra de Fungalvaz ao Talegre e Lapa da Furada
near Fungalvaz, Santarém (Portugal)
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Itinerary description
A imagem do Posto de Saúde de Fungalvaz é de abandono, por isso, estacionamos em frente com a convicção de que não estorvamos a ninguém.
Subimos a Rua da Escola e começamos a pensar que o povo despovoou o povoado. Não se vê vivalma. O Cruzeiro colocado no entroncamento da rua da Escola com a dos Moinhos, ancião de idade incerta e irrevelada, na sua simplicidade arquitetónica parece esquecido e ignorado. Porquê e para que está aqui implantado?...
Subimos a rua dos Moinhos. Sem motivos de interesse à vista, vamos meditando no topónimo da povoação e na infrutífera busca feita para encontrar as suas origens. No Arquivo Histórico de Santarém existe documento que diz que a primeira confraria do concelho de Torres Novas foi criada em 1176 aqui mesmo, em Fungalvaz. Velhinha será então a povoação, ainda que não encontremos por aqui sinais visíveis dessa ancianidade.
E aqui vamos. Já deixámos o (des)povoado para trás e caminhamos, em caminho rural, serra acima. Pegamos à direita um atalho, buscando carreiros que, agora, já vamos inventando. Chegamos de novo ao caminho de terra batida num ponto em que houve povo se ajuntando, em tempo que guardará a memória, para, merendando, conviver na sã alegria do encontro bem estremenho. Ladeiam o caminho flores de cores e aromas diversos. O rosmaninho e os sargaços brancos dominam mas as maias, o tojo e a urze marcam em abundância a sua presença.
Aqui um outro ponto de convívio e churrascadas. Um pinheiro alto e de copa frondosa aliviará a inclemência do sol estival. Aguardam pinheiro, churrasqueira, bancos e mesa que tempos voltem com a algaraviada de crianças e adultos para preencher este silêncio. Não sei se por escutar meus pensamentos um rouxinol lembrou-me que existem outras melodias que convém escutar para deleite do nosso espírito. E ouço agora também o zumbido de muitas abelhas que nunca confinaram nem pausaram na sua tarefa. O voo errático das borboletas, levadas pela brisa, tremeluz o colorido das asas numa dança feita ao som certamente melodioso mas inaudível para ouvidos humanos. O caminho tem continuação num carreiro rubro ziguezagueante, que alguém batizou de “Trilho do Javali”. Fácil será que por aqui se encontrem pois as marcas da sua presença são incontáveis. As flores brancas, amarelas, rosas ou carmim continuam a ladear o caminho e as abelhas zumbem preenchendo o silêncio da serra.
O carreiro descarreirou junto à pedreira do Cabeço do Cão. Enormes blocos adormecidos na encosta tiveram a sorte dos enjeitados: não servem, ficam prá’i!...
Contornámos a pedreira a sul, entrámos em novo carreiro e agora caminhamos à sombra das carvalhas e dos carrascos. Passeamos deleitosos saboreando o ameno sussurro da mata quando, surpreendentemente, somos surpreendidos pela singeleza de um recanto de lazer onde não faltam bancos de paletes e um lar protegido para fazer fogo. Haverá por aqui gente que gosta de usufruir destes recantos que no meio da natureza foram “prantados”. Dói-me apenas a alma que se tenham trazido pneus velhos para os assentos dos baloiços que penduraram nas carvalhas. Continuamos carreirinho fora e acabamos de constatar que a utilização de pneus deve ser mania, porque o trilho aparece nomeado por registo feito sobre outro pneu: “Trilho dos Baloiços”.
À nossa frente ergue-se o talegre que marca o vértice geográfico. Por detrás dele, um baloiço. Naturalmente alguém o nomeou “Baloiço do Talegre”. Usufruímos da paisagem maravilhosa, que daqui se desfruta, embalados no suave baloiçar. Não tardámos muito e, por novo trilho começamos a descer a encosta. Uma vez mais inscreve-se o nome do trilho na lateral de um pneu: “Trilho Tranqilo”. A falta do “u” foi falha do artista ou do padrinho e é perdoável, já o pneu é imperdoável pelo mal que faz à natureza. A descida é acentuada e algo técnica. Faz-se devagar e com muito cuidado. Em dias de chuva será mesmo perigosa.
Chegámos ao plaino do vale e vamos em busca da Lapa da Furada que aparece com denominação e localização bem definidas no “mapcarta”. No entanto, a Junta de Freguesia de Alburitel referencia-a como Gruta da Lapa na Lapa do Casal Sodré. Alguém tentou vedar o acesso. Estará em terreno privado mas considerando que é um sítio interessante e que os terrenos à sua frente são paupérrimos, nada custava e seria simpático deixar que se utilizasse o pequeno carreiro que lhe dá acesso. Não senti culpa por invadir esta pequena propriedade, procurando nada danificar. Se designarmos “Lapa” como sendo a laje ou pedra que sobressai de um rochedo formando um abrigo sobre ela e “Gruta” como uma cavidade ou galeria subterrânea, aqui coexistem ambas. Não resisti e, vencendo a pequena abertura, entrei na gruta. Diz-se que aqui se abrigou o povo aquando das invasões francesas. Não custa a crer. O espaço cá dentro é amplo e parece-me que há outras galerias que se acedem por apertadas aberturas. Não tenho equipamento nem vim preparado. Fico por aqui, mais seria irresponsabilidade.
Voltámos um pouco atrás para iniciar a subida pelo “Trilho da Resistência”. Não sei o que motivou a designação que se expõe em plástica placa. Venha o diabo e escolha: pneu ou placa de plástico?... senhores, porque não utilizar um bocado tosco de madeira ou uma pedra lajeada que é coisa que não falta nesta serra.
Bem, seja como for um facto é que não se “resiste” à beleza deste trilho. Voltou o chilreio dos pássaros, o zumbido das abelhas, o voo das borboletas, o cheiro do rosmaninho e a beleza colorida de uma miríade de plantas diversas. É a natureza em verdadeira sinfonia.
Caminhamos já num outro trilho com nome: “Trilho do Ribeiro do Vale”. O vale é o “Vale Santo” e o ribeiro não o é porque água não leva e nem disso se deve lembrar. Mas será uma linha de água quando a chuva for suficiente para enxurrar vale abaixo. Nessa altura deixará de haver trilho porque este se confunde muitas vezes com o leito. É todavia um trilho lindíssimo com mais e mais diversificada vegetação, podendo mesmo dizer-se que de ripícola se trata.
O vale aperta agora em garganta e a encosta à nossa esquerda é talhada em arrife. A beleza pétrea destas formações calcárias causa em mim sentimentos tão ou mais fortes que a multitonalidade verde dos matos e florestas. São antagónicas mas ambas me levam a um estado meditativo intenso cujo objeto estará seguramente ligado à suavidade duns ou à rudeza dos outros.
Abre-se agora o vale em terrenos de cultivo. Uma oliveira multicentenária observa-nos com a mesma indiferença com que o fez a muitas gerações que por ela passaram sem lhe tocar. Quantas toneladas de azeitona terá produzido já?... quanta lenha terá dado ao aquecimento do agricultor?...
Sem por isso dar, já nos encontramos a subir a Rua da Escola. Aquela que deu o nome à rua é um edifício elegante de amplas janelas que iluminaram o conhecimento de muitas crianças. Hoje apresenta uma frente descuidada com a erva invadindo espaços outrora ajardinados.
Chego ao carro e fecho a torneira!... mais uma belíssima caminhada. Bem hajas, Senhor.
Subimos a Rua da Escola e começamos a pensar que o povo despovoou o povoado. Não se vê vivalma. O Cruzeiro colocado no entroncamento da rua da Escola com a dos Moinhos, ancião de idade incerta e irrevelada, na sua simplicidade arquitetónica parece esquecido e ignorado. Porquê e para que está aqui implantado?...
Subimos a rua dos Moinhos. Sem motivos de interesse à vista, vamos meditando no topónimo da povoação e na infrutífera busca feita para encontrar as suas origens. No Arquivo Histórico de Santarém existe documento que diz que a primeira confraria do concelho de Torres Novas foi criada em 1176 aqui mesmo, em Fungalvaz. Velhinha será então a povoação, ainda que não encontremos por aqui sinais visíveis dessa ancianidade.
E aqui vamos. Já deixámos o (des)povoado para trás e caminhamos, em caminho rural, serra acima. Pegamos à direita um atalho, buscando carreiros que, agora, já vamos inventando. Chegamos de novo ao caminho de terra batida num ponto em que houve povo se ajuntando, em tempo que guardará a memória, para, merendando, conviver na sã alegria do encontro bem estremenho. Ladeiam o caminho flores de cores e aromas diversos. O rosmaninho e os sargaços brancos dominam mas as maias, o tojo e a urze marcam em abundância a sua presença.
Aqui um outro ponto de convívio e churrascadas. Um pinheiro alto e de copa frondosa aliviará a inclemência do sol estival. Aguardam pinheiro, churrasqueira, bancos e mesa que tempos voltem com a algaraviada de crianças e adultos para preencher este silêncio. Não sei se por escutar meus pensamentos um rouxinol lembrou-me que existem outras melodias que convém escutar para deleite do nosso espírito. E ouço agora também o zumbido de muitas abelhas que nunca confinaram nem pausaram na sua tarefa. O voo errático das borboletas, levadas pela brisa, tremeluz o colorido das asas numa dança feita ao som certamente melodioso mas inaudível para ouvidos humanos. O caminho tem continuação num carreiro rubro ziguezagueante, que alguém batizou de “Trilho do Javali”. Fácil será que por aqui se encontrem pois as marcas da sua presença são incontáveis. As flores brancas, amarelas, rosas ou carmim continuam a ladear o caminho e as abelhas zumbem preenchendo o silêncio da serra.
O carreiro descarreirou junto à pedreira do Cabeço do Cão. Enormes blocos adormecidos na encosta tiveram a sorte dos enjeitados: não servem, ficam prá’i!...
Contornámos a pedreira a sul, entrámos em novo carreiro e agora caminhamos à sombra das carvalhas e dos carrascos. Passeamos deleitosos saboreando o ameno sussurro da mata quando, surpreendentemente, somos surpreendidos pela singeleza de um recanto de lazer onde não faltam bancos de paletes e um lar protegido para fazer fogo. Haverá por aqui gente que gosta de usufruir destes recantos que no meio da natureza foram “prantados”. Dói-me apenas a alma que se tenham trazido pneus velhos para os assentos dos baloiços que penduraram nas carvalhas. Continuamos carreirinho fora e acabamos de constatar que a utilização de pneus deve ser mania, porque o trilho aparece nomeado por registo feito sobre outro pneu: “Trilho dos Baloiços”.
À nossa frente ergue-se o talegre que marca o vértice geográfico. Por detrás dele, um baloiço. Naturalmente alguém o nomeou “Baloiço do Talegre”. Usufruímos da paisagem maravilhosa, que daqui se desfruta, embalados no suave baloiçar. Não tardámos muito e, por novo trilho começamos a descer a encosta. Uma vez mais inscreve-se o nome do trilho na lateral de um pneu: “Trilho Tranqilo”. A falta do “u” foi falha do artista ou do padrinho e é perdoável, já o pneu é imperdoável pelo mal que faz à natureza. A descida é acentuada e algo técnica. Faz-se devagar e com muito cuidado. Em dias de chuva será mesmo perigosa.
Chegámos ao plaino do vale e vamos em busca da Lapa da Furada que aparece com denominação e localização bem definidas no “mapcarta”. No entanto, a Junta de Freguesia de Alburitel referencia-a como Gruta da Lapa na Lapa do Casal Sodré. Alguém tentou vedar o acesso. Estará em terreno privado mas considerando que é um sítio interessante e que os terrenos à sua frente são paupérrimos, nada custava e seria simpático deixar que se utilizasse o pequeno carreiro que lhe dá acesso. Não senti culpa por invadir esta pequena propriedade, procurando nada danificar. Se designarmos “Lapa” como sendo a laje ou pedra que sobressai de um rochedo formando um abrigo sobre ela e “Gruta” como uma cavidade ou galeria subterrânea, aqui coexistem ambas. Não resisti e, vencendo a pequena abertura, entrei na gruta. Diz-se que aqui se abrigou o povo aquando das invasões francesas. Não custa a crer. O espaço cá dentro é amplo e parece-me que há outras galerias que se acedem por apertadas aberturas. Não tenho equipamento nem vim preparado. Fico por aqui, mais seria irresponsabilidade.
Voltámos um pouco atrás para iniciar a subida pelo “Trilho da Resistência”. Não sei o que motivou a designação que se expõe em plástica placa. Venha o diabo e escolha: pneu ou placa de plástico?... senhores, porque não utilizar um bocado tosco de madeira ou uma pedra lajeada que é coisa que não falta nesta serra.
Bem, seja como for um facto é que não se “resiste” à beleza deste trilho. Voltou o chilreio dos pássaros, o zumbido das abelhas, o voo das borboletas, o cheiro do rosmaninho e a beleza colorida de uma miríade de plantas diversas. É a natureza em verdadeira sinfonia.
Caminhamos já num outro trilho com nome: “Trilho do Ribeiro do Vale”. O vale é o “Vale Santo” e o ribeiro não o é porque água não leva e nem disso se deve lembrar. Mas será uma linha de água quando a chuva for suficiente para enxurrar vale abaixo. Nessa altura deixará de haver trilho porque este se confunde muitas vezes com o leito. É todavia um trilho lindíssimo com mais e mais diversificada vegetação, podendo mesmo dizer-se que de ripícola se trata.
O vale aperta agora em garganta e a encosta à nossa esquerda é talhada em arrife. A beleza pétrea destas formações calcárias causa em mim sentimentos tão ou mais fortes que a multitonalidade verde dos matos e florestas. São antagónicas mas ambas me levam a um estado meditativo intenso cujo objeto estará seguramente ligado à suavidade duns ou à rudeza dos outros.
Abre-se agora o vale em terrenos de cultivo. Uma oliveira multicentenária observa-nos com a mesma indiferença com que o fez a muitas gerações que por ela passaram sem lhe tocar. Quantas toneladas de azeitona terá produzido já?... quanta lenha terá dado ao aquecimento do agricultor?...
Sem por isso dar, já nos encontramos a subir a Rua da Escola. Aquela que deu o nome à rua é um edifício elegante de amplas janelas que iluminaram o conhecimento de muitas crianças. Hoje apresenta uma frente descuidada com a erva invadindo espaços outrora ajardinados.
Chego ao carro e fecho a torneira!... mais uma belíssima caminhada. Bem hajas, Senhor.
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Comments (3)
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Espectacularmente rica a descrição, honrando aqui o património histórico humano e ali o natural do Grande Autor.
Espectacularmente rica a descrição, honrando aqui o património histórico humano e ali o natural do Grande Autor.
Obrigado e um grande abraço.