:VM13: Via Mariana - Padrón ---} Osebe Casa Carolina
near Padrón, Galicia (España)
Viewed 647 times, downloaded 32 times
Trail photos
Itinerary description
nota prévia: o texto incorpora imagem e links só visíveis em browser e não na app wikiloc
VM13 - 14.5 Km - Padrón - Osebe / Casa Carolina
Havia um tic-tac que se ouvia no quarto, proveniente de um qualquer equipamento próximo, e a atmosfera estava carregada de humidade, a nossa roupa não secava, apenas formava nevoeiro naquele ambiente húmido. Dormi mal. Pela manhã o bar em baixo não abriu sabe-se lá porquê, felizmente havia outro ao lado, La Hacienda, onde em bom ambiente e bem atendidos, partilhamos uma torrada, dois frescos croissants e dois americanos por 5.50 euros. Da Pension Flavia não gostei...
Compramos fruta para o caminho na Plaza de Abastos, e depois fizemos a sacramental visita à igreja de Santiago. A Credencial da Via Mariana é exígua, não carimbamos, guardamos o quadradinho para a outra sacramental visita: a Igrexa de Santa María a Maior de Iria Flavia, ponto chave da epopeia Jacobeia.
Estamos no local de um dos primeiros templos Marianos do Mundo. Poderá ter existido aqui algo no tempo de Tiago, já que alguma tradição situa neste local uma aparição da Virgem ainda na sua existência carnal, que teria vindo alentar Tiago a continuar a sua pregação, tal como na história de Saragoça. E o certo é que no séc. VI já há prova documental de que aqui estava a sede Episcopal. Com a passagem definitiva da mitra para Santiago no séc XII, o grande bispo Xelmirez declara Iria Flavia como "colexiata", e assim se manteve até ao séc XIX, quando passou a Paróquia Maior.
Ao lado, o cemitério de Adina, onde tantas vezes já passei e sempre vi senhoras a cuidar de campas, a limpar, a colocar flores. Um local de paz e contemplação, onde chegou inicialmente a estar sepultada Rosália de Castro, a fundadora da literatura Galega moderna.
É um local carregado de história que se sente em cada pedra, embora poucas das actuais tenham presenciado as glórias da Idade Média. Encontram-se aqui sepulturas datadas de entre os séculos VI e X, inseridos numa necrópole cristã da época romana tardía e sueva.
O simiterio da Adina
n’hai duda de que é encantador,
cos seus olivos escuros
de vella recordazón;
co seu chan de herbas e frores
lindas, cal n’outras dou Dios;
cos seus canónegos vellos
que nel se sentan ó sol;
cos meniños que alí xogan
contentos e rebuldós;
cas lousas brancas que o cruben,
e cos húmedos montós
de terra, onde algunha probe
ó amañecer se enterrou.
Moito te quixen un tempo,
simiterio encantador,
cos teus olivos escuros,
máis vellos que os meus avós;
cos teus cregos venerables,
que se iban sentar ó sol,
mentras cantaban os páxaros
as matutinas cancións,
e co teu osario humilde
que tanto respeto impón
cando da luz que nel arde
ve un de noite o resprandor.
Moito te quixen, e quérote,
eso ben o sabe Dios;
mas hoxe ó pensar en ti
núbraseme o corazón:
que a terra está removida,
negra e sin frols…
Rosália de Castro, ¡Padrón…! ¡Padrón…!, poema II (de três)
O tempo está a aquecer, vou tirando roupa, mas acabamos por parar na cafetaria do Hotel Scala para fazer trocas de vestuário, completadas com um café.
O ponto seguinte que é também paragem obrigatória neste troço do Caminho de Santiago é a Esclavitude, ou Escravitude, em galego. Um templo que perpetua uma história singela, um agradecimento à Virgem, mais um santuário Mariano na nossa viagem.
O Santuário tem origem em testemunhos de fé e de reconhecimento de graças recebidas, que se passam com alguns séculos de intervalo. O primeiro ocorreu em 1582 quando o reitor da paróquia (Cruces), Juan Pérez Mondragón, escapou milagrosamente à morte, esmagado por uma árvore. Foi ele que em sinal de agradecimento mandou fazer uma imagem da Virgem com o Menino, que ficou a encimar uma fonte que ali havia (sempre a água purificadora nestas estórias cristãs... e não só) e que passou a chamar-se Fonte Santa.
Muito mais tarde, em 1732, um homem que sofria de hidropisia ia a caminho do Hospital de Santiago, com mulher e filha, parou e bebeu água da Fonte, pedindo ajuda à Virgem para o seu terrível mal. Curou-se em 3 dias.
Maravilhado, o piedoso crente agradeceu à Virgem por o ter curado da sua "escravidão" e doou o carro e os bois que os transportavam. Assim surgiu o nome do Santuário que acabou por ali nascer, construído com as doações dos que começaram a acorrer em massa junto da Virgem da Escravidão .
E esta, a Escravitude, foi a verdadeira razão de eu haver planeado para hoje uma etapa tão curta, que mais curta ficou por não termos podido dormir em Herbón. É que em tantas passagens pela Esclavitud, nunca consegui ver a igreja por dentro. Pareceu-me então que poderia assistir ao culto e não só conhecer o templo por dentro como vivenciar essa fé que levou à sua existência. Durante o planeamento tinha consultado os horários das missas, pareceu-me que teria uma às 19h... portanto havia que dormir por ali perto. Mas já em Padrón constatei que esse horário tinha sido suprimido, não era mencionado em lado algum. E, chegados ao templo, nem horários vimos afixados.
Fizemos algumas fotos, e seguimos para outro ponto já velho na nossa colecção: A Milagrosa. Entramos e pedimos combinados de ovos estrelados, que com cañas e cafés ficaram por 18.50 euros.
Daí foi só fazer mais um pouco de caminho, nem uma hora, para chegar à propriedade que pela manhã tinha marcado via Booking: a Casa Carolina, em Osebe.
Em boa hora a escolhi, foi uma experiência que não esqueceremos. Boas instalações, tudo muito limpo e confortável, e a inexcedível atenção e simpatia da Carolina, que ali nos fez sentir em família.
- Jantar e pequeno almoço? não há problema!
"eu sei que os peregrinos no final das etapas não tem grande vontade de voltar lá para fora para procurar onde comer. Por isso se quiserem, posso arranjar."
Nem discutimos. Chovia. Aceitamos logo, escolhemos uma pizza de anchova, que ela fez durante a tarde, incluíndo a massa, acompanhada de uma abundante e saborosa salada mista - tudo regado por um bom tinto (que não estava gelado, à maneira espanhola 🙂 ).
E como se não bastasse a boa confecção do jantar, a Carolina fez-nos companhia, fomos conversando com ela sobre as nossas aventuras. Um bom momento.
Aproveitamos para lavar e secar roupa, que com estes dias de chuva não dá apara lavar à mão e secar na corda. O total destes serviços adicionais, comer e roupa, foi de 24 euros.
Links para as restantes etapas:
VM00 - 08.2 Km Sameiro - Braga Albergue Casa da Roda (+ texto introdutório)
VM01 - 21.1 Km Braga - S. Pedro de Goães Albergue (+ links úteis)
VM02 - 31.6 Km S. Pedro de Goães - Ponte da Barca Pensão Gomes (+ notas sobre esta série de trilhos)
VM03 - 23.4 Km Ponte da Barca - Soajo
VM04 - 16.6 Km Soajo - Sra. da Peneda Casa Penedino
VM05 - 26.0 Km Sra. da Peneda - Melgaço D. Isabel
VM06 - 17.3 Km Melgaço - Santiago de Parada de Achas Albergue (O Feirón)
VM07 - 21.5 Km Santiago de Parada de Achas - Santiago de Covelo Casa Costa
VM08 - 24.7 Km Covelo - Estacas Casa Rural D'Agosto
VM09 - 25.7 Km Estacas - Cotobade Casa Rural O Bergando
VM10 - 19.6 Km Cotobade - Campo Lameiro Vivenda Turística Eladio
VM11 - 22.2 Km Campo Lameiro - Cuntis Pensión A Fontiña
VM12 - 22.2 Km Cuntis - Padrón Pensión Flavia
VM13 - 14.5 Km Padrón - Osebe Casa Carolina
VM14 - 14.7 Km Osebe - Santiago de Compostela Hostal La Salle
VM15 - 22.1 Km Santiago de Compostela - Negreira Albergue Alecrín
VM16 - 32.0 Km Negreira - Brandoñas Campamento Turístico Brandoñas
VM17 - 16.9 Km Brandoñas - Berdoias Albergue Via Mariana
VM18 - 19.0 Km Berdoias - Muxía Albergue Bela Muxia
VM global - 389 Km Sameiro - Muxía
Mapa Global da Via Mariana
VM13 - 14.5 Km - Padrón - Osebe / Casa Carolina
Havia um tic-tac que se ouvia no quarto, proveniente de um qualquer equipamento próximo, e a atmosfera estava carregada de humidade, a nossa roupa não secava, apenas formava nevoeiro naquele ambiente húmido. Dormi mal. Pela manhã o bar em baixo não abriu sabe-se lá porquê, felizmente havia outro ao lado, La Hacienda, onde em bom ambiente e bem atendidos, partilhamos uma torrada, dois frescos croissants e dois americanos por 5.50 euros. Da Pension Flavia não gostei...
Compramos fruta para o caminho na Plaza de Abastos, e depois fizemos a sacramental visita à igreja de Santiago. A Credencial da Via Mariana é exígua, não carimbamos, guardamos o quadradinho para a outra sacramental visita: a Igrexa de Santa María a Maior de Iria Flavia, ponto chave da epopeia Jacobeia.
Estamos no local de um dos primeiros templos Marianos do Mundo. Poderá ter existido aqui algo no tempo de Tiago, já que alguma tradição situa neste local uma aparição da Virgem ainda na sua existência carnal, que teria vindo alentar Tiago a continuar a sua pregação, tal como na história de Saragoça. E o certo é que no séc. VI já há prova documental de que aqui estava a sede Episcopal. Com a passagem definitiva da mitra para Santiago no séc XII, o grande bispo Xelmirez declara Iria Flavia como "colexiata", e assim se manteve até ao séc XIX, quando passou a Paróquia Maior.
Ao lado, o cemitério de Adina, onde tantas vezes já passei e sempre vi senhoras a cuidar de campas, a limpar, a colocar flores. Um local de paz e contemplação, onde chegou inicialmente a estar sepultada Rosália de Castro, a fundadora da literatura Galega moderna.
É um local carregado de história que se sente em cada pedra, embora poucas das actuais tenham presenciado as glórias da Idade Média. Encontram-se aqui sepulturas datadas de entre os séculos VI e X, inseridos numa necrópole cristã da época romana tardía e sueva.
O simiterio da Adina
n’hai duda de que é encantador,
cos seus olivos escuros
de vella recordazón;
co seu chan de herbas e frores
lindas, cal n’outras dou Dios;
cos seus canónegos vellos
que nel se sentan ó sol;
cos meniños que alí xogan
contentos e rebuldós;
cas lousas brancas que o cruben,
e cos húmedos montós
de terra, onde algunha probe
ó amañecer se enterrou.
Moito te quixen un tempo,
simiterio encantador,
cos teus olivos escuros,
máis vellos que os meus avós;
cos teus cregos venerables,
que se iban sentar ó sol,
mentras cantaban os páxaros
as matutinas cancións,
e co teu osario humilde
que tanto respeto impón
cando da luz que nel arde
ve un de noite o resprandor.
Moito te quixen, e quérote,
eso ben o sabe Dios;
mas hoxe ó pensar en ti
núbraseme o corazón:
que a terra está removida,
negra e sin frols…
Rosália de Castro, ¡Padrón…! ¡Padrón…!, poema II (de três)
O tempo está a aquecer, vou tirando roupa, mas acabamos por parar na cafetaria do Hotel Scala para fazer trocas de vestuário, completadas com um café.
O ponto seguinte que é também paragem obrigatória neste troço do Caminho de Santiago é a Esclavitude, ou Escravitude, em galego. Um templo que perpetua uma história singela, um agradecimento à Virgem, mais um santuário Mariano na nossa viagem.
O Santuário tem origem em testemunhos de fé e de reconhecimento de graças recebidas, que se passam com alguns séculos de intervalo. O primeiro ocorreu em 1582 quando o reitor da paróquia (Cruces), Juan Pérez Mondragón, escapou milagrosamente à morte, esmagado por uma árvore. Foi ele que em sinal de agradecimento mandou fazer uma imagem da Virgem com o Menino, que ficou a encimar uma fonte que ali havia (sempre a água purificadora nestas estórias cristãs... e não só) e que passou a chamar-se Fonte Santa.
Muito mais tarde, em 1732, um homem que sofria de hidropisia ia a caminho do Hospital de Santiago, com mulher e filha, parou e bebeu água da Fonte, pedindo ajuda à Virgem para o seu terrível mal. Curou-se em 3 dias.
Maravilhado, o piedoso crente agradeceu à Virgem por o ter curado da sua "escravidão" e doou o carro e os bois que os transportavam. Assim surgiu o nome do Santuário que acabou por ali nascer, construído com as doações dos que começaram a acorrer em massa junto da Virgem da Escravidão .
E esta, a Escravitude, foi a verdadeira razão de eu haver planeado para hoje uma etapa tão curta, que mais curta ficou por não termos podido dormir em Herbón. É que em tantas passagens pela Esclavitud, nunca consegui ver a igreja por dentro. Pareceu-me então que poderia assistir ao culto e não só conhecer o templo por dentro como vivenciar essa fé que levou à sua existência. Durante o planeamento tinha consultado os horários das missas, pareceu-me que teria uma às 19h... portanto havia que dormir por ali perto. Mas já em Padrón constatei que esse horário tinha sido suprimido, não era mencionado em lado algum. E, chegados ao templo, nem horários vimos afixados.
Fizemos algumas fotos, e seguimos para outro ponto já velho na nossa colecção: A Milagrosa. Entramos e pedimos combinados de ovos estrelados, que com cañas e cafés ficaram por 18.50 euros.
Daí foi só fazer mais um pouco de caminho, nem uma hora, para chegar à propriedade que pela manhã tinha marcado via Booking: a Casa Carolina, em Osebe.
Em boa hora a escolhi, foi uma experiência que não esqueceremos. Boas instalações, tudo muito limpo e confortável, e a inexcedível atenção e simpatia da Carolina, que ali nos fez sentir em família.
- Jantar e pequeno almoço? não há problema!
"eu sei que os peregrinos no final das etapas não tem grande vontade de voltar lá para fora para procurar onde comer. Por isso se quiserem, posso arranjar."
Nem discutimos. Chovia. Aceitamos logo, escolhemos uma pizza de anchova, que ela fez durante a tarde, incluíndo a massa, acompanhada de uma abundante e saborosa salada mista - tudo regado por um bom tinto (que não estava gelado, à maneira espanhola 🙂 ).
E como se não bastasse a boa confecção do jantar, a Carolina fez-nos companhia, fomos conversando com ela sobre as nossas aventuras. Um bom momento.
Aproveitamos para lavar e secar roupa, que com estes dias de chuva não dá apara lavar à mão e secar na corda. O total destes serviços adicionais, comer e roupa, foi de 24 euros.
Links para as restantes etapas:
VM00 - 08.2 Km Sameiro - Braga Albergue Casa da Roda (+ texto introdutório)
VM01 - 21.1 Km Braga - S. Pedro de Goães Albergue (+ links úteis)
VM02 - 31.6 Km S. Pedro de Goães - Ponte da Barca Pensão Gomes (+ notas sobre esta série de trilhos)
VM03 - 23.4 Km Ponte da Barca - Soajo
VM04 - 16.6 Km Soajo - Sra. da Peneda Casa Penedino
VM05 - 26.0 Km Sra. da Peneda - Melgaço D. Isabel
VM06 - 17.3 Km Melgaço - Santiago de Parada de Achas Albergue (O Feirón)
VM07 - 21.5 Km Santiago de Parada de Achas - Santiago de Covelo Casa Costa
VM08 - 24.7 Km Covelo - Estacas Casa Rural D'Agosto
VM09 - 25.7 Km Estacas - Cotobade Casa Rural O Bergando
VM10 - 19.6 Km Cotobade - Campo Lameiro Vivenda Turística Eladio
VM11 - 22.2 Km Campo Lameiro - Cuntis Pensión A Fontiña
VM12 - 22.2 Km Cuntis - Padrón Pensión Flavia
VM13 - 14.5 Km Padrón - Osebe Casa Carolina
VM14 - 14.7 Km Osebe - Santiago de Compostela Hostal La Salle
VM15 - 22.1 Km Santiago de Compostela - Negreira Albergue Alecrín
VM16 - 32.0 Km Negreira - Brandoñas Campamento Turístico Brandoñas
VM17 - 16.9 Km Brandoñas - Berdoias Albergue Via Mariana
VM18 - 19.0 Km Berdoias - Muxía Albergue Bela Muxia
VM global - 389 Km Sameiro - Muxía
Mapa Global da Via Mariana
Waypoints
Picnic
16 ft
Bancos
Provisioning
92 ft
Bar
Provisioning
54 ft
Cafetaria do Hotel Scala
Religious site
125 ft
Cruzeiro e banco
Fountain
128 ft
Fonte e tanque coberto
Religious site
25 ft
Igrexa de Santa María a Maior de Iria Flavia
Iria Flavia
Provisioning
85 ft
Minimercado
Bus stop
61 ft
Paragem de bus coberta
Bus stop
30 ft
Paragem de bus coberta
Mountain hut
14 ft
Pensión Flavia
Provisioning
0 ft
Plaza de Abastos
Fountain
39 ft
Tanque coberto
Comments (2)
You can add a comment or review this trail
Boa Caminhada para os dois que tudo corra bem que Deus vos acompanhe e vos livre deste novo virus que nós estamos a lutar para não o encontramos no caminho
Obrigado, lekichad, saúde!